DEPOIMENTO-Dentro da abadia, da agitação ao silêncio
Por Jodie Ginsberg
LONDRES (Reuters) - Foi quase como estar em dois casamentos ao mesmo tempo ao acompanhar o matrimônio do príncipe William com a namorada de longa data Kate Middleton.
Quando nós (os membros da imprensa sortudos o suficiente para sermos convidados) entramos na abadia de Westminster -- um local aconchegante e aquecido que fazia a multidão que se formou nas imediações parecer estar a um milhão de quilômetros de distância -- vimos um cenário surpreendente.
A maioria de nós esperava ver fileiras e mais fileiras de convidados vestidos em roupas formais, sentados calados em seus locais, esperando pacientemente o início da cerimônia.
Em vez disso, a atmosfera era como de uma festa no jardim. Grupos de convidados conversavam nos corredores, cercados por árvores gigantescas retiradas dos jardins reais que fizeram a área central da abadia parecer muito mais como um boulevard francês do que como uma igreja.
A luz vinha das filas de candelabros e das gigantes janelas de vidro. A temperatura estava surpreendentemente quente. Eu esperava encontrar o prédio que recebeu as coroações reais por quase mil anos gelado, com correntes de ar -- até úmido. Na verdade, o ar parecia aconchegante. Nós andamos acompanhando o tapete vermelho no caminho que Kate e William iriam fazer como marido e mulher.
Todos conversavam amigavelmente. Os amigos e familiares de William e Kate se mesclaram com uma grande quantidade de convidados que incluíam a realeza de várias partes do mundo, celebridades globais como Elton John e David Beckham, e donos de lojas da cidade natal da família de Kate.
Eu conheci a parceira de um dos tios de kate na fila para o banheiro. "A palavra surreal não serve nem para começar a descrever", disse Leah Lowinger.
Nós estávamos estranhamente enclausurados na abadia. Apenas durante as pausas na música é que podíamos ouvir o som das multidões ou dos sinos da igreja, e ambos pareciam distantes. Não havia bandeiras da Inglaterra, multidões acenando, apenas um mar de chapéus coloridos.
Só uma tela na abadia -- a mais próxima da área onde os jornalistas estavam sentados, no canto dos Poetas -- estava mostrando o que acontecia do lado de fora. Embaixadores e chefes de Estado estrangeiros sentados próximos a nós esticaram os pescoços para tentar enxergar o que acontecia.
Como a maior parte das pessoas, nós -- e eles -- mal podiam ver o que estava acontecendo na abadia até que a cerimônia começou a ser transmitida nas outras telas. Até isso acontecer, estas telas mostravam apenas uma imagem congelada de flores.
Assim que o príncipe William chegou, o ambiente mudou completamente. A atmosfera informal deu lugar a uma seriedade intensa -- foi como se quase todos estivessem segurando a respiração.
A abadia ficou parada e silenciosa. O doce e fresco cheiro dos lírios do vale, plantados em canteiros espalhados pela abadia, dominaram o ar.
De repente, todos estavam muito mais contidos. Até os cantos pareceram cautelosos -- ainda que eu tenha dado meu melhor nas canções religiosas.
Não houve conversa ou momentos descontraídos. Pareceu algo realmente grande, mas também um pouco sombrio -- talvez porque estivesse tão difícil de ver ou ouvir o casal, ou talvez pela formalidade da ocasião.
Ainda que eu tenha ido a vários casamentos em igrejas, este foi sem dúvida o mais religioso e formal que participei, e isto deu um ar estranhamente impessoal. Ou talvez essa impressão decorra do fato de eu não conhecer os noivos e por estar na mesma situação de outras centenas de convidados.
Sem a chance ver o casal ou falar diretamente, e sem o final da cerimônia com beijo e romance, o que eu vou me lembrar mais será do cheiro das flores -- e o fabuloso som das fanfarras no início do casamento.
Como um convidado disse na saída da abadia: "Como um país, nós certamente sabemos como fazer cerimônias".
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