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Índia fica furiosa com livro que descreve Gandhi como bissexual

31/03/2011 13h54

Por Henry Foy

NOVA DÉLHI (Reuters) - A Índia pode aprovar uma legislação para prender qualquer pessoa que insulte Mahatma Gandhi, enquanto governos estaduais estão tomando medidas para proibir a venda de uma biografia que, de acordo com resenhistas, indica que o "Pai da Nação" teria sido bissexual.

Gandhi liderou a campanha para pôr fim ao governo colonial britânico, mas legisladores dizem que sua reputação está sendo denegrida por uma nova biografia que sugere que ele tenha tido um caso homossexual com um fisiculturista alemão.

"Mahatma Gandhi é venerado por milhões de pessoas, não apenas na Índia mas em todo o mundo. Não podemos permitir que qualquer pessoa faça inferências negativas sobre figuras histórias e as denigre. A história não nos perdoaria", disse o ministro do Direito, M. Veerappa Moily, ao jornal Indian Express.

Uma emenda proposta à Lei da Honra Nacional, de 1971, pode fazer com que Gandhi, a Constituição e a bandeira nacional sejam protegidos, de modo que quaisquer insultos a Gandhi sejam passíveis de pena de prisão.

A biografia escrita pelo autor premiado com o Pulitzer Joseph Lelyveld, "Great Soul: Mahatma Gandhi and His Struggle with India" (Grande Alma: Mahatma Gandhi e sua Luta com a Índia), detalha a correspondência trocada em 1908 entre o combatente pela liberdade e Hermann Kallenbach, um fisiculturista judeu alemão.

Resenhistas de jornais americanos e britânicos citaram uma carta em que Gandhi escreve a Kallenbach sobre "quão completamente você tomou posse de meu corpo" como sendo prova da bissexualidade do líder indiano.

O crítico Andrew Roberts escreveu no Wall Street Journal que a biografia mostra que Gandhi era "um ser sexual bizarro".

Lelyveld nega que seu livro diga que Gandhi era bissexual.

A alta corte de Délhi, em um julgamento importante em julho de 2009, decretou que a atividade sexual gay não é crime, mas a legislação da era colonial que criminaliza o sexo homossexual não foi revogada, e os relacionamentos entre casais gays ainda são tabu na Índia.

O Estado de Gujarat, onde Gandhi nasceu, proibiu na quarta-feira a venda e distribuição da biografia. A imprensa local informou esta semana que o Estado de Maharashtra também está tomando medidas para proibir o livro.

"A população de Gujarat jamais vai tolerar esse insulto a Gandhi", disse o ministro chefe Narendra Modi, que lidera o partido nacionalista hindu Bharatiya Janata em Gujarat.

O livro de Lelyveld não é o primeiro a ser vítima de pressão política ou religiosa na Índia. Em outubro um romance de Rohinton Mistry, "Such a Long Journey" (Uma viagem tão longa), foi tirado do currículo da Universidade de Mumbai, depois de o autor ter sofrido ameaças do grupo político de extrema direita Shiv Sena.

Maqbool Fida Husain, o pintor mais famoso da Índia, vive no exílio em Dubai desde que grupos nacionalistas hindus o ameaçaram por ter feito pinturas de deusas hindus que mostram nudez.