Influencer que tentou receber auxílio do governo admite: 'Vivia numa bolha'
Resumo da notícia
- Influenciadores digitais receberam críticas por pedir o auxílio emergencial do governo
- Luis Guilherme Barros afirma que se arrepende do que aconteceu e que aprendeu com as críticas
- A advogada Cyntia Possídio explica que, caso alguém omita sua situação financeira para obter o benefício, estaria cometendo crime
- Luis lamenta a proporção que a história tomou, mas acredita que isso o ajudou a sair de sua bolha
Dois casos envolvendo influenciadores tentando receber o auxílio emergencial de R$ 600 do governo chamaram a atenção nas últimas semanas. Luis Guilherme Barros, de São José dos Campos, e Abner Pinheiro, de Salvador, foram criticados por terem se inscrito no programa para receber a ajuda financeira.
Abner disse no Instagram que seu pedido havia sido aprovado e que gostaria de comprar cestas básicas para doação com o dinheiro do auxílio. Procurado pelo UOL, não respondeu.
Já Luis, diante da perda de vários contratos por causa da pandemia, achou que o dinheiro pudesse ajudá-lo. Ele fez o pedido, foi aprovado, mas afirma não ter recebido o dinheiro. Acabou, de qualquer forma, duramente criticado pelos seguidores, especialmente depois de descobrirem que ele é dono de um Macbook, computador da Apple cujo modelo mais barato custa R$ 10.299 no site da marca.
Foi muita ingenuidade da minha parte. Decidi ver se eu realmente me enquadrava para receber o benefício e aproveitei para gravar o processo para os meus seguidores. Pensei que não estava tirando nada de ninguém. Quem decide é o governo, não sabia se seria aceito.
Depois das críticas, Luis repensou a atitude. "Não entendi o que tinha feito de errado. Eu vivo numa bolha e estou aprendendo de uma forma ruim o que é ser massacrado pelos outros. Fui alvo de várias pessoas. É uma questão de ser moral ou não. O dinheiro não é infinito. Existem pessoas que precisam mais. Não tem nada a ver eu ter solicitado, podia ter passado a informação de outra maneira", reflete.
Quem pode receber
O benefício do auxílio emergencial é destinado a trabalhadores em situação de vulnerabilidade diante da pandemia. São pagas três parcelas de R$ 600 cada, e os requisitos estão contemplados na Lei 13.982.
Para poder receber o auxílio, o inscrito precisa ser maior de 18 anos, não ter emprego formal, exercer atividade como MEI (Microempreendedor Individual) ou autônomo. Além disso, não podem ter o benefício pessoas que já recebem aposentadoria, auxílio doença ou algum outro benefício assistencial, salvo o Bolsa-Família. E o cidadão não pode ter recebido rendimentos tributáveis no ano de 2018 acima de R$ 28.559,70, uma média de R$ 2.300 por mês.
Cyntia Possídio, especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Fundação Faculdade de Direito da UFBA (Universidade Federal de Bahia), explica que Luis e Abner poderiam não saber se estariam enquadrados nos requisitos ou não. "Você vai ser punido por não saber? O governo é que vai te negar esse direito ou não", pondera.
O fato de ser um influenciador digital não faz com que ele tenha uma condição financeira específica. Se alguém provar que ele está omitindo informação para conseguir o benefício, aí sim é passível de crime
Nesse caso, a situação poderia se encaixar em estelionato, previsto no artigo 171 do Código Penal. "Ele estaria obtendo uma vantagem ilícita por supostamente não informar a situação econômica que ele tem para obter o benefício. A pena prevista é de reclusão de um a cinco anos e multa", explica Cyntia.
"Situações assim causam prejuízo a quem realmente necessita. Uma pessoa dessas precisaria ser punida não só no campo penal, mas também no campo civil. É um dano moral que ela está provocando a milhões de brasileiros. Nós precisamos ter responsabilidade com as condutas que adotamos", pontua. "Eu entendo quem criticou esse influenciador, pois há um indício fortíssimo de que ele não vive em situação vulnerável. Precisamos ter consciência."
Tribunal on-line
Luis conta que, no dia seguinte à publicação que fez em seu Instagram, seu nome se espalhou pelas redes sociais. "Os perfis de fofoca no Instagram querem aumentar a polêmica, colocar mais lenha na fogueira. Ninguém queria saber se eu tinha me desculpado. Começaram a sair notícias falsas sobre mim", relembra.
Uma coisa que me chateou bastante é que sempre sobra uma pessoa como alvo. Assim como a Pugliesi foi o [símbolo] de furar a quarentena. Muitos outros estão pedindo auxílio e furando quarentena também. Muitos perfis me atacaram e depois fizeram piada sobre auxílio emergencial. Se é tão sério, a ponto de levantar uma bandeira, não deveria ser motivo piada.
Desde que a quarentena começou, Luis conta que praticamente todos os seus contratos publicitários foram suspensos, mas também festeja estar gastando menos dinheiro do que costumava. Ele se arrepende de ter se inscrito para receber o auxílio e reforça que doará integralmente a quantia caso caia em sua conta.
"Foi uma iniciativa num momento egoísta para não deixar as contas atrasarem. Mas é um auxílio para pessoas que não têm comida na mesa, não têm como trabalhar", pondera. "Esse episódio trouxe diversos aprendizados. Precisei passar por isso para estourar essa bolha."
Precisei ser crucificado para outras pessoas entenderem. Mas é importante ter uma corrente por menos intolerância. Julgam muito, esquecem que a pessoa pública continua sendo um ser humano com sentimentos e emoções. As mensagens que uma pessoa cancelada recebe são muito fortes. Numa dessas, podem até entrar em depressão.
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