Prédio em SP ganha grafite com lama de Brumadinho e releitura de Tarsila
Do UOL, em São Paulo
30/01/2020 13h57
Um prédio da região da Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, ganhou uma homenagem às vítimas de Brumadinho, usando como matéria-prima restos do rompimento da barragem da Vale, em Minas Gerais. Trata-se do grafite Operários de Brumadinho, realizado pelo paulistano Mundano com lama que vazou do local da tragédia e com uma releitura de Tarsila do Amaral.
"Pra não cair no esquecimento e continuar cobrando justiça, resolvi me desafiar a fazer a maior obra da minha vida usando a lama tóxica da Vale como tinta", explicou ele, no Instagram.
"A obra final tem mais de 800 m2 e é uma releitura de Operários (1933), de Tarsila do Amaral . Ela compõe a série releituras mundanas e pode ser vista na lateral do Edifício Minerasil, em frente ao Mercado Municipal de São Paulo", acrescentou.
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"Um abraço caloroso em todos os atingidos e atingidas por barragens nesse dia tão difícil. E, um agradecimento a todos e todas que com muita garra construíram juntos essa obra tão desafiadora", concluiu, no dia que o incidente completou um ano.
Lama virou tinta
Mundano contou o processo complicado de usar como tinta a lama de Brumadinho: Peneiramos e misturamos 270 litros de tinta, foi um desafio físico também. Pintar com a lama foi outro, cada um dos 15 tons tinha uma consistência única, cada cobertura era diferente da outra e quando secava elas mudavam muito de cor. Essa obra tem mais de 800 m2 de área e virou uma batalha com o nosso próprio corpo pra pintar tudo", explicou ele.
"Foram 7 dias de preparação da parede que estava toda descascando e mais 6 dias de pintura. Uma verdadeira maratona que nos deixava com os músculos todos doloridos. Outro desafio é a altura, apesar de trabalhar com toda segurança o tempo todo, tem sim um friozinho na barriga de estar a 50 metros de altura balançando. (...) Essa obra só saiu porque chamei um time de artistas muito talentoso e mão na massa que eu já tinha trabalhado antes", detalhou Mudano.
Para o artista, a ideia de homenagear Tarsila com uma releitura de Operários surgiu após participar de um protesto e ver as fotos das vítimas lado a lado. Mundano percebeu os paralelos da arte clássica com o Brasil do século 21. Apesar de não trazer rostos fiéis dos mortos em Brumadinho, ele diz que usou suas expressões.
"Suas expressões eu nunca mais esqueci e fizeram parte da base das faces mescladas com as da obra original e com os traços de trabalhadores que encontrei durante a produção indo de metro, andando na rua e com o público do Mercadão", explicou ele, citando Tarsila. "Pra representar essa obra era necessário atualizá-la pra 2020, e o louco é que, 87 anos depois, tirando o aumento da poluição, pouco mudou."
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