A Linha: Como é a experiência de realidade virtual mais falada da Mostra de SP
Um dos grandes destaques da 43ª edição da Mostra de Cinema de São Paulo não é um filme, mas sim uma experiência de realidade virtual (VR, na sigla em inglês). Trata-se de A Linha, um curta brasileiro que foi premiado como a melhor experiência interativa no Festival de Veneza, em setembro.
Produzida pelo estúdio Arvore, a produção coloca o espectador para acompanhar a adorável história de amor de Pedro e Rosa, em um cenário que remete à São Paulo dos anos 1940.
Basta um óculos de realidade virtual e um joystick para você ficar totalmente imerso no universo dos dois personagens, que têm suas existências limitadas por trilhos - a linha do título. Isso enquanto escuta a voz de Rodrigo Santoro, na narração em inglês, ou a de Simone Kliass, em português.
Por 15 minutos, você acompanha os personagens ao longo do que parece ser uma grande maquete, sendo responsável por ações simples que levam a trama adiante, como o giro de uma manivela ou o aperto de um sino. Não é como um videogame, em que você precisa aprender os comandos: é necessário apertar só um botão enquanto você realiza as ações, o que torna a experiência bem mais acessível.
Você caminha, se abaixa, leva objetos de um lugar para o outro e, ao fim da história, já se esqueceu totalmente do ambiente em que estava. "A gente queria criar essa sensação de ownership [propriedade], em que a história se torna sua e você tem que se mexer para chegar nela", explica ao UOL o diretor Ricardo Laganaro.
O processo para chegar a isso envolveu muita pesquisa - e muitos testes. "A gente foi estudar os painéis de controle das primeiras estações de trem, como eram os botões, para ser o mais básico e intuitivo possível".
A Linha entrou em desenvolvimento no fim de 2018, tendo como base um roteiro de Lagnaro que havia passado mais de uma década na gaveta. Cerca de 30 pessoas trabalharam no projeto, que teve de ganhar um impulso antes de ser enviado à Veneza. "Quando descobrimos que havíamos sido selecionados, aumentamos a equipe com pessoas para fazer cenas standalone, como a abertura e o final", lembrou.
Foi pouco antes de levar o curta ao festival que a equipe conseguiu assegurar a participação de Santoro. O ator, já conhecido do público internacional por produções como Lost e Westworld, gravou sua narração em meia diária, em um dia de folga das gravações da série Reprisal, do Hulu.
"Peguei o avião na segunda, cheguei na terça, gravamos na quarta, na quinta eu editei, na sexta a gente estava implementando, e mandamos na semana seguinte pra Veneza. Foi um encontro feliz", conta Laganaro.
A premiação em Veneza, avalia o cineasta, é importante para consolidar a realidade virtual no cenário artístico. "Gera um endosso do que a gente está fazendo. Tem o pessoal do cinemão que é meio resistente, que acha que o que a gente faz outra coisa. E é, mas não é. Estamos tentando descobrir como trazer o cinema para essa nova forma de arte".
E ela representa, também, traz uma oportunidade única para levar o nome do país para o mercado de conteúdo em VR. "A gente fez muita questão de tentar colocar o Brasil nesse mapa como protagonista e trazer cores, texturas e sabores brasileiros".
A Linha fica em cartaz na Mostra até o dia 30 de outubro. Depois disso, ela entrará em cartaz na Voyager, centro de entretenimento em VR que conta com três unidades, duas em São Paulo e uma em Curitiba - mas há planos para levar a experiência a outros públicos, segundo Laganaro. "A gente está conversando com Sesc, com o Circuito SPCine, todos os lugares que levam cultura com tecnologia. A gente quer levar para o máximo de lugares possíveis aqui no Brasil".
Serviço - A Linha na Mostra de SP
Quando: até o dia 30/10
Horários: das 15h30 às 20h30
Onde: Auditório do CineSesc (rua Augusta, 2075 - Cerqueira César)
Quanto: entrada de meia em meia hora, gratuita, mediante retirada de ingresso
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