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Murdoch se defende no Parlamento mas é alvo de agressão

19/07/2011 19h12

Por Mohammed Abbas e Kate Holton

LONDRES (Reuters) - Rupert Murdoch, sem se abalar por ter sido alvo de uma torta de espuma em depoimento numa comissão do Parlamento britânico, pediu desculpas nesta terça-feira pelo escândalo de espionagem telefônica que abalou seu império midiático, mas disse que não vai renunciar às suas empresas, pois também se sente traído.

Em alguns momentos Murdoch aparentou os 80 anos que tem, fazendo longas pausas antes de responder às perguntas dos parlamentares ao lado do seu filho James, de 38 anos. O australiano se disse envergonhado e conquistou alguma solidariedade por seu aparente remorso.

A audiência vinha sendo ansiosamente aguardada e foi vista por milhões de pessoas pela TV. O momento mais dramático aconteceu depois de transcorridas duas horas e meia, quando um homem aparentemente se levantou na plateia e tentou atingir Murdoch com uma espécie de torta feita de espuma.

O filho do bilionário, James, se levantou, e a polícia interveio. Wendi Deng, de 42 anos, mulher do magnata e que estava ao lado do marido, deu um salto para estapear o agressor, que foi arrastado para fora da sala. A audiência foi suspensa durante dez minutos.

Na retomada dos trabalhos, o presidente da comissão pediu desculpas pelo incidente, e Murdoch, sem paletó, continuou respondendo calmamente ao interrogatório.

No início da sessão, Murdoch havia rejeitado a responsabilidade pessoal pelo escândalo de espionagem telefônica e corrupção, mas, assim como fez seu filho, declarou que a empresa lamentava profundamente e pretendia resolver o assunto o mais rapidamente possível.

"Eu gostaria de dizer apenas uma frase: Este é o dia mais humilhante da minha vida", afirmou Murdoch, executivo-chefe do conglomerado News Corp.

Ele mais tarde disse que ficou "chocado, perplexo e envergonhado" ao saber sobre o caso, que abalou a confiança dos britânicos na imprensa, na polícia e nos políticos -- inclusive no primeiro-ministro David Cameron.

DESCULPAS

Por causa das denúncias de que jornalistas grampearam as caixas postais telefônicas de milhares de pessoas -- incluindo de uma adolescente vítima de homicídio em 2002 --, Murdoch decidiu fechar o tabloide News of the World, que circulava há 168 anos e estava no centro do escândalo. Ele também desistiu de uma proposta de 12 bilhões de dólares para ampliar seu controle acionário sobre a operadora de TV paga BSkyB.

Questionado sobre se tinha responsabilidade pessoal no caso, ele respondeu apenas que não. Instado a falar então quem foram os responsáveis, ele afirmou: "As pessoas em que eu confiei para administrar (o jornal), e então talvez as pessoas em quem elas confiaram."

James Murdoch, que abriu a audiência com um pedido de desculpas, disse não acreditar que os dois principais executivos que se demitiram devido ao escândalo, Rebekah Brooks e Les Hilton, soubessem de alguma coisa.

Logo no início da audiência, várias pessoas foram retiradas da sala lotada por portarem cartazes que diziam: "Murdoch, procurado por crimes jornalísticos." Em frente ao Palácio de Westminster (Parlamento), manifestantes mantiveram uma vigília durante todo o interrogatório. Outras pessoas foram até lá por pura curiosidade.

"Eu quero sentir a atmosfera na sala e realmente ver a história se desenrolar", disse Max Beckham, 21 anos, que fazia fila para ocupar um dos poucos lugares franqueados ao público na plateia. "Esta audiência pode prenunciar o final do reinado de Rupert Murdoch."

Também presente na galeria, o turista canadense Andy Thomson, de 40 anos, disse que a audiência era "o melhor show em cartaz na cidade".

IRRITADO

Em 2007, um jornalista do News of the World já havia sido preso por espionagem, e na época Murdoch garantiu que isso era um fato isolado. Durante a audiência, ele afirmou que foi induzido ao erro naquela ocasião. Em alguns momentos, ele bateu na mesa, irritado, e disse que o jornal era apenas uma pequena parte dos seus negócios, sugerindo que não poderia supervisioná-lo pessoalmente.

Questionado a respeito de um dos dez jornalistas presos neste ano como parte das investigações, ele disse, de forma brusca: "Nunca ouvi falar dele". Acrescentou: "Isso não é desculpa. Talvez seja uma explicação para a minha complacência. O News of the World é menos de 1 por cento da nossa empresa. Emprego 53 mil pessoas no mundo todo."

O empresário disse também não ter motivos para crer que seus jornalistas teriam espionado vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA. O FBI está investigando tal suspeita.

Falando depois à mesma comissão, Rebekah Brooks, que era editora do News of the World na época da suposta espionagem, também pediu desculpas pelo escândalo e negou conhecer os detetives particulares que teriam providenciado as escutas clandestinas.

Cortês e reflexiva, Brooks negou ainda que tenha feito ou autorizado pagamentos a policiais. Ela deixou seu cargo na sexta-feira e foi presa no domingo.

O caso já levou também à demissão de dois chefes de polícia, e obrigou Cameron a abreviar uma viagem à África a fim de participar, na quarta-feira, de uma sessão extraordinária do Parlamento sobre o caso.

Falando na Nigéria antes de embarcar para Londres, Cameron disse estar empenhado em resolver três problemas, por meio de novas investigações: "As irregularidades de parte da mídia, o potencial de que tenha havido corrupção policial e (...), terceiro (...), que é a relação entre os políticos e a mídia."

Mas ele também indicou o desejo de deixar para trás esse escândalo que há duas semanas domina o país. "O público britânico quer algo além", disse Cameron. "Não quero que percamos o foco numa economia que gere bons empregos, num sistema de imigração que funcione para a Grã-Bretanha, num sistema de bem-estar que seja justo com as pessoas."

Cameron tem sido criticado por ter nomeado como porta-voz Andy Coulson, que foi editor do News of the World. Nesta semana, o chefe da Polícia Metropolitana de Londres, Paul Stephenson, e o chefe de antiterrorismo da polícia britânica, John Yates, renunciaram por causa de contatos mantidos com o adjunto de Coulson, nomeado como consultor da polícia.

(Reportagem adicional de Michael Perry em Sydney, Jodie Ginsberg em Lagos e Michael Holden, Stephen Mangan, Clare Kane, Keith Weir, Mike Collett-White, Paul Sandle, Paul Hoskins, Neil Maidment, Rosalba O'Brien, Christina Fincher, Peter Griffiths, Joanne Frearson e Georgina Prodhan em Londres)