Boleiro na vida e ficção, Nuno Leal Maia diz já ter visto compra de jogos no futebol
Estrelada por Márcio Kieling e Nuno Leal Maia, a série Chuteira Preta, da Amazon Prime, vem mostrando o lado podre do futebol: partidas arranjadas, presidentes mancomunados, empresários inescrupulosos envolvidos em negociatas, jogadores manipulados por igrejas evangélicas. Crime e drogas cercam, e a violência das torcidas organizadas é intimidatória, muitas vezes financiadas por dirigentes.
Parece real para você? Logo no início do primeiro episódio, a atração dirigida por Paulo Nascimento (A Oeste do Fim do Mundo, Em Teu Nome), que acompanha um famoso jogador (Kadu) em busca da redenção pessoal e profissional no Brasil, dá a letra: "Essa história não é baseada em fatos reais, por mais evidentes que possam parecer".
Nuno Leal Maia, que vive o ex-jogador Jair, tio do protagonista, não poderia concordar mais com a frase acima —e ele sabe do que está falando. Ex-juvenil do Santos nos anos 1960 e técnico de clubes como o Londrina e São Cristóvão nos 1990, o ator vivenciou parte do jogo sujo que é mostrado na série, e ele conta que isso o ajudou e muito a compor personagem.
"Já vi compra de jogos pequenos, compra de arbitragem. Na série tem alguma coisa parecida, mas com grandes jogos e negociatas", conta ele em entrevista ao UOL. Para Nuno, a corrupção no futebol é estrutural: existiu em sua época e continua existindo hoje, em praticamente todos os níveis e posições."Se fizerem uma Lava Jato no futebol brasileiro, ele acaba. Não sobra ninguém."
UOL - O que é real e o que é ficção em Chuteira Preta?
Nuno Leal Maia - Quase tudo ali é real, acontece. Não existe um caso específico que inspirou a história, mas existem histórias muito semelhantes. É uma ficção inspirada na realidade. Vivenciei muita coisa que está ali.
Como o quê?
Já vi compra de jogos pequenos, compra de arbitragem. Na série tem alguma coisa parecida, mas ali são grandes jogos, grandes negociatas, apostas, envolvendo o presidente do clube. Mas sabemos que tudo isso existe.
Hoje há mais ou menos corrupção do que na sua época de técnico?
Hoje está mais fácil de perceber. Aparece mais na mídia. Se você fizer uma Lava Jato no futebol brasileiro, o futebol brasileiro acaba. Não sobra ninguém. Há muita negociata de jogador, com envolvimento de igreja evangélica. Isso está na série. Existe todo tipo de corrupção no futebol. Quando o juiz vai apitar um jogo na casa do adversário, por exemplo, ele se amedronta e se corrompe. É comum.
Não acha que o VAR diminuiu isso?
Não. O VAR camufla muito a corrupção. Ali na cabine está um juiz que a torcida não conhece e que pode atuar tranquilamente para favorecer o resultado de um time ou de outro. A tecnologia não mente, mas a pessoa está ali e pode escolher favorecer.
O quanto sua vivência no futebol te inspirou na composição do Jair?
Muito. Há toda uma inspiração de vida. Fiz, recentemente, um surfista na série Juaca. Gosto de mar, mas nunca fui surfista. Com futebol é diferente. Mas meu personagem tem uma parte emocional que pesa mais que a parte prática do esporte. Talvez na segunda temporada essa parte apareça mais.
Você costuma criticar a gestão do futebol no Brasil. Acha que um dia os times brasileiros voltarão a fazer frente aos melhores clubes e seleções europeias?
Acho difícil. Não existem mais os professores. Nós fomos pentacampeões mundiais, pô! Mais professor que isso não existe. Ninguém vai ensinar a gente. Zagallo, Parreira foram bons professores. Hoje existem técnicos que não sabem nem chutar uma bola. As pessoas que realmente sabem jogar, que poderiam ensinar, foram preteridas. Treinador hoje não tem dom de convencer ninguém. É muito difícil.
Você conhece o Giovanni, ex-meia do Santos. Nunca tentou convencê-lo a ser técnico?
Às vezes me encontro com ele e digo: "Você é o maior desperdício que eu já vi na minha vida. Um craque como você não ser usado para nada". Temos craques que não são usados para nada. Cadê Clodoaldo? Cadê Rivaldo? Por que não botar essa gente para ensinar? Os técnicos não ensinam mais o jogador a jogar. Não tem mais quem ensine. Falta professor.
E o que você acha dos técnicos estrangeiros no Brasil? O argentino Sampaoli, no Santos, e o português Jorge Jesus, no Flamengo, estão bem no Campeonato Brasileiro.
O Flamengo tem um time que está muito acima dos outros no Brasil, economicamente falando. Mas você vai trazer português para nos ensinar? O que Portugal ganhou? Nada, pô! Sampaoli? O que ele está fazendo no time do Santos? Está fazendo um time brocha, um time que não tem força, não tem garra. Se fosse bom de verdade, estaria na seleção argentina até hoje.
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