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Vendetas seculares na Albânia são tema de filme em Berlim

18/02/2011 13h04

Por Mike Collet-White

BERLIM (Reuters) - "The Forgiveness of Blood" é um novo filme que trata de tradições orais seculares que decidem como algumas famílias na Albânia resolvem suas vendetas, até hoje.

O moderno entra em choque com o medieval no filme contundente do diretor norte-americano Joshua Marston, que faz sua estreia no Festival de Cinema de Berlim nesta sexta.

"The Forgiveness of Blood" (O perdão do sangue, em tradução livre) é o último dos 16 filmes da competição oficial a ser exibido em Berlim, e as primeiras reações da crítica sugerem que possa ser candidato forte aos prêmios, que serão entregues no sábado.

O filme trata de uma família na zona rural da Albânia que entra em uma disputa com um clã vizinho, em torno do acesso à terra.

Quando a disputa termina em assassinato, a parte prejudicada impõe as normas intransigentes do Kanun, o código balcânico do século 15 que confere a uma família ofendida o direito de matar um homem da família que a ofendeu.

Em lugar de ser um simples olho por olho, dente por dente, outras regras podem ser aplicadas por meio do código, que não é oficialmente reconhecido no direito albanês, segundo os cineastas, mas é aplicado assim mesmo.

Ao centro da vendeta regida pelo orgulho, ignorância e intransigência dos adultos estão Nik, de 17 anos, que não pode mais sair de casa devido ao risco de ser morto, seu irmão de 7 anos e Rudina, sua irmã de 15.

Rudina pode sair de casa e procura fontes extras de renda, na tentativa de sustentar a família sozinha. Mas, para Nik, a vida vira um inferno, sem chances de encontrar amizade, amor ou sucesso.

Joshua Marston, cujo filme de estreia, em 2004, foi o aclamado "Maria Cheia de Graça", disse que, para ele, a imagem chave foi de um adolescente do século 21 enviando mensagens de texto e jogando videogame em cativeiro em sua própria casa, devido a regras do século 15.

"Ele é um garoto moderno que teve sua vida perturbada por um costume totalmente antigo."

Para pesquisar o Kanun, Marson percorreu a Albânia com o roteirista e guia albanês Andamion Murataj, conhecendo famílias envolvidas em vendetas desse tipo e vivendo no isolamento.

Uma das famílias estava nessa situação havia 15 anos. Seus filhos nunca tinham ido à escola e não podiam ir mais longe que o quintal de sua casa.

Marston disse que os sete anos passados entre seus dois filmes se deveram em parte à crise financeira, que dissuadiu produtores de apoiar filmes sobre temas difíceis.