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OPINIÃO

'A Vastidão da Noite': por que vale ver o filme que todo mundo está falando

Cena do filme "A Vastidão da Noite", do Amazon Prime Video - Divulgação
Cena do filme 'A Vastidão da Noite', do Amazon Prime Video Imagem: Divulgação

Beatriz Amendola e Eduardo Pereira

Do UOL, em São Paulo

11/06/2020 04h00

Enquanto não tem cinema, nem blockbusters novos como "Mulher-Maravilha 1984", um filme do streaming se tornou a sensação do boca a boca na quarentena: "A Vastidão da Noite", uma ficção científica de baixo orçamento do Amazon Prime Video, feita por um diretor completamente desconhecido.

A história acompanha dois adolescentes que moram em uma cidadezinha americana, nos anos 1950, e captam um sinal estranho, que pode bem ser de outro mundo. Mas o que, afinal, o filme tem para ter tanta gente falando dele? UOL já viu, e te conta:

É bom mesmo?

Sim! "A Vastidão da Noite" é divertido, original e muito bem feito —é a prova de que você não precisa gastar milhões e milhões para ter um bom filme.

Fay (Sierra McCormick), operadora de telefonia, e Everett (Jake Horowitz), locutor de rádio, são protagonistas carismáticos, e a aventura dos dois é uma delícia de se acompanhar, com suspense e leveza na medida certa. Você se envolve imediatamente na trama, que tem de bônus uma fotografia linda que mostra bem a jornada da dupla noite adentro.

Nostalgia a mil

A quarentena tem deixado muita gente nostálgica, e "A Vastidão da Noite" é praticamente um balde de nostalgia. Não que a história não seja original (ela é!), mas ela faz referências a clássicos como "E.T" e "Além da Imaginação" e é contada de um jeito que te transporta direto para os anos 1950 —ou para um cinema dos anos 1980.

O filme tem ainda vários "easter eggs". A estação de rádio em que Everett trabalha, por exemplo, se chama WOTW, uma referência à "Guerra dos Mundos", a trama de invasão alienígena de H. G. Wells (sim, a que inspirou o filme com Tom Cruise).

Diretor prodígio

A qualidade de "A Vastidão da Noite" não é acidental: é fruto da paixão do diretor estreante Andrew Patterson, de 38 anos. Além de comandar as filmagens e financiar todo o projeto de pouco menos de US$ 1 milhão, ele co-escreveu com Craig W. Sanger (que serviu como pesquisador) —mas não espere ver o nome de Patterson na lista de roteiristas.

Ele assina o roteiro do filme sob o pseudônimo James Montague, ideia tirada de cineastas como os Irmãos Coen (que editam seus filmes como Roderick Jaynes) e Steven Soderbergh (que vira Peter Andrews em sua direção de fotografia). Soderbergh, aliás, já é fã de Patterson:

Há três competências que um cineasta pode dominar: narrativa, performance e câmera. Houve muita gente boa que teve boas carreiras sabendo uma ou duas dessas coisas. Mas é raro ver alguém que domina as três, e de forma significante, não só em um filme, mas em um primeiro filme.

Crítica social, mas sem textão

Mesmo com um elenco quase todo branco, uma das mais marcantes performances de "A Vastidão da Noite" vem do ator negro Bruce Davis. Sem nunca aparecer em tela, é a sua voz pelo telefone que norteia o destino da trama e engloba nela um comentário social. O longa faz dessa ausência de diversidade uma ferramenta forte para criticar o racismo e a segregação.

A crítica ao sexismo ainda mais intenso dos anos 1950 também aparece no texto de Patterson e Sanger, na forma de um monólogo da atriz Gail Cronauer, centrado em maternidade e ligado às expectativas limitantes de uma sociedade machista. A cena é também uma das mais arrepiantes do filme, mantendo a tensão alta apenas com a profundidade de diálogos bem escritos.

Gostei do filme, o que mais posso ver nessa linha?

'Contatos Imediatos do Terceiro Grau' (UOL Play)

O clássico que estabeleceu o "status quo" dos filmes de invasão, lá em 1977. Dirigido por Steven Spielberg após o sucesso de "Tubarão", ainda hoje surpreende pela qualidade técnica de seus efeitos.

'E.T.' (UOL Play)

A versão mais fofa e aquecedora de corações de uma invasão alienígena, também assinada pelo mestre Steven Spielberg. De quebra, ainda marca o lançamento de Drew Barrymore ao estrelato.

'Estranhos Visitantes' (Prime Video)

Um bom exemplo de quando menos é mais no cinema, esse suspense com Christopher Walken aposta na dúvida sobre a presença de algo alienígena como personagem central na criação de tensão.

'A Invasão' (Prime Video)

Antes de virar sinônimo de polêmicas escatológicas e comédia na televisão, Charlie Sheen estrelou esse competente filme que trabalha na ideia de interceptação de mensagens do espaço sideral.

'Guerra dos Mundos' (Netflix)

Que tal um Spielberg mais expansivo, de carona em um Tom Cruise trabalhado na correria costumeira? Essa adaptação da história de H.G. Wells tem isso e mais um pouco; necessária para os fãs do diretor.

'Distrito 9' (UOL Play)

Outro excelente trabalho de estreia de um diretor que surpreendeu, o filme usa linguagem de documentário e efeitos visuais impressionantes para te convencer que aliens são reais e discutir questões sociais fortes.

'Sob a Pele' (Prime Video)

Mais intimista e artístico, essa história sobre uma alienígena que se disfarça de humana para se alimentar de homens carrega uma performance impressionante de Scarlett Johansson.

'A Chegada' (Netflix)

Amy Adams brilha nessa história de invasão que captura com perfeição a sensação de sobrecarga que tomaria alguém ao encarar de frente a vastidão do universo e suas formas de vida alternativas.

'Aniquilação' (Netflix)

Provavelmente o filme mais alucinógeno da lista, com forte influência de Lovecraft. Não o encare em busca de respostas, mas sim de combustível para questionamentos sobre a vida, o universo e tudo mais.

O que o público do UOL recomenda?

No Twitter, perguntamos qual filme de invasão alienígena nossos leitores recomendavam e parece que o mestre Steven Spielberg e seu clássico "E.T. - O Extra-Terrestre" continua imbatível na missão de invadir os corações de quem o assiste. Veja as dicas:

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL