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Sonia Abreu, a primeira DJ do Brasil, morre aos 68 anos

Sonia Abreu, primeira DJ do Brasil - Reprodução/Facebook
Sonia Abreu, primeira DJ do Brasil Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

27/08/2019 08h59

A produtora musical e DJ Sonia Abreu morreu aos 68 anos. A notícia foi confirmada em sua página pessoal do Facebook, em que foram dados detalhes de seu velório e enterro, que acontecem hoje, e pelos autores da biografia Ondas tropicais: Biografia da primeira DJ do Brasil: Sonia Abreu, Claudia Assef e Alexandre de Melo.

"Aos amigos e fãs de Sonia Abreu, o velório será na Funeral Home da rua São Carlos do Pinhal, 376 das 8h às 14hs", foi postado em seu Facebook. Sonia teve problemas pulmonares decorrentes da esclerose lateral amiotrófica, a ELA - doença degenerativa que afeta o sistema nervoso e acarreta paralisia motora irreversível.

Segundo Alexandre, ao UOL, Sonia "já não falava e estava em cadeira de rodas. Ela teve uma complicação pulmonar e estava internada no Hospital Santa Magiore, no Itaim [em São Paulo]".

Claudia Assef, jornalista, biógrafa e amiga de Abreu, também postou a informação em seu Facebook: "Neste momento só consigo passar as infos do velório da minha amiga/musa da porra da toda", lamentou, emocionada. Alexandre de Melo se despediu com a mensagem:

"Ela foi levar o som das Ondas Tropicais para outros mundos, assim como fez a vida toda de trio elétrico, de barco, nas rádios. Todos os festivais, festas e músicas tocadas no dial do Brasil são um pouco parte do trabalho desbravador de construção desta mulher inspiradora. Que alegria e privilégio nossa amizade. Ela dizia que 'o tempo é o tempo todo' e as meninas que sonham viver de música têm o exemplo dela para sempre. Vá em paz, DJ."

Sonia comandou o programa Ondas Tropicas, da Rádio UOL, e já teve discos citados entre os dez mais importantes da música eletrônica nacional. Em 2016, disse ao portal:

Antes eu sofria preconceito por ser mulher - e ainda sofro. Agora, para completar, sofro preconceito por ser velha..."

Ela começou a trabalhar com rádio em meados da década de 1960. Mas antes, ainda na infância, a música sempre fez parte da vida da família Abreu.

"Quem me influenciou muito foi a família do meu pai. Eu ficava em um balanço lá em casa, enquanto ele ouvia música o dia todo, então eu entrava em transe. Ele ouvia de Chopin a Nelson Gonçalves, Moreira da Silva, músicas italianas, era muita coisa. E meus tios cantavam, tocavam violão, era uma festa sempre", relembrou a DJ.

Trabalhou na Excelsior como produtora musical, de 1968 a 1978, quando lançou a coletânea "A Máquina do Som", que vendeu milhares de unidades.

Grande parte das músicas presentes na série eram compradas no exterior, já que demoravam até anos para alguns produtos chegarem aqui. "Para eu conseguir músicas (importadas) para tocar nas discotecas e boates, a gente tinha que fazer gambiarra com os pilotos de avião, porque chegava tudo atrasado. Então os pilotos e as aeromoças eram os traficantes de música da época."

Ainda na década de 1970, Sonia abriu a Papagaio Disco Club, uma das primeiras discotecas do Brasil. Na década seguinte, a DJ criou a primeira rádio móvel do país, com um sofisticado sistema de som. O primeiro point foi a rua Augusta, quando uma multidão se agrupava ao redor da kombi para ouvir grandes sucessos e os lançamentos da música eletrônica.

E foi em um desses lançamentos que Sonia recebeu um globo de ouro pela música Automatic Lover, de D.D.Jackson, a primeira música eletrônica do Brasil.

Já nos anos 1990, popularizou a world music no país, com o programa "Ondas Tropicais - A Música do Quarto Mundo" e, como se não bastasse, fundou sua própria banda do gênero. A Banda Do Quarto Mundo contava com 22 integrantes, mas claro que a principal era Sonia, a vocalista. O grupo fez sucesso e chegou a dividir palco com Jimmy Cliff e Margareth Menezes.

Sonia admitiu, na entrevista de 2016, que seu caso de amor com a música sempre foi maior do que tudo. "Na verdade, eu já nasci para ser o que sou mesmo. A música que me faz um navegador. É a única coisa que eu fiz, sabe? Não tive família, nem filhos, nem nada. É a coisa mais importante da minha vida."