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Com Brad Pitt, Ad Astra é espetáculo melancólico com visual impressionante

Brad Pitt em cena do filme Ad Astra - Divulgação
Brad Pitt em cena do filme Ad Astra
Imagem: Divulgação

Bruno Ghetti

Colaboração para o UOL, em Veneza

29/08/2019 11h15

Foi com aplausos de admiração - embora sem maior entusiasmo - que a imprensa de Veneza recebeu nesta quinta de manhã o filme Ad Astra, do norte-americano James Gray. Na disputa pelo Leão de Ouro, o longa estrelado por Brad Pitt e Tommy Lee Jones é uma ficção científica com fundo filosófico que é uma das grandes apostas para a temporada de premiações do início do ano que vem - inclusive o Oscar.

A superprodução é um dos dois longas cofinanciados pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, da RT Features (o outro é Wasp Network, de Olivier Assayas), na competição principal. A trama se passa em um futuro próximo, em que a humanidade vive um tempo de "esperança e conflito", enquanto humanos saem espaço afora em busca de vida inteligente longe da Terra.

Pitt interpreta Roy McBride, um astronauta filho de um grande explorador espacial (Lee Jones), que desapareceu décadas atrás durante uma missão em busca de extraterrestres na proximidade de Netuno. Quando a Terra começa a sofrer perigosos picos de energia que ameaçam o planeta, Roy é informado de que seu pai está vivo, perto de Netuno, e que ele talvez tenha feito experimentos por lá que estejam causando esse contratempo.

Roy embarca, então, em busca do pai, não apenas para evitar uma tragédia mas também para reencontrar o pai e tentar compreender os motivos pelos quais preferiu desaparecer no espaço.

O personagem de Pitt é a amargura em pessoa: em narração em off, enquanto viaja pelo universo, fala de suas dúvidas existenciais, de sua insatisfação consigo mesmo, da falta de propósito da existência humana. É um homem extremamente solitário e que, provavelmente, decidiu se tornar um astronauta justamente para se isolar...

Ou então para justamente o oposto: sem a presença constante de outras pessoas, poder se encontrar e, assim, ser menos solitário.

"Foi o filme mais desafiador em que já trabalhei", disse Pitt, em conversa com a imprensa. Além de protagonista, ele também é um dos produtores do longa. "A historia é muito delicada, qualquer elemento muito excessivo no filme poderia destoar do propósito, então foi um esforço constante manter esse equilíbrio e manter essa historia fluindo sem excessos. Estou feliz com o filme, está adequada às discussões que [eu e Gray] tivemos há três anos [quando o projeto teve início]", diz o astro.

Muitos do que está no roteiro veio a partir de conversas entre Pitt e o diretor, pela exposição de questões pessoais de ambos."Em retrospecto das nossas primeiras conversas, percebo que a definição de masculinidade, de um homem ter que crescer e se mostrar forte, nunca frágil etc, isso cria sempre uma barreira que impede o encontro [de um homem] consigo mesmo", explica Pitt.

"Você se nega a sentir esses medos. Tendemos a negar as coisas de que temos vergonha. Deveríamos ser mais abertos, isso nos permitiria ter melhores relações com as pessoas que amamos e com a gente mesmo."

"Todos nós trazemos, mesmo que tentemos esconder, medos, feridas, arrependimentos. O papel do ator é trazer isso [aos personagens]. Se eu não for honesto com sentimentos, também não soará honesto para o público", diz o ator.

Gray complementa: "A chave é não se importar com ser amado ou odiado: é preciso ter essa honestidade consigo mesmo, mostrar-se vulnerável. Tentei estabelecer esse diálogo com Brad e ele comigo".

A trama traz muito da história do romance No Coração das Trevas, de Joseph Conrad, mas Gray revela que Moby Dick, de Herman Melville, foi também uma inspiração.

"Uma das coisas incríveis do cinema é a capacidade de combinar as outras artes: dança, teatro, fotografia... A literatura entra promovendo uma narrativa, e essa parte sempre tento roubar dos melhores [autores]. Fiquei obsessivo com Moby Dick, depois vi que algumas falas de Tommy Lee Jones no filme pareciam saídas diretamente do livro".

A concepção visual do filme é impressionante, assim como os efeitos especiais. É um grande espetáculo, sem dúvida, mas um espetáculo talvez melancólico e arrastado demais para ser apreciado por um público verdadeiramente grande. Para quem espera um filme com a adrenalina de "Gravidade" (2013) ou "Interestelar" (2014), poderá ser decepcionante. Por outro lado, o tipo de investigação filosófica proposto por Gray é bem mais efetivo e substancioso que o dos filmes de Alfonso Cuarón e Chistopher Nolan.

Sobre especulações a respeito de Oscars, Pitt prefere sair pela tangente. "Eu só quero que esse filme estreie! Tanta gente trabalhou duro no projeto, foi tudo tão desafiador. É um filme que tem algo a dizer: sobre quem somos, nossa alma, nosso propósito, por que continuamos... Todo ano, muitas pessoas talentosas são reconhecidas [com um Oscar], outras não. Quando seu nome aparece [entre os premiados], é ótimo! Mas se não acontece, em geral é o nome de um amigo que surge, o que também é muito bom", disse Pitt.

Ad Astra tem previsão de estreia no Brasil para 26 de setembro.