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OBITUÁRIO-Fuentes, um dos autores latinos mais lidos do mundo

 Henry Romero / Reuters
Imagem: Henry Romero / Reuters

15/05/2012 18h31

CIDADE DO MÉXICO, 15 Mai (Reuters) - O escritor mexicano Carlos Fuentes, um dos autores latino-americanos mais lidos no mundo com uma vasta obra de romances, contos, roteiros cinematográficos e ensaios, morreu nesta terça-feira aos 83 anos devido a uma hemorragia interna.

Fuentes, nascido no Panamá em 1928, passou sua infância percorrendo a América Latina e os Estados Unidos seguindo a carreira diplomática de seu pai, até que se estabeleceu no México durante sua adolescência, onde estudou Direito. Posteriormente, estudou Economia na Suíça.

Em 1954, ele publicou seu primeiro romance, "Os Dias Mascarados", dando início a uma obra literária carregada de paisagem mexicana através de seu olho crítico e sua narrativa.

Com "A Região Mais Transparente" (1958) e "A Morte de Artemio Cruz" (1962), duas de suas obras mais conhecidas, Fuentes conseguiu se projetar como um dos principais criadores do romance latino-americano.

Segundo uma cronologia escrita por ele mesmo, começou na leitura desde criança com Edmundo de Amicis e Mark Twain, para logo conhecer Alejandro Dumas, Pablo Neruda e Jorge Luis Borges, entre outros. Em 1944, leu "El Quijote" e desde então voltou a visitá-lo a cada ano, disse.

Seu prolífico trabalho literário foi traduzido em 24 idiomas. Fuentes organizou sua própria obra sob o título "A Idade do Tempo".

Em um episódio curioso, sua obra "Aura" (1962) ganhou popularidade no México quase 40 anos depois de sua publicação, quando um conservador ministro do Trabalho proibiu que sua filha adolescente lesse o livro por narrar uma cena erótica.

A polêmica aumentou a demanda por "Aura" em meio a manifestações intelectuais em defesa da cultura.

ATIVISTA

Em um de seus romances mais recentes, "A Cadeira da Águia" (2002), Fuentes recorre à literatura epistolar para descrever de perto as manobras políticas ao redor de uma sucessão presidencial no México e as perversões do poder.

Mas também estendeu suas críticas fora do país, como "A Fronteira de Cristal", que fala dos mexicanos que migram ilegalmente aos Estados Unidos em busca de emprego.

As opiniões de Fuentes eram comumente destacadas na imprensa nacional e internacional, em entrevistas concedidas aos meios de comunicação ou em seus artigos jornalísticos.

Suas inquietudes políticas afloraram na juventude. Quando esteve radicado no Chile, durante a Segunda Guerra Mundial, participou em protestos de rua e, depois, ao voltar aos estudos em Washington, conviveu com alunos judeus alemães exilados.

Com o triunfo da revolução cubana de Fidel Castro enquanto Fuentes morava no México, o escritor viajou de imediato à ilha caribenha em apoio a esse governo.

O autor, que foi embaixador do México na França (1972-1976) e professor em várias universidades norte-americanas e europeias, colaborou também com o Prêmio Nobel de Literatura de 1988, Octavio Paz, na Revista Mexicana de Literatura.

Fuentes tornou-se diplomata seguindo os passos do pai, mas se viu obrigado a deixar a embaixada em Paris depois de criticar abertamente o então hegemônico Partido Revolucionário Instituicional (PRI), que governou o México de 1929 a 2000.

Entre os prêmios que recebeu estão o Nacional de Literatura no México (1984), o Prêmio Cervantes (1987) e o Príncipe de Asturias (1994).