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Tabloides britânicos perderam limites, dizem depoentes

21/11/2011 19h21

Por Kate Holton e Alessandra Prentice

LONDRES (Reuters) - Os jornalistas dos tabloides britânicos perderam nos últimos anos a noção do que é certo e errado na corrida pelas manchetes, passaram a se considerar intocáveis e fizeram com que algumas personalidades ficassem com medo de sair de casa, disseram depoentes em uma audiência pública.

Por ordem do governo, a Justiça iniciou um inquérito sobre o trabalho da imprensa por causa da revelação, ocorrida neste ano, de que o extinto tabloide News of the World espionou centenas de pessoas na Grã-Bretanha.

Entre as pessoas que depuseram na segunda-feira estavam a família de uma vítima de homicídio, um advogado e o ator Hugh Grant, que contou que, se alguma vez ligasse para a polícia avisando de um crime, um fotógrafo chegaria antes à porta da sua casa.

Ele relatou que, para evitar o assédio a uma namorada, ele chegou a estar ausente do nascimento da filha, e que namoradas anteriores ficavam aterrorizadas por serem perseguidas por paparazzi.

"É claro que uma imprensa livre é uma pedra de toque da democracia", disse Grant ao plenário lotado de um tribunal em Londres. "Só acho que há uma ala na nossa imprensa que se tornou tóxica nos últimos 20 ou 30 anos. Sua principal tática é o assédio, a intimidação e a chantagem. E acho que é hora de o país encontrar coragem para se contrapor a esse valentão agora."

Nos últimos meses, os pais de Milly Dowler, adolescente que teve sua caixa postal telefônica espionada após ser assassinada, se tornaram figuras centrais no debate sobre as práticas jornalísticas, aparecendo ao lado de astros de Hollywood e de outras celebridades que também se dizem perseguidas.

Na audiência, o casal Dowler descreveu em minúcias como tiveram de lidar com o desaparecimento da filha, enquanto jornalistas se escondiam no jardim da família e fotógrafos flagravam os momentos mais dolorosos da sua intimidade.

"Eu senti como uma intrusão em uma dor realmente muito particular", afirmou Sally Dowler.

Diante de uma plateia em silêncio, ela contou como, durante a busca pela filha, percebeu repentinamente que as mensagens na caixa postal de Milly estavam sendo apagadas - levando-a a ter uma falsa esperança de que a garota estaria viva.

Bob Dowler disse que a família se sentia acossada e com medo de sair de casa.

Em sua defesa, os jornalistas dizem que se empenham em expor uma situação de hipocrisia, na qual personalidades ganham a vida expondo uma imagem impecável. Grant imediatamente rejeitou essa tese, e o advogado Graham Shear, famoso por defender artistas e jogadores de futebol, também contestou essa ideia.

Para Shear, as revelações dos últimos meses é que são "o máximo em termos de hipocrisia".

Grant disse que nenhum interesse público justificaria uma investigação sobre a sua vida privada.

"Eu nunca tive um bom nome, e isso não fez diferença absolutamente nenhuma", afirmou o ator. "Sou o homem que foi preso com uma prostituta, e o filme ainda assim rendeu toneladas de dinheiro", acrescentou, referindo-se a um célebre incidente ocorrido em 1995.