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HBO reconstrói aeronaves de Santos Dumont para contar história do aviador

Santos Dumont com uma de suas invenções na minissérie homônima da HBO - Divulgação/HBO
Santos Dumont com uma de suas invenções na minissérie homônima da HBO
Imagem: Divulgação/HBO

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

10/11/2019 04h00

Faz mais de um século desde que Alberto de Santos Dumont alçou voo com seu 14 Bis, em 23 de outubro de 1906 - fato que o tornaria conhecido, ao menos no Brasil, como o "pai da aviação". Sua história, no entanto, foi pouco explorada na TV e no cinema. Agora, ela será contada em Santos Dumont, minissérie de seis episódios que estreia hoje na HBO.

A produção, capitaneada pelos diretores Estevão Ciavatta e Fernando Acquarone, pretende retratar a história do célebre inventor brasileiro em um período que vai desde sua infância até sua morte, aos 59 anos. E suas criações, claro, ocupam um papel essencial desde o primeiro capítulo, que tem como grande estrela um dos dirigíveis feitos por Dumont.

"Foi a maior frota já reunida de Santos Dumont", define Ciavatta em entrevista ao UOL. Mais de dez invenções do aviador foram recriadas para a minissérie, entre elas o célebre 14 Bis e o Demoiselle, um avião mais moderno. Tudo com a ajuda do engenheiro aeronáutico Alan Calassa, que já havia criado uma réplica do avião mais famoso de Dumont. "A gente juntou forças, e ele construiu mais dois dirigíveis. Foi um esforço colossal", lembra Acquarone.

João Pedro Zappa é Santos Dumont na série da HBO Santos Dumont: Mais Leve que o Ar - Divulgação/HBO - Divulgação/HBO
João Pedro Zappa é Santos Dumont na série da HBO Santos Dumont: Mais Leve que o Ar
Imagem: Divulgação/HBO

Nas filmagens, isso se traduziu em um cuidado redobrado. "Era uma situação muito delicada, porque são aeronaves leves ao ar livre, algumas delas penduradas a quarenta, cinquenta metros de altura com atores, e outras voando de fato. É tudo feito com muito cuidado, muito planejamento", explica Ciavatta.

Não foram as cenas de voo, porém, que mais intimidaram o ator João Zappa (Gabriel e a Montanha), intérprete de Santos Dumont na maior parte da série. "Eu me divertia muito nos voos. Era o meu respiro. Eu me sentia o próprio Santos Dumont", brinca o artista, que aprendeu a pilotar as aeronaves (em terra) com a ajuda de Calassa.

Para Zappa, as sequências mais desafiadoras foram as que envolveram grandes alturas. "Uma das que me deu medo foi quando eu tive que ficar pendurado do lado de fora de um prédio. Quando fui passar para o lado de lá deu um certo frio na barriga, mas foi rápido", recorda. Situação semelhante aconteceu quando ele teve de fazer uma cena em que Dumont se acidenta e fica preso a uma árvore. "Eu também estava segurando uma corda, mas para escondê-la eu ficava em uma posição em que ela não ficava rígida; se eu caísse, eu iria ficar pendurado".

O ator, no entanto, decidiu antes que não iria deixar o medo atrapalhar seu trabalho. "Não ia fazer com que a equipe perdesse tempo por conta de eu estar com medo de entrar num negocio desse, porque já era um projeto muito complexo. Não podia me dar esse luxo. E Santos Dumont não tinha medo", diz, categórico.

Fotos e francês

Para compor sua versão de Santos Dumont, Zappa mergulhou nas biografias do inventor e nos registros que se têm dele. "Li os dois livros que ele escreveu em vida, então fui conhecendo muito da história dele através do que ele mesmo contava", conta. "E eu ficava olhando muito para as fotografias dele. Às vezes passava horas olhando para uma mesma fotografia, absorvendo o máximo que eu conseguia por trás daquela expressão de vida que está ali".

O ator também teve que aprender francês, uma vez que Santos Dumont passou boa parte na França e, por isso, a minissérie incorporou vários diálogos na língua do país. "Estava muito preocupado com conseguir aprender a ponto de poder improvisar, caso preciso", explica. "Foram cinco meses intensivos todos os dias, praticando, martelando os fonemas."

A versão de Zappa para Santos Dumont chegará a mais de 70 países, segundo a HBO. Mas os diretores esperam que a série permita que os próprios brasileiros conheçam mais dessa personalidade histórica. "O fato de ele ter virado um herói brasileiro o relegou a um pedestal, um lugar em ninguém sabe nada além do nome de praças e avenidas", reflete Estevão Ciavatta, afirmando que a própria questão da disputa com os irmãos Wright em torno da criação do avião contribui para que Dumont não seja tão valorizado em seu país de origem.

"A gente quer muito acabar com essas dúvidas, mesmo que o personagem continue misterioso. É uma ficção, é um drama, então tem que ser assim, mas a gente quer dizer que ele foi foda", conclui.

Santos Dumont, a minissérie, vai ao ar às 21h, na HBO.