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PERFIL-Peruano Vargas Llosa é um intelectual engajado

07/10/2010 11h04

LIMA (Reuters) - Mario Vargas Llosa, o escritor peruano que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura 2010, ajudou a colocar a literatura latino-americana em destaque na década de 1960. Ele fascinou os leitores com uma série de best-sellers internacionais nas últimas quatro décadas, o que não o impediu de se envolver com a política do seu país.

De origem esquerdista, o escritor gradualmente se tornou um conservador, o que ficou claro nos seus influentes artigos políticos e na sua fracassada candidatura a presidente do Peru em 1990.

Depois daquela eleição, o escritor se mudou para a Espanha, onde adquiriu cidadania, mas continuou sendo influente no Peru, para onde volta com frequência.

Em mais de 30 romances, peças e ensaios, Vargas Llosa desenvolveu sua técnica de contar histórias a partir de vários pontos de vista, às vezes separados no tempo e espaço. Seu trabalho permeia os gêneros e o consolidou como uma das figuras cruciais do "boom" literário latino-americano dos anos 60.

Muitas de suas obras têm componentes autobiográficos. Seu aclamado romance de estreia, "A Cidade e os Cachorros" (1962), era inspirado na sua adolescência em uma academia militar de Lima. Em "O Peixe na Água" (1993), relatou sua experiência como candidato a presidente.

"O trabalho de um autor é alimentado por sua própria experiência e, com os anos, se torna mais rico", disse Vargas Llosa em entrevista à Reuters em Madri, em 2001.

De fato, a escrita de Vargas Llosa cresceu junto com sua experiência. Ele continuou experimentando com a forma, a perspectiva e os temas. Um dos seus romances mais recentes, "Travessuras da Menina Má" (2006), foi sua primeira incursão por uma história de amor, e foi muito elogiado.

Nascido numa família de classe média em Arequipa, em 28 de março de 1936, Vargas Llosa viveu na Bolívia e em Lima antes de ir estudar literatura na Espanha. Sua obra já foi traduzida em mais de 20 línguas.

Na década de 1970, ele rompeu com o regime comunista cubano, para desgosto de muitos de seus companheiros esquerdistas do mundo literário.

Alguns nunca o perdoaram por sua guinada à direita, que fez o escritor defender apaixonadamente uma mistura de livre-mercado com liberalismo social, com profissão de fé na democracia e ódio por regimes autoritários.

Em 1971, Vargas Llosa publicou um ensaio sobre o colombiano Gabriel García Márquez, mestre do realismo fantástico. Mas os dois tiveram um famoso desentendimento, chegando a trocar socos em frente a um teatro da Cidade do México em 1976. Um amigo de García Márquez -- Nobel de Literatura em 1982 -- disse que Vargas Llosa não gostou de saber que o colombiano havia consolado a mulher dele durante um período de brigas do casal, mas Vargas Llosa não quis discutir o assunto, motivando inúmeras especulações.

Em 1990, o escritor decidiu virar político, mas foi derrotado por um professor universitário até então quase desconhecido: Alberto Fujimori, que ficaria no poder durante dez anos e fugiria do Peru sob suspeitas de corrupção e violação de direitos humanos.

"Na verdade, eu nunca tive uma carreira política", disse ele. "Participei da política sob circunstâncias muito especiais (...) e sempre disse que, ganhando ou perdendo as eleições, eu voltaria ao meu trabalho literário e intelectual, e não para a política."