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Poeta sírio conta em evento o custo de se opor à família Assad

13/06/2012 20h31

HAY-ON-WYE, Grã-Bretanha, 13 Jun (Reuters) - A filha do poeta sírio Faraj Bayrakdar tinha apenas três anos quando ele foi preso por seu ativismo político, em 1987. Quando ele foi solto por uma anistia presidencial, a menina já estava na faculdade.

Enquanto a comunidade internacional continua às voltas com a escalada da violência na Síria, que um dirigente da ONU qualificou de guerra civil, Bayrakdar detalhou o custo pessoal de se opor ao regime da família Assad, em conferência no principal festival literário da Grã-Bretanha, na localidade galesa de Hay-on-Wye.

"Essa foi a maior dor que eu já experimentei", disse Bayrakdar no fim de semana. Foi também a razão pela qual ele, com relutância, optou por se exilar na Suécia.

Ele disse que sua experiência com o governo sírio, atualmente comandado por Bashar al-Assad, que sucedeu em 2000 seu pai, Hafez, o deixou muito preocupado quando a atual rebelião começou.

"Não me surpreendi por ver que o regime sírio era tão cruel e atirava nas pessoas. Mas fiquei realmente surpreso por a população aderir do começo ao fim."

Segundo ele, o povo sírio é "grato" pelo apoio dos governos europeus. "Mas acho que a Europa poderia fazer mais ... para apoiar a sociedade civil, para apoiar o povo sírio."

Bayrakdar, nascido em 1951 na cidade de Homs, passou sete anos preso sem acusação formal a partir de 1987, sob a suspeita de ser membro de um partido comunista. Em 1993, foi sentenciado a 15 anos de cadeia. No cárcere, escreveu poesias que eram contrabandeadas para fora do país.

Em Hay, ele leu um poema chamado "Espelhos da Ausência", escrito entre 1997 e 2000 numa prisão próxima a Damasco. Ele disse que, na Síria, parentes dos presos são relutantes em falar sobre a prisão. Em vez disso, sua mãe dizia simplesmente que ele estava "ausente", e todos entendiam o que ela queria dizer.

Bayrakdar foi solto em 2000, e em 2003 se mudou para Leiden (Holanda), onde lecionou árabe, antes de voltar à Síria. Em 2005, aceitou um convite para passar uma temporada como escritor convidado em Estocolmo, onde ainda vive.

Na época, ele tinha um filho de dois anos e temia ser preso por assinar uma declaração pedindo a normalização das relações entre a Síria e o vizinho Líbano, e por isso preferiu ficar na Suécia.

(Reportagem de Nigel Stephenson)