OPINIÃO
Blur vs. Oasis: 25 anos de um grande trambique do rock'n'roll
André Barcinski
Colaboração para o UOL, de Paraty
14/08/2020 11h01
Quem não gosta de uma boa briga?
Seja uma polêmica em rede social ou uma troca de socos em discussão de trânsito, uma briga sempre dá ibope. Quando envolve dois antagonistas famosos, então...
Há exatos 25 anos, o mercado musical britânico foi chacoalhado por uma briga entre os dois maiores grupos do pop inglês da época: Blur e Oasis. Foi a "Batalha do Britpop".
Relacionadas
A relação entre os dois lados nunca foi das mais cordiais.
Em entrevistas, os irmãos Gallagher, do Oasis, cutucavam Damon Albarn, do Blur, que não deixava barato e respondia na mesma moeda.
Mas a coisa azedou de vez em meados de 1995, quando o Oasis anunciou a data de lançamento do single "Roll With It": 14 de agosto. O Blur, em atitude claramente desafiadora, marcou o lançamento do single de "Country House" para o mesmo dia.
Num país que ama polêmicas, a cultura sensacionalista dos tabloides, e onde o single sempre foi coisa séria, a disputa ganhou contornos épicos. Subitamente, todo inglês tinha que escolher um lado: ou torcia pelos nortistas do Oasis ou pelos sulistas do Blur.
Claro que não foi a primeira vez na história do pop que um evento foi criado para gerar polêmica. Na verdade, alguns dos momentos mais icônicos do rock e do pop foram, literalmente, tirados da cartola.
Um exemplo clássico é a famosa imagem de Jimi Hendrix queimando sua guitarra Stratocaster no Festival de Monterey, em junho de 1967. O que parece uma cena brutal e totalmente improvisada foi resultado de três meses de "ensaios". Hendrix e seu agente, Chas Chandler, começaram a queimar guitarras no palco em março daquele mesmo ano. O truque funcionou e foi repetido em Monterey, onde acabou eternizado em filme e numa famosa foto.
No mesmo ano do duelo Oasis vs. Blur, outra disputa agitou os bastidores do pop mundial: em 1995, descobriu-se que o grupo N'Sync, que surgira para enfrentar nas paradas o Backstreet Boys, havia sido criado por Lou Pearlman, o mesmo empresário dos... Backstreet Boys!
Por que vou esperar alguém montar um concorrente para o Backstreet Boys? Resolvi sair na frente e criei minha própria concorrência disse o gênio
Quinze anos antes de Pearlman criar o N'Sync, outro empresário sabichão, o argentino Santiago Malnati, conhecido aqui por Mister Sam, já tinha sacado o valor comercial de uma boa briga. No fim dos anos 1970, Sam transformou Maria Odete Brito de Miranda, então cantora da banda do "italianíssimo" maestro Zaccaro, em Gretchen. Assim que Gretchen estourou, Sam lançou uma concorrente, Sharon. E o Brasil se agitava com a disputa entre as duas rainhas do gênero que o próprio Sam batizou de "Bunda Music" (e essa briga é fácil saber quem ganhou).
E como terminou a briga entre Oasis e Blur?
Na semana de 14 a 20 de agosto de 1995, a imprensa inglesa acompanhou dia a dia a vendagem dos singles das duas bandas. Aquele round foi vencido pelo Blur: 276 mil singles de "Country House" contra 216 mil singles de "Roll With It".
A disputa foi boa para todo mundo: as gravadoras venderam muitos discos, a imprensa musical vendeu revistas a rodo, e emissoras de TV fizeram incontáveis especiais sobre o duelo. Naquela briga de mentirinha, ninguém se machucou.
André Barcinski é colunista do UOL
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL