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Miguel Falabella conta como negociou volta em Sai de Baixo para fazer o drama Veneza

Miguel Falabella, diretor de Veneza - Edison Vara/Agência Pressphoto
Miguel Falabella, diretor de Veneza Imagem: Edison Vara/Agência Pressphoto

Carlos Helí de Almeida

Colaboração para o UOL, em Gramado (RS)

27/08/2019 04h00

Ator, dramaturgo e humorista, Miguel Falabella volta a se reafirmar como diretor de cinema com Veneza, exibido na competição do 47º Festival de Gramado. Adaptação da peça homônima do escritor argentino Jorge Accame, já vertida para os palcos brasileiros por Falabella em 2003, o filme é centrado na figura de Gringa (a espanhola Carmen Maura), velha dona de um bordel que nutre o sonho de reencontrar, na Itália, o amor de sua juventude, no que é ajudada pelas prostitutas do estabelecimento. Estas são interpretadas por Dira Paes, Danielle Winits e Carol Castro, entre outras.

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Falabella não dirige um longa-metragem desde o drama Polaroides Urbanas, lançado em 2008. Há anos tenta, em vão, filmar uma adaptação de Querido Mundo, outra peça de sua lavra. "As pessoas não me veem como diretor de dramas", disse o artista de 61 anos, conhecido por papéis cômicos como o Caco Antibes do programa de TV Sai de Baixo, ao UOL.

O teatro, onde já passei por todos os gêneros, do boulevard a Shakespeare, não tem esse tipo de preconceito comigo. Mas o audiovisual me bota numa prateira, é mais careta nesse sentido.

UOL - Seu nome, sua reputação, não seriam suficientes para sustentar seus projetos em cinema?

Miguel Falabella - Acho que não acreditam em mim fora do humor. Não adianta, escrevo as coisas tento apresentar e só dou com portas fechadas. Tá, cinema de arte não tem tanto público, até entendo. Mas não dá para fazer só comédia, temos que fazer outros tipos de filme também. Se é para fazer comédia, aí eu fico na televisão. Cinema é outro veículo, outra linguagem.

Cena do filme Veneza - Mariana Vianna/Divulgação - Mariana Vianna/Divulgação
Cena do filme Veneza
Imagem: Mariana Vianna/Divulgação

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Mas tive que negociar.

Não queria fazer Sai de Baixo: O Filme (2019) de jeito nenhum. Aqueles personagens estavam mortos, deveriam ser deixados em paz.

Mas percebi que seria a única chance de fazer o que tanto queria, e tanto tempo: topei escrever e atuar em Sai de Baixo desde que pudesse filmar Veneza. Tudo bem, sabia que Sai de Baixo não seria bom, não iria ficar, vai desaparecer. O que vai ficar é o formato televisivo, para o qual ele foi criado originalmente, e está aí até hoje.

E aí tudo se resolveu?

Não. Veneza foi tratado o tempo todo como um cidadão de segunda classe. Tive apenas 28 dias para fazer um filme desse porte, rodado em dois países diferentes. Tudo bem, a gente é brigão, vai em frente. Não podia abrir mão da Carmen Maura, a partir do momento em que ela aceitou o nosso convite. Ela me ensinou muitas coisas sobre praticidade. Por exemplo, a Carol Machado foi a última a entrar no elenco. Havia convidado várias outras atrizes jovens antes, que não me respondiam. A Carmen leu o roteiro na quinta, na segunda seguinte liguei para ela para ouvir: "Me encanto el guión. Voy a hacer".

Dira Paes, Miguel Falabella, Carol Castro e Danielle Winits - Edison Vara/Agência Pressphoto - Edison Vara/Agência Pressphoto
Dira Paes, Miguel Falabella, Carol Castro e Danielle Winits
Imagem: Edison Vara/Agência Pressphoto


Como chegou até a Carmen?

Sou amigo da [atriz argentina] Norma Aleandro. Ela e a Carmen têm o mesmo agente. Já trabalhei muito na Argentina. Curiosamente, eles lá não me conhecem como vedete de televisão, humorista popular, que desfila pelado em escola de samba, mas como autor (risos). Os argentinos não têm preconceito comigo. Tinha oferecido o papel para a Norma mas, por causa da idade avançada, ela recusou e sugeriu: "Por que não a Carmen"?

Assim como Polaroides Urbanas, Veneza fala de um ambiente feminino.

Meu universo é muito feminino. Fui criado na Ilha do Governador, cercado de muitas tias. Elas costuravam muito. Lembro de passar muito tempo debaixo das mesas delas ouvindo as histórias que elas contavam. Eu e o Mauro Rasi (1949-2003) conversávamos muito sobre isso, compartilhávamos desse universo feminino, das tias falando no ouvido o tempo inteiro.