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Como Will Smith rejuvenesceu 28 anos para enfrentar a si mesmo em Projeto Gemini

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

12/10/2019 04h00

Duplamente estrelado por Will Smith, o filme Projeto Gemini, do cineasta Ang Lee, que estreou na última quinta no Brasil, está chocando plateias pelo apuro espantoso de seus efeitos visuais. Na ficção científica, o astro vive um assassino veterano contratado pelo governo que precisa enfrentar um clone: ele mesmo em uma versão cerca de 30 anos mais jovem.

Além do inegável impacto visual, o que mais impressiona na história é fato de não terem sido usadas nenhuma das técnicas de rejuvenescimento corriqueiras em Hollywood, como as empregadas em O Curioso Caso de Benjamin Button (2009), mas um inovador sistema desenvolvido especialmente para o filme que conseguiu produzir uma nova versão de Will Smith feita a partir de animação 3D.

Como surgiu a ideia

A ideia de Projeto Gemini existe desde 1997 e já havia passado por diversos roteiristas e diretores, mas não saiu do papel principalmente por limitações técnicas da época. Reproduzir movimentos em três dimensões, com perfeição, sutileza e texturas suficientemente realísticas é um antigo desafio de Hollywood que só atualmente vem sendo vencido pelos grandes estúdios, vide as recentes recriações de personagens em Blade Runner, Star Wars e live actions como O Rei Leão.

Imagem de divulgação de Projeto Gemini - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Quem desenvolveu a tecnologia

A responsável é a Weta Digital, famoso estúdio neozelandês de efeitos visuais fundado pelo cineasta Peter Jackson e contratado pela Paramount Pictures. Criada em 1993, a empresa está no front da evolução tecnológica do cinema e já assinou títulos grandiosos como O Senhor dos Anéis, Avatar, Godzilla e os filmes mais recentes da franquia Planeta dos Macacos, entre vários outros.

Como foi feito

Will Smith teve de rodar cenas da forma mais realista possível —as de confronto, contracenando com dublê—, usando um traje de captura de movimentos e uma espécie de capacete com duas câmeras de alta definição acopladas. Todo o conteúdo captado por elas foi analisado e processado por computadores da Weta, que mapearam a estrutura facial e de pele do astro. Uma máscara feita sob medida para Smith também foi usada pelos produtores na modelagem.

Pontinhos

Para captar o maior número possível de expressões e detalhes faciais, a equipe usou uma técnica que consiste em desenhar vários pontinhos negros no rosto e pescoço do ator, que servem de referência para o mapeamento em tempo real. As imagens ainda passaram por um intenso trabalho de pós-produção, para acertar, entre outros pontos, aspectos "microscópicos" de textura e acabamento. A voz do ator também foi tratada e rejuvenescida nesse processo.

Referências dos anos 1990

Um dos grandes desafios dos produtores era não só criar um xerox de Will Smith, mas transmitir a personalidade do ator a sua versão digital. Pensando nisso, a Weta utilizou como base na construção 3D uma gama de imagens e referências de produções famosas dos anos 1990, incluindo os longas Independence Day, Bad Boys e a série Um Maluco no Pedaço.

Cena de Projeto Gemini - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Dificuldades

Um dos desafios dos animadores foi entender, em meio às cenas de ação, minúcias sobre como funciona a anatomia do rosto de Will Smith: como ele responde a estímulos, como os olhos se movem quando está sob pressão, quanto tempo leva para o sangue fluir de volta à testa depois que a franze. "Quando o rosto começa a se mover e interagir com o ambiente e com a luz, é muito fácil as coisas saírem dos trilhos", afirmou Gui Williams, supervisor de efeitos visuais da Weta.

Limitações técnicas

Outro problema: o inovador filme de Ang Lee foi rodado em 120 frames por segundo (FPS), resolução 4K e com câmeras 3D, e poucos cinemas no mundo dispõem de estrutura para projetar de forma 100% fiel seu conteúdo. Ou seja, o filme precisou ser adaptado, perdendo parcialmente sua fidelidade. No Brasil, cerca de 430 salas o exibem em 3D+, em 60 quadros por segundo, mais que o dobro da exibição padrão de 24 quadros por segundo, mas ainda assim insuficiente para exibir todo o potencial da produção.

Will Smith em Projeto Gemini - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

O lado ruim da tecnologia

Smith já brincou dizendo que agora pode engordar o quanto quiser, já que há uma versão sua eternamente jovem para estrelar os filmes. A tecnologia empregada no longa é de fato revolucionária, e em breve deve começar a ser explorada em diversas outras produções. Mas há preocupações sobre seu uso. Exemplo disso são os chamados vídeos deep fakes, que já existem colocando o rosto de celebridades ou políticos em outros corpos, muitas vezes para alimentar notícias falsas. Segundo especialistas, se a técnica do filme cair em mãos erradas, consequências podem ser desastrosas.