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Escolha de Léo Santana para representar São João da BA revolta forrozeiros

Léo Santana será o representante da Bahia em um especial de São João da Rede Globo Nordeste - Divulgação
Léo Santana será o representante da Bahia em um especial de São João da Rede Globo Nordeste Imagem: Divulgação

Aurelio Nunes

Colaboração para o UOL, em Salvador

18/06/2020 18h00Atualizada em 21/06/2020 19h21

A escolha do pagodeiro Léo Santana como representante da Bahia em um especial de São João que a Rede Globo Nordeste exibirá para a região na noite deste sábado (20) despertou uma onda de críticas no meio musical.

"É um desserviço muito grande que a Globo presta neste momento. Quem tem responsabilidade com a cultura não pode estar brincando. Chega a ser hilário e totalmente fora do contexto expor um profissional que nunca cantou uma música de forró na vida pra representar o São João da Bahia, que é um dos melhores do Brasil", declarou ao UOL o cantor e compositor Adelmário Coelho.

A assessoria de comunicação do cantor Léo Santana disse que ele não irá falar sobre o assunto, mas que deverá incluir músicas sertanejas em seu repertório.

Todos os outros convidados do especial são forrozeiros: Mano Walter, representando Alagoas; Solange Almeida (Ceará); Calcinha Preta (Sergipe); Fulô de Mandacaru (Pernambuco); Cavaleiros do Forró (Rio Grande do Norte); Anderson Rodrigues (Piauí); Luan Estilizado (Paraíba); Flávia Bitencourt (Maranhão); e Forró do Tico, também da Bahia.

A reportagem do UOL entrou em contato com a Rede Bahia, retransmissora da TV Globo no estado, que disse que o assunto era da alçada da Rede Globo Nordeste, cuja sede fica em Pernambuco. Mas, segundo a coordenadora de produção da Rede Globo Nordeste, Izabel Carvalho, as atrações são escolhidas pelas afiliadas e não pela Rede. "O gestor de cada emissora local que faz essa escolha, cabe à TV Bahia essa decisão", declarou.

O assunto dominou a pauta das redes sociais. Um depoimento postado pelo cantor Leo Macedo na fanpage da banda Estakazero contra a indicação de Léo Santana alcançou mais de 920 compartilhamentos até às 17h de hoje. "Nós temos na Bahia um cenário muito forte de forró, artistas com uma carreira consolidada que poderiam estar representando a Bahia. Este artistas estão muito sentidos eu estou muito sentido", declarou, citando Adelmário Coelho, Targino Gondim, Zelito Miranda e a Banda Cacau com Leite. "Não existe São João sem forró."

Já o forrozeiro França, que integrou a Banda Mastruz com Leite, disse que a escolha da Globo não é justa. "Senhores forrozeiros, não vamos aceitar isso calados não, o momento é agora, e a hora é já".

Para o produtor cultural Sérgio Siqueira, só existe uma explicação para a indicação de um artista com a carreira totalmente dedicada ao samba e ao pagode para a live junina da Globo: a busca pela audiência. "Infelizmente as tevês preferem fazer o que é mais fácil", criticou.

Siquera foi gerente de conteúdo da Rede Bahia entre os anos de 1992 e 2015 e conhece bem as pressões às quais os profissionais da área estão submetidos. "Cansei de receber indiretas porque a programação estava muito 'africanizada', mas pra mim não existe nada que case melhor com a estética da televisão que a cultura afro ou a cultura popular, que são cheias de cores, de música e dança.

Para Siqueira, a aposta em nomes consagrados é uma alternativa de menor risco no curto prazo, mas que produz péssimos resultados em um espaço de tempo maior. "A prova disso foi que fizemos o projeto São João do Pelô com enorme sucesso por muitos anos, sem nenhuma atração de peso. Teve dia que a Polícia Militar teve de fechar o acesso ao Pelourinho, de tanta gente que tinha. Até que o Governo do Estado resolveu tomar o projeto pra si, trouxe atrações de fora, instalou palcos gigantescos,e o São João do Pelô hoje não é nem sombra do que foi no passado."

O jornalista Gabriel Carvalho, criador do site São João na Bahia, declarou que a repercussão não poderia ser pior. "O sentimento dos forrozeiros é de luto e consternação. Essa decisão desvaloriza o mercado musical baiano de forró."

Embora entenda que a decisão da Globo tenha um impacto mais simbólico que econômico, Carvalho observa que ela vem a se somar aos prejuízos que o setor já vem acumulando há três meses por conta da pandemia do coronavírus, com o cancelamento de mais de 300 festas de São João patrocinadas pelas prefeituras. "Estamos falando de uma perda estimada em R$ 1 bilhão, que impactou nada menos que 50 setores econômicos, incluindo hotéis, transportes, comércio e os próprios artistas, que nesse período costumavam empregar de 30 a 40 pessoas", conclui.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do publicado no sexto parágrafo, França não é mais integrante do grupo Mastruz com Leite. A informação foi corrigida.