Assistir à quarta e última temporada de "13 Reasons Why", que estreou na última sexta, é difícil. Os dez episódios se arrastam e têm muito pouco a dizer, o que é frustrante para quem gostou da primeira temporada da série —que deveria ter sido a única, vamos combinar.
Baseada no livro "Os Treze Porquês", de Jay Asher, a série criou uma história comovente e instigante sobre o que levou Hannah Baker (Katherine Langford) a tirar a própria vida. Sem entrar na questão das cenas explícitas de estupro e suicídio, um erro grande da série e que rendeu bastante polêmica na época, a trama em si era bem contada e conseguia fazer o público sentir empatia com os personagens.
Nas temporadas seguintes, isso se perdeu completamente. Ainda que houvesse histórias interessantes como a de Jessica (Alisha Boe) se recuperando do trauma de ter sido estuprada por Bryce (Justin Prentice), e a de Justin (Brandon Flynn) tentando superar o vício em drogas, a série virou uma bagunça e começou a empilhar desgraças sem levar a algum lugar.
"Tem que melhorar". Mas a série definitivamente não melhorou.
Acabou a empatia (e o assunto)
E é esse o principal problema da quarta temporada: não há muito mais a dizer. E, a partir daqui, o texto está cheio de spoilers, tá?
Bryce está morto, e Monty (Timothy Granaderos), convenientemente assassinado na prisão, foi considerado culpado pela sua morte. Winston (Deaken Bluman), que estava envolvido com Monty, se transfere para a Liberty High para tentar descobrir a verdade, e a turma tem de lidar com os traumas e o medo de terem os crimes expostos.
Dez episódios de uma hora cada (com um final de 1h30), no fim, são muitos para uma história tão rasa, que termina com soluções fáceis demais e não desenvolve os personagens. E o pior: você não consegue mais sentir empatia por ninguém, salvo poucos momentos.
É difícil, especialmente, simpatizar com Clay Jensen (Dylan Minnette). Ele agora sofre o peso da culpa, tendo alucinações e crises de pânico, mas não abre mão do papel de salvador do grupo e vê Justin como o "novo filho favorito de seus pais". Não seria um problema tão grande, se ele não fosse o protagonista da série...
Atirando para todos os lados
Para compensar a ausência de uma história consistente, a quarta temporada de "13 Reasons Why" tenta apelar para uma coleção de problemas sérios que afetam adolescentes no mundo todo: questionamentos sobre sua sexualidade, alcoolismo, ativismo e o uso de forças policiais em escolas.
São assuntos relevantes que fazem parte da vida de milhares de adolescentes, mas que, nas mãos do showrunner Brian Yorkey, simplesmente não são bem aproveitados e não têm consequências reais. E, no caso da relação entre estudantes e a polícia, vamos dizer que não só o tema é mal desenvolvido, como ainda tem um timing péssimo...
Há ainda um "quem morreu?", introduzido por cenas em um velório, mas o mistério é esquecido rapidinho e só volta a dar as caras na reta final.
Precisava de tudo isso? Não.
O que se salva
O aspecto bom da temporada é que os atores continuam a entregar momentos impactantes, em especial Alisha Boe e Brandon Flynn. Os dois são responsáveis por algumas das (poucas) sequências verdadeiramente emocionantes da série.
Christian Navarro, como Tony, também ganha a oportunidade de mostrar mais o seu talento e explorar novos lados de seu personagem, agora com mais tempo em cena.
Há ainda momentos que mostram que a série poderia ter dado certo, como a tensão do sexto episódio, que se passa quase inteiramente dentro da escola, ou as cenas mais leves no baile de formatura.
Fica a sensação de que "13 Reasons Why" poderia, muito bem, ter tentado não se levar tão a sério em sua transição para o suspense e o mistério —mas ela se perdeu no meio do caminho, esqueceu seu propósito e perdeu o brilho. Uma pena.
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