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Plácido Domingo quebra silêncio sobre acusações de assédio: "Inconcebível"

Placido Domingo cancelou apresentação na opera de Nova York após acusações de assédio sexual - Danil Shamkin/Barcroft Media
Placido Domingo cancelou apresentação na opera de Nova York após acusações de assédio sexual Imagem: Danil Shamkin/Barcroft Media

Do UOL, em São Paulo

30/11/2019 12h53

O cantor Plácido Domingo comentou as acusações de assédio sexual que pairam sobre ele antes de se apresentar em Valência, na Espanha, neste final de semana.

"Tem sido meses muito difíceis, mas quando estou no palco ensaiando e rodeado pelos meus colegas, me sinto tranquilo e fortalecido. Depois de mais de meio século de vida pública, aparecendo nos palcos, revistas, televisões, restaurantes, aeroportos e diversas outras atividades sociais, penso que as pessoas deveriam me conhecer de sobra. As muitas pessoas com quem tratei sabem que nunca me comportei de maneira assediadora, agressiva e vulgar como me acusaram", declarou o artista, em entrevista à "ABC".

Segundo reportagem publicada em agosto pela Associated Press, mais de 20 mulheres alegam terem sido assediadas pelo artista no fim dos anos 80, acusações que ele nega de forma veemente.

"Nunca lhe prometi nenhum papel e muito menos uma carreira. Jamais coloquei obstáculos no caminho de ninguém e tampouco imporia ou machucaria nenhum cantor. Esse trabalho requer muito sacrifício, muita preparação e muito valor. Muito pelo contrário: me dediquei a buscar, a descobrir talentos e a apoiar e lançar carreiras de muitos jovens artistas, tanto mulheres como homens de todas as nacionalidades através do programa de jovens cantores que criei e do concurso Operalia, que fundei faz 20 anos", explicou Domingo, que acrescentou:

"O abuso do meu cargo de gerência dentro da estrutura administrativa das óperas de Washington e Los Angeles, onde trabalhei, é tão impossível quanto inconcebível. Sempre havia entre três e cinco pessoas envolvidas na tomada de decisão coletiva sobre os acordos e outras medidas artísticas. Eu nunca me envolvi na assinatura dos contratos. Sempre houve gerentes de outras áreas do teatro: administrativa, musical e técnica, envolvidos na tomada de decisões. Sou a favor da democracia e sou o primeiro a promover o diálogo entre meus colaboradores. Posso comentar e sugerir, mas nunca impus ou anulei ninguém."

Confira outros trechos da entrevista

Como a família encarou as denúncias?

"Está sendo um período muito difícil para todos, mas minha família está mais unida que nunca e me apoiando 100%."

Recepção calorosa do público em Zurique

"A apresentação em Zurique foi definitiva para o meu ânimo. A acolhida tão carinhosa e solidária com que o público me recebeu me emocionou profundamente e me deu uma grande sensação de serenidade e segurança.

O que sentiu na primeira apresentação após o escândalo vir à tona?

"A apresentação de Salzburg foi muito comovente. Estava tremendamente nervoso e não sabia o que esperar. O público me recebeu de uma maneira tão calorosa que encontrei a serenidade e a força para cantar. A ovação ao final foi um reconhecimento de uma apresentação extraordinária por parte de todos."

Por que pediu demissão da ópera de Los Angeles?

"Tomei essa penosa decisão pelo meu desejo de evitar problemas para as instituições que são tão queridas para mim. O Metropolitan havia sido minha casa artística durante mais de 50 anos e me apresentei ali mais vezes que em qualquer outro teatro do mundo. A Ópera de Los Angeles é o teatro que ajudei a criar e a desenvolver até ele se tornar um dos mais importantes dos Estados Unidos.

Ficou surpreso com alguns teatros dos EUA cancelarem suas apresentações?

"Sim, claro que sim. Ante a opinião pública eu fui acusado, julgado e condenado de uma vez só sem o mínimo benefício da dúvida, incapaz de dizer nada ante uma manobra incrível e imparável. Durante as três semanas de ensaios de Macbeth que tive no Metrpolitan nunca senti e nem vi nenhuma rejeição. Pelo contrário, fui acolhido com carinho e companheirismo por meus colegas de coro, da orquestra e de todo o estafe em geral. Os teatros europeus focaram em se recordar como sou, e simplesmente escolheram conservar a relação que cultivamos durante décadas."

Por que decidiu não cantar no Metropolitan de Nova York?

"Foi uma decisão muito dolorosa. Depois de 51 temporadas ininterruptas e apenas dois dias depois de cantar no ensaio geral de Macbeth com Anna Netrebko, foi a decisão mais dura, mas mais cabal que podia tomar. Quis evitar uma situação incômoda e proteger a direção do teatro e os meus colegas da pressão midiática e política que se desencadeou."

Pensou em algum momento em se aposentar?

"Não, absolutamente, não. Tenho compromissos firmados até o final de 2021 e muitos outros estão perto de serem fechados. Enquanto me sentir em forma, seguirei aceitando os convites para cantar que me fizerem, pois continuo com a mesma paixão e entusiasmo de sempre. Também seguirei com meu concurso, o Operalia, que é uma das minhas grandes prioridades."