Kriptonita eletrônica? DJs sofrem para atrair atenção de "metaleiros" no Rock in Rio
No múltiplo universo da música pop, é comum definir o heavy metal como o estilo que atrai os seguidores mais devotos, barulhentos e apaixonados —e, muito por causa disso isso, os que são mais fechados musicalmente a outros estilos.
Para colocar a teoria à prova, o UOL compareceu hoje, dia mais pesado da programação do Rock in Rio, a shows do palco eletrônico do festival, o New Dance Order, para conversar com os headbangers sobre o assunto. É mito ou verdade?
Chegamos a algumas conclusões
- Primeiro: em nenhum outro dia do Rock in Rio, o palco eletrônico ficou tão vazio, sinal de que, sim, a plateia do metal, em geral, rejeita mais os beats dos DJs do que a de outros gêneros, inclusive o do rock, que pariu os "metaleiros".
- Segundo: a maioria das pessoas que circularam no espaço com camisas de bandas usavam a do Metallica --que não toca no Rock in Rio-- e a do Iron Maiden, justamente as mais populares do gênero no Brasil, e a maior parte das pessoas ouvidas não se definam como headbangers, mas como fãs de rock.
Apesar da rejeição aparente, existe uma abertura. Várias pessoas no local se disseram fãs ou muito interessadas no show do projeto israelense de psytrance israelense Infected Mushroom, considerado frequentemente "pesado" demais por quem vai a raves.
Veja abaixo o que o público disse à reportagem.
Headbanger é fechado, sim
Metal e eletrônica se misturam, mas sempre haverá resistência, diz o engenheiro Eliseu Carneiro, 28. "Sem dúvida, a galera do metal é a mais fiel, e acho que é por isso que o palco não ficou muito cheio hoje. Fã de rock em geral é um pouco mais aberto. Eu curto Iron Maiden, Slayer, mas não acho que tenha problema alguém gostar de Infected Mushroom."
É mito
Segundo a advogada Deise Yokoyama, 47 anos, que preferiu curtir o DJ e produtor britânico Gareth Emery ao show do Anthrax no palco Sunset, existe muita desinformação sobre o metal. "Eu amo Slayer, Iron Maiden, que tocam hoje, e também o Amon Amarth, que nem todo mundo conhece. Acho que é um mito que o metaleiro é fechado. Isso é coisa do passado. Eu e minhas amigas somos todas assim, ouvimos de tudo", afirma ela.
Rock in Rio errou
Para o contador Diego Soares, que veio de São Luiz (MA) ver o Iron Maiden e decidiu dar apenas uma passada no New Dance Order, o Rock in Rio errou. "Acho que o metaleiro raiz, que é maioria aqui, não curte esse tipo de som que está. Se esses shows rolassem no domingo, acho que fariam mais sentido. Talvez se eles acontecessem só nos intervalos dos outros shows palcos, chamariam mais público."
Metaleiro pode ser qualquer coisa
Houve ainda quem se mostrasse mais libertário e contra estereótipos, como o metalúrgico Anderson José da Costa, 40 anos, que não se importou em dançar música eletrônica com sua corrente no pescoço e camiseta do Metallica. "Eu digo que sou metaleiro puro. Já vi de tudo, mas eu sou eclético. Sou de uma cidade, Juiz de Fora, que tem muita balada e rave. E acho que esses shows só agregam ao Rock in Rio. Não interferindo nos de metal, não tem problema nenhum."
Não combina, mas tem que ter
Alay Vera, 35 anos, advogado, que também foi ao palco por curiosidade, diz não gostar de música eletrônica, mas nem por isso acha que ela e metal são como óleo e água, vide a popularidade do gênero do metal industrial, por exemplo, e de DJs que fazem sets mais roqueiros. "Tem muita gente aqui, muita demanda. Quem não gostar não venha."
Com a palavra, o DJ
O UOL também conversou sobre o assunto com o DJ Claudinho Brasil, um dos que escolheu misturar sons roqueiros ao set, como de costume, e homenagear em seu show Freddie Mercury e o Queen. "Pra mim, rock e eletrônica tem tudo a ver. Escutei Iron minha adolescência inteira. E acho maravilhoso tocar para esse público. E ainda vamos ganhar novos adeptos. Pessoas que passam ali despercebidas e têm uma experiência incrível."
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