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Restaurada, polêmica "Lázaro" de Caravaggio é exibida em Roma; veja antes e depois

Obra de Caravaggio, "A Ressurreição de Lázaro", antes e depois da restauração - REUTERS/Handout
Obra de Caravaggio, "A Ressurreição de Lázaro", antes e depois da restauração Imagem: REUTERS/Handout

Philip Pullella

Roma

15/06/2012 12h56

A "Ressurreição de Lázaro", de Caravaggio, uma das pinturas mais assustadoramente belas do mestre de estilo claro-escuro que viveu entre os séculos 16 e 17, foi restaurada pela primeira vez em 60 anos. 

A pintura foi feita por Caravaggio, na Sicília, para onde ele fugiu de Malta em 1608. Ela ficou abrigada durante séculos na Igreja dos Padres Crociferi em Messina, antes de ser transferida para o museu daquela cidade.

A pintura, que acredita-se ter sido feita em 1609 -- um ano antes da morte do artista aos 38 anos de idade --, retrata a história do Evangelho de São João, em que Jesus ressuscita Lázaro dentre os mortos.

A restauração levou sete meses e a pintura, medindo 3,80 por 2,75 metros, estará em exposição no Palazzo Braschi de Roma, com vista para a Piazza Navona, até 15 de julho. Depois disso ela voltará para a Sicília.

  • Detalhe da obra "A Ressurreição de Lázaro" restaurada

Segundo a lenda, Caravaggio, cujo nome verdadeiro era Michelangelo Merisi, exumou um corpo recém-enterrado para fazer a pintura mais realista. A pintura mostra o instante em que Cristo aponta para Lázaro morto, que está sendo segurado nos braços daqueles que o exumaram, para trazer seu amigo de volta à vida.

Enquanto o braço esquerdo de Lázaro está mole como se ainda estivesse morto, seu braço direito está ligeiramente elevado, como se para receber a energia que dá a vida do dedo indicador de Jesus. As irmãs de Lázaro, Maria e Marta, uma em um véu transparente, ainda estão chorando por ele, não percebendo que ele estava voltando à vida.

O fundo da pintura é em grande parte escuro, o que os historiadores da arte dizem que foi, provavelmente, porque Caravaggio estava com pressa para completar a comissão que ele havia recebido de um comerciante rico para pintá-la.

"Durante este período de sua vida, Caravaggio foi forçado a terminar suas pinturas muito rapidamente e, portanto, foi aperfeiçoando sua técnica a fim de alcançar este objetivo", disse a restauradora Anna Maria Marcone.

 

"Ele usou materiais locais e usou o fundo escuro, a fim de rapidamente fazer as figuras", acrescentou ela em entrevista coletiva. A pintura foi feita em seis peças de tela - cinco verticais e uma horizontal - que foram costuradas juntas para alcançar o tamanho desejado.

Marcone disse que a parte mais difícil da restauração foi reparar alguns dos danos causados por aquilo que se acreditava ter sido a primeira restauração da obra, em 1670, cerca de 60 anos após ter sido pintada.

Segundo a lenda, o primeiro restaurador, Andrea Suppa, removeu parte das tintas durante a limpeza e tornou-se alvo de críticas pelo povo de Messina. Eles foram tão duros em sua condenação, que acredita-se que Suppa tenha morrido de coração partido.

A pintura, entretanto, é uma sobrevivente -passou incólume pelo grande terremoto de Messina de 1908, que matou mais de 200.000 pessoas e destruiu milhares de edifícios na Sicília e na Calábria. Uma exposição sobre o artista e seus seguidores chega à São Paulo em julho.