Lobão vê 'vitimização' da esquerda e diz que direita 'tem recalcados'
Lobão disse hoje, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, que a direita "não tem intelectuais, tem recalcados". A crítica do cantor se refere justamente ao espectro político com o qual ele se identificou em parte dos anos 2000. Por outro lado, ele afirmou que a esquerda tem "pau mole" e pratica "certos tipos de vitimização".
"A direita não tem intelectual, tem recalcados. A direita, tô falando de uma maneira ativa, aqui é um subproduto. Temos pouquíssimas seríssimas pessoas, o Martim Vasques da Cunha, o Bruno Garschagen, tem algumas pessoas que são realmente muito boas. O intelectual de direita eu considero que é um observador que tem uma riqueza de informações, mas é uma raridade, me incluo nesse rol, e ficamos num sanduíche. A direita, que o Reinaldo Azevedo chama de 'direita chucra', impera e abunda", ponderou.
A esquerda também não foi poupada das críticas, e Lobão deixa claro que sua rejeição ao governo atual não o reaproxima de ideais normalmente ligados a esquerdistas.
"Não é que [a esquerda] tenha 'pau mole'. Acho que o intelectual de esquerda é o campeão mundial de 'punheta' de pau mole. Porque eu acho que há certos tipos de vitimização e de um auto centrismo da esquerda, que ela, realmente, quando vejo determinadas músicas de protesto, é uma 'punheta de pau mole'. Não tem a visceralidade de um rock ou de uma música de protesto, de um Bob Dylan", avaliou.
"Você pensa assim, o subtexto poderia ser 'que peninha que tenho de mim'. Essa característica de vitimização, de se achar tão perseguido. Quero deixar bem claro que não estou atribuindo a ter ou não ter razão, de ser ou não percebido. Eu nunca vou me colocar como vítima, não vou ficar 'ai, puxa'. Acho uma atitude mórbida, que é esteticamente carente de privacidade, de teor de força, dinâmica, de colorido, de atitude, de enfrentamento", completou.
Lobão: Governo tem intenção de 'destruir classe artística'
Em outro trecho da entrevista, Lobão afirmou que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) tem, em sua opinião, "intenção de destruir completamente a classe artística no Brasil".
"A Secretaria da Cultura está albergada no Ministério do Turismo e são evidentes interesses conflitantes. O Ministério do Turismo é a favor do looby de livrar os hotéis, navios e vários meios de transporte de arrecadação de direito autoral. E a Secretaria da Cultura, que está dentro do Ministério do Turismo, organicamente defenderia o contrário. É notória e gritante a intenção desse governo de destruir completamente a classe artística no Brasil. Essa é a situação que estamos vivendo", criticou o cantor.
Olavo de Carvalho é 'traiçoeiro', alerta Lobão
Lobão fez um alerta sobre Olavo de Carvalho, ideólogo do presidente Jair Bolsonaro desde a campanha. Ao Roda Viva, o cantor explicou por que sua admiração à "doçura" do escritor foi substituída pelo "susto" ao descobrir que se trata, em sua visão, de uma pessoa "traiçoeira". Ele deu a entender que o autodenominado "filósofo" se adapta a cada interlocutor e molda uma imagem diferente dependendo do que precisar.
"O Olavo que aparecia [em entrevistas com Lobão] se mostrava afável, contra intervenção militar, apoiou PSDB em determinada época, a gente fazia reuniões com grupos de rua. Albergado pela minha tirania, talvez, ele se amoldou à minha imagem e semelhança e exalava doçura, um olhar benévolo. (...) Em um intervalo de um ou dois meses apareceu outro programa, no início de 2014, chamado 'Terça Livre'. Lá estava Olavo de Carvalho com Allan dos Santos, com uma persona totalmente diferente do que eu conhecia. Claro que desde que eu conheço o Olavo, eu vejo que ele é uma pessoa com altos e baixos, traiçoeiro", contou.
"O primeiro entrevero que tive com Olavo foi na primeira semana. Ele, com aquela coisa ambígua, disse assim: 'periga até do Lobão se tornar presidente do país'. Como se fosse algo absurdo que no país até um cara como Lobão pudesse ser presidente. Dei uma prensada e ele pediu desculpa com um verso francês que também nem entendi nada. (...) Houve essa mudança drástica de comportamento que me gabaritou a ter esse susto e descobrir com mais profundidade os meandros de toda aquela turma que depois passou a ser mais visível para todo o Brasil", completou.
Hoje, escolheria Bolsonaro ou Haddad?
Ex-apoiador do presidente da República, Lobão teve de responder o que faria se a eleição presidencial de 2018 ocorresse agora, em 2020, diante das novas opiniões que o cantor tem. Votaria de novo em Bolsonaro ou escolheria Fernando Haddad (PT) desta vez?
"Não vou votar, me absteria. Detesto fazer isso, não fiz naquela época porque lutei muito, passei 13 anos lutando contra o PT. Eu me absteria porque também acho que, inclusive, a grande estufa bolsonarista foi o PT, foi o que causou essa comoção, essa nova paranoia comunista, foro de São Paulo... Todo mundo com toda razão se assusta com Bolsonaro, mas a gente tem que lembrar do Lula pousando com Kadhafi. Ela [Dilma] tentou [impedir o impeachment], falou com Forças Armadas, mas não conseguiu. Mas levou o Brasil à maior recessão", rebateu.
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