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Com séries novas, HBO se recuperou do final duvidoso de Game of Thrones

Cena do último episódio de Game of Thrones - Divulgação
Cena do último episódio de Game of Thrones Imagem: Divulgação

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

02/01/2020 13h55

Em 2019, a HBO viu seu maior fenômeno chegar ao fim de maneira ambígua. O mundo parou para assistir à última temporada de Game of Thrones, mas o final apressado da série foi (justificadamente) mal recebido por fãs e críticos, manchando a história daquela que foi a maior série da década. A redenção da emissora, no entanto, veio nos meses seguintes, com várias estreias que provaram que a HBO tem, sim, potencial para seguir firme e forte na briga pela nossa atenção.

O grande destaque foi para Watchmen. Damon Lindelof (Lost, The Leftovers) levou às telas uma continuação que atualiza a HQ icônica de Dave Gibbons e Alan Moore, com uma história que se desenrolou aos poucos, em uma quebra-cabeças fascinante que envolveu até aqueles que não tinham contato com o material original.

Watchmen se tornou uma sensação do boca a boca ao longo das nove semanas em que ficou no ar. Nos Estados Unidos, a produção acumulou uma média de sete milhões de espectadores por episódio, o que a colocou como a série estreante mais vista da HBO desde o estrondo de Big Little Lies, em 2017. O episódio final da temporada foi visto por 1,6 milhões de pessoas só no dia de sua exibição, um recorde para a série.

A trama conquistou também a crítica especializada. Com sua narrativa única e sua estética singular, atraiu elogios e foi colocada em várias listas de melhores do ano ao redor do mundo - incluindo a do UOL. Ainda não se sabe se ela terá uma nova temporada.

Tão aclamada quanto Watchmen foi Chernobyl, minissérie de seis episódios escrita por Craig Mazin (Se Beber Não Case). Com um elenco afiadíssimo liderado por Jared Harris, a produção traçou um painel desesperador das circunstâncias que levaram ao desastre nuclear de 1986 e do descaso com que suas consequências foram tratadas, à época, pelo governo soviético. O resultado agradou, e Chernobyl abocanhou três prêmios Emmy, incluindo o de melhor minissérie, roteiro e direção.

A HBO também se saiu bem com produções originais que não estavam atreladas a histórias já conhecidas do público. Euphoria, criada por Sam Levinson, foi uma grata surpresa com seu retrato cru do dia a dia de um grupo de adolescentes a partir da perspectiva de Rue (Zendaya), adolescente que retorna após uma temporada em um centro de reabilitação. Com uma história envolvente, contada de maneira que chegava a beirar o surreal em algumas sequências, a série provou ser muito mais do que um acumulado de cenas "para chocar".

Euphoria ainda se converteu em um verdadeiro fenômeno das redes sociais e lançou tendências. Por semanas, era impossível circular nas redes sociais sem dar de cara com as maquiagens neon inspiradas nas personagens da série.

Outra a conquistar repercussão por captar o zeitgeist, ainda que de forma bem diferente, foi Years and Years. A minissérie, parceria da HBO com a BBC, deixou a sutileza de lado em sua visão distópica sobre o nosso presente, usando o exagero para tratar de temas como crise de refugiados, transhumanismo, crises do sistema financeiro e a ascensão de líderes populistas e autoritários, personificados na figura de Viv Rook (Emma Thompson, incrível).

A programação da emissora ainda trouxe outras novatas elogiadas, como Gentleman Jack, Mrs. Fletcher e His Dark Materials, adaptação da trilogia literária Fronteiras do Universo, de Phillip Pullman. Embora parte do mercado duvidasse, a HBO deixou claro que há, sim, vida pós-Game of Thrones.

E o ritmo continua a pleno vapor em 2020. Ainda este ano, estrearão produções estreladas por Nicole Kidman, Winona Ryder, Mark Ruffalo e Phoebe Waller-Bridge, que se tornou a menina dos olhos da crítica após o sucesso de Fleabag. Ainda não há como saber se elas serão bem-sucedidas, mas uma coisa é certa: a HBO deve seguir forte enquanto se acirra a guerra de conteúdo na TV (e no streaming).