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Chefe de notícias da BBC renuncia em meio à crise na emissora

 Neil Hall / Reuters
Imagem: Neil Hall / Reuters

12/11/2012 13h35

Por Kate Holton e Guy Faulconbridge

LONDRES, 12 Nov (Reuters) - A chefe de notícias da British Broadcasting Corporation (BBC) renunciou nesta segunda-feira depois que um programa acusando falsamente um ex-político de abuso de crianças provocou uma das piores crises dos 90 anos de história da emissora pública.

A BBC foi abalada por dois programas de notícias, um que falsamente acusou o político, que foi transmitido na semana passada, e outro que alegou abuso sexual de crianças por um ex-apresentador, o falecido Jimmy Savile, mas que não foi ao ar.

O caso, que levantou questões sobre ética, competência e gestão na BBC, custou o cargo do diretor-geral, George Entwistle, e levou seu presidente a avisar que a maior emissora do mundo estava condenada a menos que fosse reformada.

Helen Boaden, diretora da BBC News, e seu vice Stephen Mitchell, renunciaram no aguardo de uma revisão de por que editores fizeram a reportagem do ano passado sobre Savile, que foi acusado de abusar de crianças em instalações da BBC.

Alguns funcionários da BBC consideraram a corporação de 22.000 funcionários como um mastodonte burocrático onde o talento jornalístico é estrangulado por gestores incompetentes, e os concorrentes --e até mesmo alguns aliados-- questionaram se a rede poderia sobreviver em sua forma atual.

"Tudo está em jogo e eu acho que isso está se tornando uma ameaça existencial para a BBC, não apenas em termos do futuro da corporação em sua forma atual, mas em termos do conceito de serviço público de radiodifusão como um todo", disse uma fonte próxima do funcionamento interno da BBC.

"Eles estão cada vez mais ficando sem opções, já perderam metade dos gerentes", disse a fonte, que pediu anonimato devido à gravidade da situação.

Entwistle renunciou ao cargo de diretor-geral no sábado, apenas dois meses após assumir o cargo, para assumir a responsabilidade pela reportagem que erroneamente disse que uma figura conservadora não identificada da época da primeira-ministra Margaret Thatcher havia estuprado meninos que estavam sob assistência social.

Mas o homem, mais tarde identificado na Internet como o Lord Alistair McAlpine, negou veementemente a acusação e seu advogado ameaçou uma ação legal contra o Newsnight, o programa da BBC de assuntos correntes que transmitiu as alegações equivocadas.

A BBC pediu desculpas pela reportagem, que disse ter sido jornalismo de má qualidade e errado. A vítima de abuso, que foi a fonte da acusação, disse que foi um caso de confusão de identidade e também se desculpou com McAlpine.

A saída de Entwistle não conseguiu esfriar a crise: o governo afirmou que era difícil justificar a sua compensação de um ano de salário de 450.000 libras (715.900 dólares) de uma organização financiada por uma taxa anual de 145,50 libras sobre domicílios com televisão.

Os espectadores expressaram raiva com a compensação. "Estou chateado, eles erraram. Acabei de pagar a minha taxa de licença, e eles vão e compensam esse cara com uma remuneração enorme", disse Patrick Daguiar, 49, na Estação Liverpool Street de Londres.

Funcionários da BBC afirmam que a maneira ruim como a empresa tratou as acusações de abuso contra Savile, um DJ que virou estrela de televisão e que é suspeito de abusar sexualmente de dezenas de crianças, e a reportagem falha do Newsnight mostravam que a emissora tinha se afastado de suas raízes.

Incomodado tanto com o mercantilismo das rádios norte-americanas e dos controles estatais impostos na União Soviética, o fundador da BBC, John Reith, tinha planejado a BBC para educar, informar e entreter quando ela foi fundada em 1922.

Mas funcionários da emissora afirmam que a burocracia tinha aumentado nos últimos anos, inclusive sob o comando do antecessor de Entwistle, Mark Thompson, que está prestes a se tornar presidente-executivo do New York Times nesta segunda-feira. Thompson foi chefe da BBC de 2004 a 2012.