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Como três séries revisitam a história para mostrar os sistemas de poder

Michelle Krusiec e Laura Harrier em "Hollywood", minissérie da Netflix que mescla realidade e ficção - Divulgação
Michelle Krusiec e Laura Harrier em 'Hollywood', minissérie da Netflix que mescla realidade e ficção Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

24/07/2020 04h00

Tramas que imaginam uma versão alternativa da história não são exatamente novidade. O que é novidade é que, do fim do ano passado para cá, três grandes séries resolveram fazer o chamado "revisionismo histórico": "Watchmen" (HBO), "Hollywood" (Netflix) e "Hunters" (Amazon Prime Video).

Cada uma transformou a história como a conhecemos para mostrar como os sistemas de poder funcionam, e a revista "Hollywood Reporter" conversou com criadores e roteiristas e entender como foram seus processos.

'Watchmen'

Espécie de continuação da icônica da HQ de Alan Moore e Dave Gibbons, a série de Damon Lindelof fez uma conexão com um dos episódios mais brutais da história americana: o massacre da "Wall Street negra", quando uma multidão de brancos invadiu e destruiu o distrito de Greenwood, um próspero bairro negro na cidade de Tulsa, deixando centenas de mortos e milhares de desabrigados.

A partir daí, "Watchmen" traçou uma trama forte e atual sobre tensões raciais, explorando a ligação delas com a polícia e com grupos como a Ku Klux Klan. diz muito, também, sobre como traumas do passado ainda nos afetam, como explica Cord Jefferson, um dos roteiristas da série.

Precisamos entender que as sementes para o que está acontecendo agora foram plantadas séculos atrás, e ainda sentimos seus efeitos. A ideia que a história está no passado e não importa mais é totalmente incorreta, tanto a nível pessoal quanto no da nação.

'Hollywood'

A minissérie de Ryan Murphy ("Glee", "American Horror Story" etc etc etc) e Ian Brennan é uma utopia do cinema, que imagina como seria Hollywood se várias barreiras tivessem sido quebradas lá em sua Era de Ouro. E se, lá atrás, uma mulher comandasse um grande estúdio, e pessoas negras e LGBTQ+ se tornassem protagonistas dos grandes blockbusters?

O resultado é uma produção otimista, que reescreve inclusive as histórias de duas personalidades reais: a atriz Anna May Wong, estrela de ascendência chinesa que se viu preterida em muitos papéis; e o ator Rock Hudson, que se via impedido de assumir publicamente sua homossexualidade.

Queríamos mostrar como o mundo podia ser se certas pessoas tivessem feito as escolhas certas e corajosas, e realmente se arriscado a criar um espaço mais inclusivo nessa cidade. Sabíamos desde começo que, apesar de estarmos escrevendo sobre os anos 1940, estávamos na verdade falando sobre a Hollywood de agora e sobre a desigualdade de poder, os maus comportamentos, a manipulação e o abuso em uma indústrai que nâo tem sido muito boa em se policiar.
Ian Brennan, co-criador da série

'Hunters'

A série da Amazon coloca Al Pacino no comando de um grupo que tem uma missão muito clara: caçar nazistas que se infiltraram nos Estados Unidos. Seu criador, David Weil concebeu "Hunters" em homenagem a sua avó, uma sobrevivente do Holocausto.

Acredito que, quando um autor conta uma história de trauma, cabe a ele também dar o remédio. Os elementos ficcionais da série, principalmente o grupo de vigilantes, foram criados em um esforço para servir a esse desejo de retomar o poder e revisar a história das 'justiças perdidas'.

Ainda que fictícia, a produção jogou luz sobre uma operação bem real que aconteceu nos EUA do pós-guerra: a Operação Paperclip, que levou para o país vários cientistas alemães, incluindo alguns culpados por crimes de guerra. Weil foi pego de surpresa pelo fato de muitos espectadores não saberem que isso era verdade. "Isso nos força a questionar por que pensamos que algo assim não possa ser verdade e também a reexaminar nosso governo, nossa história, nossos sistemas de poder e nossa sociedade".