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Galliano diz que perdeu a cabeça devido a bebidas e drogas

21/06/2011 17h15

Por Nick Vinocur

PARIS (Reuters) - O estilista John Galliano disse a um tribunal de Paris na quarta-feira que estava tão descontrolado devido ao consumo de drogas e álcool que não se recorda de ter lançado insultos antissemitas a estranhos em um bar no início deste ano.

Mais magro do que na última vez em que foi visto em público, Galliano chegou ao tribunal, onde o clima era de expectativa silenciosa, com os cabelos compridos, o bigode fino que é sua marca registrada e trajando calças de couro, preparado para se defender de acusações de comportamento antissemita.

Ele ficou em pé enquanto um juiz leu as acusações que lhe foram feitas e repetiu frases que teria proferido em um incidente em Paris em 24 de fevereiro.

Perguntado se lembrava dos insultos, Galliano disse: "Não me lembro muito bem... Não tenho recordação disso... tenho uma dependência tripla.. álcool, soníferos e Valium", afirmou.

A carreira do estilista está em frangalhos. Ele foi demitido da maison de moda Dior em março, depois de um vídeo postado online o ter mostrado, embriagado, dizendo a uma mulher que ele amava Hitler e que os pais dela poderiam ter sido mortos com gás em um campo de extermínio nazista.

A polícia francesa interrogou o estilista britânico pela primeira vez em fevereiro, depois de um casal tê-lo acusado de gritar insultos racistas contra eles em uma cafeteria ao ar livre.

A expectativa é de que os magistrados cheguem a uma decisão em pouco tempo. O julgamento coloca Galliano, de 50 anos, contra duas pessoas que o acusam: uma mulher que afirmou não ter ouvido falar dele antes de seu encontro com ele, em fevereiro, e outra cujas acusações dizem respeito a fatos ocorridos em outubro passado.

Se for condenado, Galliano pode ser sentenciado a seis meses de prisão e a uma multa de até 22 mil euros (31.517 dólares). Os precedentes de processos semelhantes sugerem que um resultado mais provável seja a imposição de uma multa menor, de no máximo alguns milhares de euros.

CONSUMO ALCOÓLICO CÍCLICO

Galliano, que já pediu desculpas várias vezes pelas declarações que fez no videoclipe postado online, disse ao tribunal que começou a beber "ciclicamente" em 2007, quando seus negócios estavam em alta.

Ele disse que a pressão profissional cresceu durante a crise financeira, quando ele assinou acordos de licenciamento para sua marca própria, "John Galliano", com várias coleções novas que seriam lançadas. O objetivo seria salvar sua grife da falência.

"Depois de cada pico criativo eu despencava, e a bebida me ajudava a escapar", disse ele.

Indagado por que não admitiu à polícia que tinha bebido e se drogado, ele respondeu: "Eu negava a situação para mim mesmo. Eu ainda estava tomando aqueles comprimidos e bebendo."

Uma das querelantes, a curadora de museu Geraldine Bloch, disse que ouviu a palavra "judia" ligada a outro insulto "pelo menos 30 vezes" enquanto estava sentada ao lado de Galliano no bar La Perle.

De acordo com depoimentos lidos pelo tribunal, outras testemunhas, incluindo um garçom e outro cliente, disseram não ter ouvido a palavra "judia."

Bloch, que se queixou de assédio depois de ter denunciado o estilista, disse que considerou isso "surpreendente" em vista do alto volume em que as palavras foram proferidas. "Havia variações, mas a palavra 'judia' sempre voltava", disse ela.

O advogado de Bloch disse que sua cliente vai pedir o pagamento de indenização simbólica de um euro e a publicação da decisão da corte em duas revistas de moda, Elle e Vogue, e no jornal francês Le Figaro.

O advogado Yves Beddouk disse à Reuters que sua cliente não está interessada no dinheiro de Galliano, mas quer que ele reconheça publicamente que lançou a diatribe antissemita e que demonstre contrição, como seria condizente com sua reputação.

O advogado de Galliano, Aurelien Hamelle, disse que vai convocar um especialista em toxicologia para declarar que o estilista, triplamente dependente de álcool, do sedativo Valium e de soníferos fortes, se encontrava em estado de total abandono.

Galliano deixou a França logo depois de ser demitido pela Dior para fazer tratamento nos Estados Unidos por abuso de substâncias.