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O Homem Que Ri: O filme assustador do "palhaço" que inspirou o visual do Coringa

Conrad Veidt em O Homem Que Ri (1928) e Joaquin Phoenix em Coringa (2019) - Reprodução/Montagem
Conrad Veidt em O Homem Que Ri (1928) e Joaquin Phoenix em Coringa (2019) Imagem: Reprodução/Montagem

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

02/10/2019 04h00Atualizada em 08/10/2019 15h35

Muito antes de Coringa e Pennywise marcarem a cultura pop, um filme assustador provocou o imaginário de quem sempre teve medo de palhaços: O Homem Que Ri (1928).

Dirigido por Paul Leni, o longa foi baseado no clássico do escritor francês Victor Hugo, lançado em 1869, que trazia a história sinistra de um homem que teve a boca deformada para que sempre tivesse um sorriso no rosto.

O Homem Que Ri é considerado uma influência também para os filmes clássicos de terror da Universal Pictures, tanto pelo clima gótico e mórbido como pela maquiagem. O projeto é celebrado ainda hoje, e tem 100% de aprovação no site Rotten Tomatoes.

A figura sinistra de Gwynplaine serviu como inspiração também para que o vilão Coringa ganhasse vida nos quadrinhos. O primeiro filme solo do personagem chega hoje aos cinemas com Joaquin Phoenix como protagonista.

História

Os palhaços existem na sociedade há muitos séculos, passando pelo Egito Antigo e Grécia Antiga. Durante a Idade Média, os personagens eram associados a aberrações dos circos, que normalmente tinham uma deficiência física e se vestia de forma grotesca.

Pôster do filme O Homem Que Ri - Reprodução - Reprodução
Pôster do filme O Homem Que Ri
Imagem: Reprodução

A mudança aconteceu apenas no século 18, quando Joseph Grimaldi trouxe o primeiro circo moderno com os palhaços que conhecemos hoje. No século seguinte, o autor Victor Hugo, enquanto estava exilado após criticar os aristocratas com obras como Os Miseráveis e Corcunda de Notre Dame, inventou uma história de um pobre rapaz que sofreu nas mãos de seu governante.

O rei James II mandou matar Lord Clancharlie, e ordenou ainda que o filho de seu rival político, Gwynplaine (interpretado por Conrad Veidt), tivesse a boca esculpida em um sorriso permanente para que eles sempre "desse risada sobre seu pai tolo". A prática era comum na época, e ficou mais conhecida por culta de gangues britânicas na década de 1930.

Abandonado, o jovem deformado é adotado junto com uma garota cega por uma trupe de circo. Aos poucos, Gwynplaine se transforma em uma popular atração, sendo conhecido em suas apresentações como "O Homem que Ri", metade palhaço e metade aberração.

Gwynplaine e Dea, a garota cega, ficam amigos e se apaixonam. Mesmo que o protagonista tenha medo de chegar perto da amada por conta de sua aparência, ela aceita o jovem como ele é: "Deus fechou meus olhos para que eu pudesse ver o verdadeiro Gwynplaine", analisa Dea.

Por fim, o personagem principal é reconhecido rainha Anne, que concede um lugar para ele na Câmara dos Lordes e uma vida de aristocrata, mas ele abandona seu sobrenome para viver com Dea.

A ideia da Universal Pictures é que o filme fosse mudo, mas o estúdio decidiu aproveitar a novidade na época de produções com sons, incorporando uma trilha sonora que d dialogava com as sombras, dava ênfase na reação daqueles que riam com as apresentações de Gwynplaine e deixava ainda mais triste a vida melancólica e a dor interna do protagonista.

Coringa

O supervilão do Batman fez sua estreia nos quadrinhos em 25 de abril de 1940, e não demorou para ele virar um ícone no gênero. Criado por Jerry Robinson (conceito), Bill Finger e Bob Kane, Coringa teve seu visual inspirado no ator Conrad Veidt, graças a uma foto dele em O Homem Que Ri.

"Bill e eu criamos o Coringa", disse Kane em uma entrevista em 1994. "Bill era o escritor. Jerry Robinson veio até mim com uma carta de baralho do Coringa. Essa é a maneira como eu resumo. Mas ele parecia Conrad Veidt. Então Bill tinha um livro com uma fotografia de Conrad Veidt, ele mostrou para mim e disse: 'Aqui está o Coringa'".

O personagem Coringa em quadrinhos da década de 40 e cena do filme O Homem Que Ri - Reprodução/Montagem - Reprodução/Montagem
O personagem Coringa em quadrinhos da década de 40 e cena do filme O Homem Que Ri
Imagem: Reprodução/Montagem

Há muitas características semelhantes entre o visual do personagem de Veidt no filme O Homem Que Ri e Coringa: o sorriso gigantesco, os dentes que ocupam a boca inteira, o cabelo jogada para trás, além das roupas.

A própria ambientação de Homem Que Ri também pode ser relacionada com o vilão, cujas histórias são sombrias e mostram um personagem perturbado. O filme solo do vilão vai apresentar justamente uma versão realista do antagonista, da transformação psicológica dele para uma ameaça a todos.

Em 2005, como forma de homenagear o filme que serviu como uma das inspirações para o Coringa, a DC Comics lançou uma publicação chamada Batman: O Homem Que Ri, que traz o Homem-Morcego investigando misteriosos assassinatos em que as vítimas aparecem com um sorriso congelado no rosto.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado na legenda da montagem que antecede o texto, a imagem de Conrad Veidt em O Homem Que Ri é de 1928, e não de 2018. A informação foi corrigida.