Setor de cinema de Berlim vive boom, apesar da crise econômica
Por Sarah Marsh
BABELSBERG, Alemanha, 18 de agosto (Reuters Life!) - A indústria do cinema de Berlim está vivendo um boom, com baixos custos de produção, subsídios generosos e prestígio cultural que atraem alguns dos maiores cineastas do mundo, à procura de verbas na esteira da crise econômica.
Desde Quentin Tarantino até Roman Polanski, cineastas universalmente aclamados estão indo filmar na capital da Alemanha, produzindo sucessos como "Bastardos Inglórios" e "O Escritor Fantasma" enquanto talentos nacionais como Til Schweiger e Roland Emmerich retornam de Hollywood para tomar parte na festa.
O que falta à indústria cinematográfica de Berlim em tamanho, muito inferior ao de Hollywood, é compensado em prestígio, já que a indústria conquistou dezenas de prêmios nos últimos anos, incluindo um punhado de Oscars.
"Berlim possui alguns fatores de sucesso cruciais, um dos quais é a própria cidade. As pessoas querem estar em Berlim, simplesmente", disse Carl Woebcken, executivo-chefe do Babelsberg, o mais antigo complexo de estúdios em grande escala do mundo, situado a pouca distância de trem do centro da cidade.
Desde a reunificação alemã, duas décadas atrás, Berlim passou por uma metamorfose, transformando-se de cidade dividida e assediada em meca cultural moderna, com profissionais criativos em busca de aluguéis baratos e uma maneira de fugir do establishment.
"Custa relativamente pouco fazer filmes em Berlim", disse Woebcken à Reuters, falando em um escritório amplo com vista para os quase 50 hectares do estúdio.
"Além disso, temos em volta de Berlim uma diversidade muito grande de locações que outros lugares não têm -- todas essas bases militares e tantos tipos diferentes de arquitetura, desde a antiga até a nova, desde a Alemanha Oriental comunista até a nazista", disse ele.
Houve um tempo -- antes de os nazistas tomarem o poder, em 1933 -- em que a indústria cinematográfica de Berlim rivalizava com a de Hollywood, produzindo clássicos como "O Anjo Azul", com a jovem Marlene Dietrich, e a obra-prima futurista "Metrópolis", de Fritz Lang.
Sob o Terceiro Reich e, depois, o governo comunista alemão oriental, a indústria enfrentou a censura e foi usada para produzir propaganda política, com isso perdendo muitos de seus talentos e de sua reputação.
Mas ela está dando a volta por cima, com cerca de 300 produções rodadas aqui todos os anos, algumas tratando desse passado alemão turbulento.
Entre os filmes feitos recentemente em Berlim e que aproveitaram suas locações históricas estão o premiado com o Oscar "A Vida dos Outros" sobre um agente da polícia secreta da Alemanha Oriental, e o drama da 2a Guerra Mundial "Operação Valquíria", com Tom Cruise.
Os subsídios estatais generosos para o cinema feito em Berlim e na Europa em geral, desde empréstimos em condições vantajosas até incentivos fiscais, e vêm se mostrando ainda mais cruciais em vista da crise global de crédito.
Isso vem ajudando os estúdios europeus pequenos a evitar o destino de seus colegas independentes americanos, que eram mais dependentes de bancos e fundos hedge e viram seu financiamento secar.
"Como o cinema na Europa é menos dependente de investidores privados, foi menos impactado pela crise", disse Kirsten Niehuus, do Medienboard Berlim-Brandemburgo, órgão de financiamento local que distribuiu quase 30 milhões de euros (40 milhões de dólares) em 2009.
"Percebia-se claramente que os cineastas estavam procurando financiamento de outras fontes, em reação à crise financeira. E isso proporciona à Alemanha a oportunidade de trabalhar com talentos internacionais instigantes", disse ela, acrescentando que essa transferência de know-how elevou a competência das equipes técnicas alemãs para os padrões mais altos.
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