Artistas criticam Regina após fala sobre ditadura: "Vergonha de você"
Artistas criticaram Regina Duarte, secretária especial da Cultura no governo de Jair Bolsonaro (sem partido), logo depois de sua entrevista à CNN Brasil, realizada em seu gabinete, em Brasília, na tarde de hoje.
Na conversa, por exemplo, Regina cantarolou a música "Pra frente Brasil", criada para inspirar a seleção na Copa do Mundo de 1970, mas também muito associada ao período da ditadura militar. (Assista ao vídeo acima)
"Não era bom quando a gente cantava isso?", perguntou ela, sorridente. Constrangido, o jornalista Daniel Adjuto tentou justificar: "É que foi um período muito difícil, tem muita história, muita gente morreu na ditadura. É essa a questão".
Em seguida, Regina minimiza o período. "Cara, desculpa, eu vou falar uma coisa. Assim, na humanidade não para de morrer. Se você fala em vida, do outro lado tem morte. E as pessoas ficam 'ó, ó, ó'. Por quê?", argumentou. "É porque houve tortura, secretária", interrompeu Adjuto.
"Bom, mas sempre houve tortura. Meu Deus do céu, Stalin, quantas mortes? Hitler, quantas mortes? Não quero arrastar um cemitério de mortos nas minhas costas. Não desejo isso para ninguém. Sou leve, estou viva, estamos vivos, vamos ficar vivos", concluiu Regina.
Nas redes sociais, artistas como Bruno Gagliasso, José de Abreu e o youtuber Felipe Neto,, entre outros, criticaram a postura de Regina Duarte.
"Não dá pra desculpar não, Regina. Não dá pra desculpar o seu deboche com torturados pelo Estado, sua naturalização da barbárie. Não dá pra desculpar sua arrogância ao dar de ombros às minorias, esquecendo-se que a senhora é parte do governo e tem a obrigação de trabalhar para todos, não apenas sua pretensa maioria. Não dá pra desculpar seu silêncio, sua falta de projetos, a forma como você trata os trabalhadores do audiovisual brasileiro. Não dá pra desculpar sua falta de diálogo com a categoria, a sua estupidez com jornalistas e ex-colegas de trabalho. Não dá pra desculpar a preferência que a senhora tem por ditadores, genocidas, irresponsáveis, gente sem compromisso com a verdade e com a vida. Não dá pra desculpar os 9.146 corpos que estão enterrados com uma pá de descaso do seu governo. Não dá pra desculpar todos esses caixões que a senhora desenterra e carrega nas costas junto com seu governo e com sua ideologia monstruosa. Não dá pra te desculpar, Regina. Não dá pra desculpar", escreveu ele. "Que vergonha de você".
"Viram quem é a namoradinha fascista do Brasil? De nada", afirmou Abreu, fazendo trocadilho com uma de suas personagens em novelas, logo após o término da entrevista.
"Foi assim que Regina respondeu a respeito do período da ditadura, sobre torturas e mortes. Cuidado ao assistir: A vontade de vomitar vai ser grande", pontuou.
Antonio Tabet, fundador do grupo "Porta dos Fundos", disse que "Regina Duarte foi tão verdadeira hoje como vilã canalha, asquerosa e mau caráter".
Marido de Deborah Secco, o ator Hugo Moura também criticou a secretária. "Regina Duarte pegou o Bolsovirus. Atacar a imprensa, passar pano pra tortura e ser desvairada são sintomas muito claros"
"Acabei de assistir a entrevista de Regina Duarte: asqueroso. A cultura não tem a menor chance nesse cenário terrível", escreveu o músico Lobão.
No Instagram, a cantora Anitta foi até o perfil de Regina Duarte e se manifestou através de textão.
"Uma pessoa que aceita assumir a secretaria da Cultura está aceitando trabalhar para o povo, isso significaria escutar também os lados que pensam diferente da senhora e colocar sua posição sobre a questão. Se recusar a ouvir uma opinião contrária logo depois de enaltecer os tempos de ditadura me causa muito medo. Até porque eu e muitos dos meus amigos seríamos os primeiros censurados caso esse regime voltasse ao Brasil e nós continuássemos no exercício do nosso trabalho. Gostaria de dizer que a cultura no Brasil vai muito além do ballet clássico, das orquestras sinfônicas e dos livros de poesia (que também são incríveis e têm seu imenso valor). Governar apenas para os que te causam afeição não é governar para o povo. Não seria mais inteligente responder com calma e sabedoria o que tem sido feito pela classe cultural em virtude dos acontecimentos da covid-19? Aliás, o que tem sido feito? Todas as prefeituras do Brasil possuem verbas de entretenimento para o povo. Agora, que não estão sendo utilizadas, para onde está indo esse dinheiro? A senhora não poderia tentar fazer com que ele estivesse indo para os trabalhadores da indústria que estão sofrendo com o momento? Por mais que a senhora não tenha medo do vírus, não deveria trabalhar também para os que têm e estão levando a situação a sério? Seu cargo só governa para quem pensa semelhante à senhora? E as famílias que perderam parentes com a doença? Como se sentiriam ouvindo um depoimento de quem faz pouco caso do momento? Onde está a empatia? Meu intuito aqui não é insultar e sim questionar", escreveu.
Críticas de Maitê Proença
Durante a entrevista, Regina Duarte também se irritou ao ouvir críticas em um vídeo gravado por Maitê Proença.
No vídeo que desencadeou a fúria de Regina Duarte, Maitê Proença faz críticas a atual gestão da secretaria da Cultura e ao governo Bolsonaro, que, segundo ela, "não fala com a classe".
"A Cultura está perplexa com a falta de informação com o que tem sido feito: o proposto daquilo que foi prometido: o proposto. É inexplicável o silêncio sobre uma política para o setor. Nós estamos sobrevivendo de vaquinhas. Nesse túnel comprido, e sem futuro a vista para arte, que afinal, se faz juntando gente. Mas, afinal, até quando isso vai se sustentar. São muitos poucos os que têm reservas financeiras para milhares [de artistas] que estão à míngua. Enquanto isso, morrem os nossos gigantes: Rubens, Aldir... Nenhuma palavra de nosso presidente, de nossa secretária. Regina, eu apoiei desde o início o seu direito a posição que divergia da maioria. Regina, fala com a gente", diz Maitê no vídeo.
Em seguida, Regina reclamou. "Muito obrigada. Muito obrigada. Foi preciso eu dar um chilique. Me desculpem os telespectadores. Para quê? Quem é você [Daniela Lima]?"
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