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Diretor francês Alain Resnais reflete sobre o sucesso em Cannes

James Mackenzie

20/05/2009 15h11Atualizada em 03/06/2012 14h24

Alain Resnais, o venerado diretor francês de clássicos do cinema de arte como "O Ano Passado em Marienbad", faria um esforço maio para atrair multidões para seus filmes -- se conhecesse a fórmula para isso.

Dizendo-se "preguiçoso demais" para apimentar seus filmes com doses de sangue e violência, o cineasta de 86 anos, que há 50 anos levou "Hiroshima, Meu Amor" a Cannes, disse que, mesmo assim, sempre tem a esperança de conquistar as platéias.

"Se eu soubesse que, colocando a câmera um pouco mais à direita ou um pouco mais à esquerda, movendo-a ou deixando-a fixa, haveria mais pessoas assistindo a meus filmes, eu o faria imediatamente", disse ele, depois da sessão em que seu novo filme, "Les herbes folles" (Capim Silvestre), foi exibido para a imprensa.

"Mas tudo isso é totalmente imprevisível", acrescentou o diretor, cujos filmes são conhecidos por serem cerebrais.

"Então tudo o que penso é 'o filme que estou dirigindo vai provocar emoções? Será o suficiente para o espectador não querer sair do cinema?'", disse.

Apesar das declarações irônicas do diretor nesta quarta-feira, suas explorações da memória e da perda e seus experimentos radicais com a narrativa vanguardista nunca tiveram grande preocupação com o sucesso comercial.

Seu filme mais recente, uma comédia levemente absurdista sobre um homem que encontra uma carteira, forma um contraste marcante com o tom violento de outros filmes na competição principal, como "Bastardos Inglórios", de Quentin Tarantino, e "Anticristo", de Lars von Trier.

Baseado num romance do escritor francês Christian Gailly, "Les herbes folles" traz André Dussollier como homem intrigado por uma mulher representada por Sabine Azema, uma dentista com paixão por voar.

De cabelos brancos e óculos de sol diante das luzes brilhantes da sala de imprensa de Cannes, Alain Resnais tinha toda a aparência do ícone que é dos cinéfilos da margem esquerda do Sena, mas disse que faz cinema "porque nunca encontrei outra maneira de ganhar dinheiro e pagar meu aluguel."

Ele expressou alguma compreensão pelo derramamento de sangue visto nas obras de diretores mais jovens, que, declarou, "talvez seja a prova de que vemos as coisas com mais clareza e nos damos mais conta da selvageria e carnificina das quais a raça humana é capaz."

Mas não aventou qualquer hipótese de aderir a essa tendência.

"Não direi a vocês 'fiquem de olho: no meu próximo filme haverá muito sangue e eu vou avançar mais ainda na violência'", disse Resnais.

"Isso não funcionaria. Sou indolente demais por natureza."