Conheça a cantora que fez Bonner chorar: 'Espalhando o vírus do amor'
O badalar dos sinos do convento das Irmãs Clarissas, na zona sul do Rio da Janeiro, indicava mais um fim de tarde de domingo. Mas aquele não foi um dia comum para a cantora lírica Juliana Sucupira. O temor pelo novo coronavírus se alastrava pelos lares brasileiros, e Juliana já estava em quarentena em seu apartamento no bairro da Gávea quando parou para fazer uma oração.
Assim começa a história mostrada no "Jornal Nacional" da última quinta-feira (30/4) e que fez William Bonner se emocionar.
"A cidade estava em silêncio, e eu nunca havia ouvido aqueles sinos tocarem tão alto. Me deu vontade de fazer uma oração e, como sou cantora, acabou saindo em forma de música. Meu marido estava ao meu lado e meu deu força para eu cantar. Sussurrei a letra de 'Ave Maria' como se fosse só para mim, mas uma vizinha do prédio da frente falou: 'Você que está cantando? Pode cantar mais alto?'. E eu cantei de novo, mais alto", conta Juliana.
Aconteceu algo emocionante. Todo o mundo começou a aparecer nas janelas dos prédios em volta, como se estivesse aguardando aquilo. Quando acabei de cantar, bateram palma e foi uma gritaria. Fiquei chocada, de boca aberta, e muito feliz com a reação tão carinhosa.
Há 43 dias consecutivos, sempre às 18h em ponto, Juliana vê a sua oração particular se transformar em um ritual, que passou a ser acompanhado por moradores dos arredores de sua casa. O evento diário cresceu em estrutura, com direito a caixa de som e microfone. E ganhou até nome: Música na Janela.
Mas nada disso foi planejado. A artista lembra que, bem no início, era só no gogó que atraía a atenção dos vizinhos, mesmo que por breves minutos. Hoje, a cantoria também é transmitida em lives pelo seu Instagram, amplificando a voz da cantora lírica para milhares de seguidores.
"Também costumo dizer que são as minhas gotinhas de esperança diárias, porque são três minutos de música. Mas eu nunca digo qual será cantada", conta ela, que entoa uma canção por dia. A plateia de Juliana é formada pelos vizinhos que estão nas janelas, mas também pelos que passeiam com os cachorros no fim de tarde.
A emoção de William Bonner
Juliana Sucupira jamais poderia imaginar que faria William Bonner derramar algumas lágrimas em pleno "Jornal Nacional". A cantora se diz grata pela reportagem de Pedro Bassan, que, segundo ela, conseguiu levar sensibilidade aos telespectadores do telejornal de maior audiência do país.
"Em tempos de notícias tão tristes, precisamos de um tom poético. O meu coração estava na boca, e vi o Bonner também emocionado... Mas acho que eu fiquei mais tocada ainda."
Pensei em como deve ser difícil para os jornalistas, tanto quanto eu achava que era para os médicos e os profissionais da saúde. Ir a hospitais, ver pessoas chorando, contando suas histórias, nas filas dos bancos precisando de dinheiro. Ou mesmo para quem está na bancada todos os dias, revendo aquelas cenas e relatando tanta tristeza. Acho que ele [Bonner] pôde respirar com uma reportagem recheada de amor. Achei bonito que ele se expressou sem esconder a emoção.
Homenagem para Cissa Guimarães
A experiência do confinamento não poderia ser mais proveitosa para a cantora lírica, que segue em casa com o marido e os três filhos.
"É um paradoxo estar confinada e, ao mesmo tempo, fazendo tantas amizades. É uma experiência incrível. Em uma das lives, comentei que seria meu aniversário de casamento e ganhei um espumante. Concordo que estou fazendo o bem para as pessoas, mas a mim me faz muito bem também, porque sinto medo. Estou presa em casa e sou do grupo de risco. Tive câncer quatro anos atrás. Agora tenho essa missão, não posso deixar de cantar. Eu me sinto espalhando o vírus do amor."
Uma das vizinhas famosas de Juliana é Cissa Guimarães, com quem a cantora estreitou laços por conta do Música na Janela. As duas trocaram mensagens, e Juliana realizou uma homenagem no aniversário da apresentadora do "É de Casa".
Ao final, eu estava no microfone e falei: 'Feliz aniversário, Cissa Guimarães'. O bairro veio abaixo. Foi muito legal. É uma vizinha querida, cumprimenta todo o mundo e sorri com os olhos. Ela irradia luz. Quando aparece nas minhas lives, o pessoal acha o máximo.
"Música é o ar que eu respiro"
Juliana Sucupira canta desde a infância. Aos 7 anos ela entrou no coro infantil do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, motivada por um episódio marcante: o casamento da princesa Diana com o príncipe Charles.
"Enquanto todas as meninas da minha idade estavam enfeitiçadas por ver uma princesa de verdade, eu fiquei enlouquecida por um coro de crianças [que cantou na cerimônia]. Pareciam anjinhos. Eu queria cantar daquele jeito. Participei do coro do Teatro Municipal até os 16 anos, quando viajei pelo Brasil inteiro e cantei até com Plácido Domingos", recorda ela.
Juliana se formou em canto lírico e atualmente integra o coro sinfônico do Rio de Janeiro. Ela também atua com uma orquestra em que realiza eventos corporativos, casamentos e festas. "Música é o ar que eu respiro", define.
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