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Exposição do cartunista Sempé mostra telhados de Paris vistos do alto

Obra do cartunista Jean-Jacques Sempé - EFE
Obra do cartunista Jean-Jacques Sempé Imagem: EFE

25/10/2011 15h28

PARIS (Reuters) - Desde seu apartamento em Paris, o cartunista Jean-Jacques Sempé olha para os telhados da cidade. É um lugar apropriado para um homem que prefere olhar para o mundo desde o alto.

Mas, como revela uma nova mostra de sua obra em Paris, são os detalhes de close-up de seus desenhos, o tipo de coisa que se leva um momento para observar, que captam a essência de seus temas e ironizam a vaidade da natureza humana.

Aos 79 anos, Sempé é conhecido na França e fora do país por seu personagem irreverente dos anos 1950 "Le Petit Nicholas" (O Pequeno Nicolau), criado em conjunto com René Goscinny, autor de "Astérix".

Mas são suas paisagens urbanas panorâmicas, desenhadas desde um ponto elevado e com um toque suavemente irônico, que fizeram sua reputação internacional, fazendo dele presença regular nas capas da New Yorker, da Paris Match e do L'Express.

Em um desenho, o espectador olha para uma esquina parisiense típica - um edifício grandioso do século 19, com café no térreo, completo com toldo sobre a rua.

Mas, à medida que o olhar vai descendo, chega a dois ônibus que colidiram na rua, e, na linha de baixo do desenho, às cabeças agitadas de dezenas de passageiros irados que desceram dos veículos para discutir de quem foi a culpa do acidente.

A cena revela muito sobre um país onde ser "do contra" é quase um esporte nacional. Mas a visão desde o alto deixa você sorrindo diante da inutilidade de tudo isso.

"O trabalho de Sempé nos lembra sempre da condição humana", disse Marc Lecarpentier, curador de "Un peu de Paris et d'ailleurs" (Um pouco de Paris e alhures), retrospectiva da carreira de seis décadas do artista francês, que abriu na sexta-feira na sede da prefeitura parisiense.

"Somos todos tão pequenos. Tentamos nos impor, ou somos vaidosos. Sempé vem nos lembrar que vamos todos morrer algum dia, então mais vale olhar para o lado positivo das coisas, em lugar de sermos mesquinhos", disse o curador à Reuters.

A mostra, que ficará até 11 de fevereiro, inclui 300 desenhos originais da carreira de Sempé, que já produziu milhares de cartuns e mais de 40 álbuns traduzidos para 25 idiomas.

Em um de seus cartuns de temática americana, o espectador vê um horizonte urbano impressionante de grandes edifícios residenciais sob uma linda lua cheia.

Mas, ao olhar mais de perto, vê que cada uma das centenas de janelas quadradas contém um casal desenhado em poucas linhas, que olha fixamente para o mesmo televisor preto.

"Algumas pessoas enxergam o absurdo da humanidade. Algumas veem a filosofia metafísica de Immanuel Kant. Outras enxergam a relação entre espaço e tempo", disse Lecarpentier. "É muito difícil fazer um comentário sobre Sempé", completa.

O cartunista nasceu em Bordeaux em 17 de agosto de 1932 e trabalhou como vendedor de pasta de dente e aprendiz no comércio de vinho antes de publicar seus primeiros desenhos, em 1950. (por Vicky Buffery)