Orange Is The New Black: Entre altos e baixos, chega ao fim fenômeno da Netflix
Em 2013, a Netflix ainda estava longe de ser a força que é hoje. Foi quando, em uma aposta de risco que se mostraria acertada, a empresa começou a lançar suas primeiras produções originais. Uma delas era Orange Is The New Black, recebida sem grande alarde frente ao elenco estrelado de House of Cards e do aguardado revival de Arrested Development. A série, porém, chega para sua última temporada, amanhã, como a original mais longeva da Netflix e, também, a mais assistida da plataforma - dois títulos que provam como a criação de Jenji Kohan (Weeds) seguiu importante mesmo em uma trajetória de altos e baixos.
Se hoje a Netflix aproveita a badalação de produções como Stranger Things e La Casa de Papel, muito disso se deve a Orange. House of Cards foi a série que mostrou o que a plataforma de streaming era capaz de fazer, reunindo Kevin Spacey (ainda não caído em desgraça) e Robin Wright em um thriller político, adaptação de uma minissérie britânica. Mas a série teve uma desvantagem clara: quando ela estreou, em fevereiro de 2013, a Netflix ainda não estava tão consolidada no mercado internacional -- e o público foi assistindo House of Cards aos poucos.
Orange Is the New Black chegou meses depois, em julho, quando a Netflix já era um nome mais consolidado e acumulava 38 milhões de assinantes. Com a vantagem de trazer uma história completamente inédita, a produção conseguiu monopolizar as atenções nos dias seguintes a sua estreia, tornando-se o primeiro grande fenômeno cultural da Netflix, nas redes sociais e fora delas. Muito antes de os macacões vermelhos de La Casa virarem fantasia de Carnaval, foram os trajes laranjas de Orange que tomaram as ruas. E os números não mentem: segundo dados divulgados pela Netflix à revista Variety, 105 milhões de assinantes assistiram a algum episódio da atração pelo menos uma vez.
A origem de OITNB está ligada à história real de Piper Kerman, que em 2010 lançou o livro de memórias Orange Is the New Black: My Year in a Women's Prison (laranja é o novo preto, meu ano em uma prisão feminina, em tradução livre). Piper, uma mulher branca, educada e privilegiada que foi parar atrás das grades, ganhou uma versão cenográfica interpretada por Taylor Schilling.
Mas a série nunca foi só dela: a protagonista acabou servindo para introduzir um elenco que se mostraria não só um dos melhores da TV, com atuações de primeira linha, como também um dos mais diversos - o que tornava a série especialmente rara e relevante em uma época em que a diversidade ainda não era a palavra de ordem do dia em Hollywood. Enquanto homens de meia-idade como Walter White e Don Draper dominavam a cena, Orange celebrou as mulheres em suas várias formas, fossem elas negras, brancas, latinas, trans, héteros ou gays.
Por meio de suas personagens, OITNB contou histórias que raramente se veem retratadas nas telas, pontuando temas como racismo, violência sexual, abuso de drogas e, claro, as várias formas como as mulheres são afetadas pelas particularidades do sistema prisional americano, com todas as suas desigualdades e burocracias. Tudo isso em um pacote pontuado por doses de humor que ajudavam a tornar os dramas um pouco mais leves. A mistura deu certo, e a série cativou tanto o público quanto a crítica, o que renderia à Netflix três prêmios Emmy em 2014 - incluindo um de melhor atriz convidada em uma série de comédia para Uzo Aduba, a Crazy Eyes.
A fórmula se manteve consistente ao longo das temporadas seguintes - tanto que a produção foi renovada de uma vez só para mais três temporadas antes da estreia do quarto ano, em 2016. Enquanto isso, ela cresceu, também, em relevância social. O melhor exemplo disso talvez seja a morte de Poussey Washington (Samira Wiley) por um guarda da prisão de Litchfield, na quarta temporada. A trama ecoou dois notórios assassinatos de homens negros por policiais nos Estados Unidos, traçando ligações com movimentos como o Black Lives Matter, e provocou reações intensas dos fãs nas redes sociais.
As grandes repercussões que a série tinha o poder de provocar, porém, se perderam ao longo dos anos seguintes. A começar por razões dramatúrgicas: a decisão de limitar a quinta temporada (e seus treze episódios) às 72 horas da rebelião do presídio resultou em uma trama confusa e arrastada, que afugentou parte dos fãs.
Orange se tornou, ainda, vítima da grande oferta de séries no mercado. Se em 2013 era possível contar nas mãos as produções originais Netflix, hoje a plataforma tem centenas de produtos próprios - e isso que nem falamos da concorrência externa de emissoras como HBO e Fox. Com tantas opções de TV de qualidade disponíveis, acompanhar as temporadas longas e cheias de personagens mostrou-se um esforço muito grande para uma parcela do público.
A série se recuperou com uma sexta temporada tensa, e a sétima retoma o patamar de excelência dos primeiros anos, encerrando a atração da forma que ela merece. Com suas personagens complexas e suas histórias ricas, Orange Is the New Black definitivamente deixou sua marca na TV.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.