Museu de Berlim estuda sociedade que gerou Hitler
Por Stephen Brown
BERLIM (Reuters) - As soqueiras de metal, os cassetetes e as botas típicas de cano alto que estão na primeira parte de uma nova exposição sobre "Hitler e os Alemães", em Berlim, dão o tom da mostra, um olhar franco sobre a maneira como a sociedade alemã aderiu ao regime nazista em toda sua brutalidade.
Com muitos objetos de época expostos, desde uniformes da SS e Gestapo até um aparador da sala de trabalho de Hitler, a exposição revela como todos os níveis da sociedade alemã -- a imprensa, a indústria, a igreja, as escolas -- reforçaram o culto a Hitler na década de 1930 e a mantiveram ao longo da 2a Guerra Mundial, até o momento em que a derrota se configurou iminente.
Alguns órgãos de mídia têm descrito a mostra, que será aberta na sexta-feira no Museu Histórico Alemão, como uma primeira exposição, quebradora de tabus, sobre o próprio Adolf Hitler. Mas os curadores fizeram questão de destacar que seu foco é sobre a sociedade que gerou o ditador.
"Não queremos focar Hitler, como personalidade", explicou Hans-Ulrich Thamer, curador da exposição cujo subtítulo é "Nação e Crime", na pré-abertura para a mídia nesta quarta-feira.
"Queremos nos aprofundar sobre a ascensão do regime, como ele operou no poder e como caiu, e o potencial destrutivo tremendo desencadeado pelo nacional-socialismo", disse.
A exposição foi montada em um anexo moderno atrás do museu na Unter den Linden -- a avenida cujas tílias, ou "linden", Hitler cortou --, sem anúncios, para obedecer a uma lei alemã que proíbe a exposição de símbolos nazistas.
Em seu interior, porém, o espectador é imerso em um mundo de propaganda política que abrange desde maços de cigarros com o símbolo da suástica, até cartões de uniformes que podiam ser colecionados, passando por um carrinho de mão no qual era vendido o jornal do partido nazista, o "Voelkischer Beobachter."
RETRATOS DE HITLER
Ao mesmo tempo em que documentam a construção do Estado nazista, com sua indústria, suas rodovias (autobahns) e as celebrações populares de Hitler, os objetos expostos também refletem o ódio e discriminação raciais crescentes.
Um pôster mostra um garoto deficiente mental ao lado de um musculoso atleta loiro e avisa sobre os perigos demográficos que adviriam "se retardados tivessem quatro filhos e os sãos de mente tivessem apenas dois."
Em seguida estão expostos as estrelas amarelas que os nazistas obrigaram os judeus a ostentar em suas roupas e os uniformes listrados dos campos de concentração trajados por alguns dos 6 milhões de judeus, além de outras vítimas do nazismo, massacrados no Holocausto. Entre eles está um pequeno uniforme infantil dos campos de concentração.
Depois de mostrar a queda de Hitler, a exposição trata da discussão do nazismo na sociedade alemã do pós-guerra, observando que a revista noticiosa de grandes vendas Der Spiegel colocou Hitler em sua capa nada menos de 46 vezes entre 1949 e 2010.
"Desde a década de 1990, nem um ano se passou sem um retrato de Hitler na capa da revista," disseram os curadores.
Os objetos finais mencionam o fascínio dos neonazistas com memorabília de Hitler, expondo logotipos antifascistas.
Thamer foi indagado sobre o perigo de que o museu possa atrair neonazistas ansiosos por olhar os objetos de memorabília de Hitler. Ele respondeu que esse tipo de pessoa não frequenta museus.
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