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Ator de Nascido Para Matar critica o diretor Stanley Kubrick

Tim Colceri em cena de Nascido Para Matar - Reprodução
Tim Colceri em cena de Nascido Para Matar Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

20/09/2019 17h00

O ator Tim Colceri revelou alguns problemas que enfrentou com o diretor Stanley Kubrick durante as gravações do clássico filme Nascido para Matar, que foi lançado em 1987.

O ator explicou, em entrevista ao "The Hollywood Reporter", que foi escalado inicialmente para outro papel. No entanto, após mudanças nos bastidores, ele acabou ficando como o soldado responsável por manusear a metralhadora do helicóptero.

Mas esse não foi o maior problema enfrentado por Colceri na produção. De acordo com o ator, a postura de Kubrick deixou sequelas que o "fazem sofrer até hoje" e que "nunca vão acabar".

"Eu tive que memorizar tantos diálogos que não conseguia dormir, então eles me mandaram para um médico que disse: 'tome esta pílula amarela. Ela vai te apagar'. Eu tomei e realmente apaguei, mas fiquei me sentindo meio grogue no dia seguinte. Então disse que não queria mais tomá-lo", explicou o ator.

O ator revela que precisou passar por uma preparação intensa para ficar com o papel do sargento Hartman. Contudo, quem ficou com a vaga foi Ronald Lee Ermey, que chamou atenção de Stanley Kubrick durante as audições. Segundo Colceri, ele ficou sabendo que havia perdido o posto por uma carta.

"Lamento muito ter que lhe dizer que, depois de muita deliberação dolorosa, decidi usar Lee Ermey para interpretar o sargento", começou a carta, referenciando um nome anterior para o personagem. "Estive na posição de um treinador que tem dois zagueiros iniciais e tem que escolher um. Sei que decepção isso será para você, assim como teria sido para Lee, e ficaria muito mais feliz se alguém mais poderia ter tomado a decisão."

"Aquilo acabou comigo completamente. Eu não sabia o que fazer. Eu tinha que sair de lá. Eu fiquei andando pelas ruas por um tempo sozinho", falou Colceri.
Colceri lutou para manter seu papel e, em uma carta, implorou a Kubrick por três minutos para provar que ele era o melhor ator para o personagem. Kubrick não respondeu, e disse através de seu assessor que a carta havia "ferido seus sentimentos".

"Fiquei tão chateado com ele - tive esse papel por oito meses - e ele mandou um mensageiro para tirar isso de mim, já que ele não podia falar comigo como homem", diz Colceri.

Colceri contratou um advogado, que enviou uma carta a Kubrick e Warner Bros, argumentando que o ator mantinha a cabeça raspada por dois anos, o que o impedia de sair para trabalhos comerciais. Não está claro se foi sua carta que fez o truque, mas ele acabou sendo convidado novamente para atuar no filme, desta vez no papel do atirador. Dias após voltar ao set, ele encontrou com Kubrick.

"Eu queria enforcá-lo", lembrou Colceri.

O ator, então, explica que relevou o que aconteceu e que chegou até a jantar com o diretor. Contudo, a relação ruiu quando ele voltou a ir para o set de gravação. Ao recitar as primeiras falas de seu personagem, ele percebeu que Vitali, assistente de Kubrick, havia lhe dado o texto errado para memorizar.

"Eu queria matar um deles. Eu não sabia qual. Eu estava tão irritado com aquilo que nem disse nada, mas eu encarei eles de forma que ficou claro que aquilo era uma palhaçada."

Kubrick, então, fez alguns ajustes no texto e encaminhou ator e agente para o local em que as gravações seriam realizadas no dia seguinte. Lá, eles gravaram as cenas de Colceri e, após 12 horas de trabalho, o diretor ordenou que o ator e o Vitali retornassem para o escritório em Londres para ver se as imagens tinham ficado boas.

11 meses depois, o ator voltou aos Estados Unidos, desta vez para ver a estreia do filme nos cinemas. E ele ficou satisfeito com o resultado final.

"De repente, no final do filme, surgem os créditos principais", lembrou Colceri, com a voz embargada. "E [Kubrick] me deu um crédito principal e quase choro toda vez que chego a esse ponto por tudo o que passei. Pelo menos ele me mostrou respeito. Estou muito orgulhoso disso. E passei o inferno para chegar a esse ponto ".

"Eu estou bravo com Stanley Kubrick, mas mesmo assim eu o respeito e me sinto sortudo por ter estado em seu filme. Eu também acho que eles tiveram sorte por me ter. Demorei anos para entender isso", concluiu.