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Morena do Tik Tok nasceu do bullying que criadora sofria: 'Superar trauma'

Laura Seraphim, a "Morena" do Tik Tok - Instagram/Reprodução
Laura Seraphim, a "Morena" do Tik Tok Imagem: Instagram/Reprodução

Daniel Palomares

Do UOL, em São Paulo

25/06/2020 12h00

Quando assisti ao primeiro vídeo da tal "Morena" do Tik Tok, confesso que pensei: "Quem é essa louca?". Com uma peruca preta, batom borrado, de risquinho na sobrancelha e a tampa de uma latinha servindo de piercing no nariz, ela extrapolava a plataforma raiz e pipocava a todo momento no Twitter, no Facebook ou no Instagram.

Eis que tudo não passava de uma personagem, criada pela jovem Laura Seraphim, de 20 anos, moradora de Sorocaba, no interior de São Paulo:

As pessoas mais velhas não entendem a piada. Acham que sou louca, que aquilo tudo é verdade. Teve gente da família que achou que eu tinha surtado

Choque de realidade também para o jornalista que vos fala!

Arma branca insta pfvr n apaga

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Laura é mais um fenômeno entre os adolescentes e jovens viciados no TikTok. Ela estima que seu público —formado por quase 2 milhões de pessoas entre o app de vídeos, Instagram e Twitter— varie entre os 15 e 20 anos, o que explicaria porque um millennial como eu teria dificuldade de sacar certas coisas.

Mesmo com uma plataforma tão grande em tão pouco tempo (ela criou seu perfil no TikTok em dezembro!), Laura ainda se impressiona com a atenção que recebe:

Estou me sentindo a Hannah Montana!

Sem sonhos

Os sonhos de se tornar uma estrela como a personagem do Disney Channel, porém, não povoam sua cabeça. A própria Laura admite que nunca pensou em ter sucesso com os vídeos.

Faço por mim, não por sucesso. Até me irritei por quererem só vídeos da Morena, queria fazer outras coisas no TikTok. Gosto de fazer os vídeos. Mas gostarem do que eu faço é só uma consequência. Quando gostam, é como se eu não me sentisse uma louca. Como se eu pertencesse a um grupo

Depois de perder o emprego em um supermercado com o início da pandemia, Laura explica que gravar os vídeos é o que a mantém distraída e equilibrada, além de tê-la garantido alguns contratos publicitários. Para a minha surpresa, ela não tem ambição de fazer algum curso de teatro ou mesmo uma faculdade.

Desde os meus 14 anos, eu passo por períodos depressivos. Eu nunca tive sonhos, sempre vivi um dia de cada vez. Acordar amanhã é o meu sonho. Gosto de ter objetivos simples.

Vivendo com uma tia aposentada, o único desejo da jovem é voltar a trabalhar quando a quarentena chegar ao fim. "Quando passar a pandemia, espero que minha chefe me recontrate lá no mercado", torce.

Ressignificar o bullying

A famosa Morena que bomba nas redes sociais é uma "mina zica", da "quebrada" e que adora esfregar na cara de todos o quanto é popular. "Todo mundo é obcecado por mim! É um bagulho que não tem mais como lutar contra. Aceitei que sou referência. Meu corre é debochar, ir pro bailão. Sou uma mina que curte uma vida perigosa!", dispara a Morena, incorporada por sua criadora.

Quem ouve isso, não diz que a personagem engraçada nasceu de um momento complicado. Morena representa as meninas que sempre praticaram bullying contra Laura na escola. Uma maneira de ressignificar o evento traumático.

Sempre imitei essa personagem com as amigas. Para superar o trauma, fazíamos graça. Consegui pegar algo que sempre me fazia mal e transformar em piada. É o meu jeito de lidar com os problemas. Tento não levar as coisas a sério porque senão vou afundar.

Ela conta que os vídeos serviram como uma espécie de libertação. "Antes mesmo de postar o primeiro, me senti liberta. Não sei o que seria de mim sem os vídeos. A minha psicóloga diz que eles me fazem muito bem. É uma terapia".

Aflições da Geração Z

Laura, assim como seu público, espera outros exemplos e referências das redes sociais. Talvez justamente por isso não consegue ser compreendida por alguns.

Tem muita gente me dando apoio. Mas não esperava que fosse ter tantas mensagens negativas. Não entendo porque alguém tira tempo do dia deles para me criticar. Estou tentando lidar com isso, saber que é normal. Mas incomoda demais

"O maior problema da minha geração é a comparação que a gente faz com outras pessoas. Como se a gente não valesse nada. Temos medo do julgamento também. Se eu me expressar como quero, vou ser aceita? Tenho que ser sempre educada, legal com todo mundo, gostar de tudo senão não vou ter amigos?", questiona.

Os anos de terapia a ajudaram a perceber que estava tudo bem ser a "louca" que grava os vídeos engraçados. Laura festeja quando seguidoras a perguntam como ela consegue ser tão real —mesmo interpretando um personagem.

Muitos me perguntam como eu tenho coragem de falar o que eu penso e foi graças à terapia. Eu e minhas amigas esperamos ter exemplos mais reais para seguir na internet. Quando eu tinha 14 anos, via meninas "perfeitas", muito polidas. Chorava por não ser como elas. Demorei para perceber que as pessoas não eram assim. E a gente precisa de mais gente de verdade

Minas famosinhas do face Insta principal @spolaura

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