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A Divisão: Nova série do Globoplay parou tiroteio para ensaiar em morro no RJ

Erom Cordeiro e Silvio Guindane nos bastidores de A Divisão, série do Globoplay - Carlos Fofinho/Globoplay/Divulgação
Erom Cordeiro e Silvio Guindane nos bastidores de A Divisão, série do Globoplay Imagem: Carlos Fofinho/Globoplay/Divulgação

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

16/07/2019 11h48

A Divisão, nova série original do Globoplay, enfrentou um contratempo logo em seu primeiro dia de ensaios, em setembro de 2017: uma operação policial no morro São Carlos, no Rio de Janeiro. Isso, no entanto, não foi motivo para suspender os trabalhos - graças a José Junior, criador da série e fundador da ONG AfroReggae .

Com ampla experiência em mediação de conflitos em favelas, ele foi ao chefe da operação policial e ao responsável pela boca de fumo do morro para negociar a suspensão das hostilidades. "Sentei com os dois e falei 'olha só, preciso fazer o ensaio. Tem como segurar um pouco o tiroteio?' Isso é uma coisa do AfroReggae, é uma coisa que faço há 500 anos".

Por meio do braço audiovisual da ONG, José Junior é também produtor da série -- um thriller que retrata os bastidores da Divisão Antissequestro (DAS), uma força-tarefa policial criada para conter a onda de sequestros que aterrorizou o Rio de Janeiro nos anos 1990.

A ideia surgiu em 2011, quando ele apresentava o programa Conexões Urbanas, no Multishow, e entrevistou Marcos Reimão, ex-delegado da DAS. Em parceria com o diretor Vicente Amorim (Motorrad), ela tomou a forma da série, que estrela nesta sexta-feira com uma segunda temporada já gravada, e de um longa, previsto para chegar aos cinemas no início do ano que vem.

Realismo

Júnior e Amorim fizeram questão de calcar A Divisão na realidade, incluindo policiais, vítimas e ex-criminosos no processo do projeto. "Um momento muito importante pra mim foi quando a gente colocou o Marcos Reimão junto de uma pessoa que ele prendeu, o Polegar, que era chefe do tráfico", lembra Júnior.

O time de roteiristas da série também conta com um ex-policial, José Luiz Magalhães, que foi a inspiração para Santiago, personagem de Erom Cordeiro. Magalhães, aliás, é uma das poucas figuras reais a ser citada por Júnior e Amorim, que evitam falar os nomes daqueles que os inspiraram por conta de questões éticas.

O elenco da série, que também tem nomes como Silvio Guindane, Marcos Palmeira, Dalton Vigh, Natália Lage e Rafaella Mandelli, também passou por uma experiência de imersão - com direito inclusive a treinamentos na Cidade da Polícia, um complexo da Polícia Civil do RJ.

"Todos nós aprendemos a montar e desmontar arma, tivemos aula, demos tiro", diz Guindane, que vive o policial linha-dura Mendonça. "O fuzil se tornou uma extensão do meu corpo, senão no meio da cena ia ficar só um ator fingindo que estava dando tiro".

A ambientação da série também ajudou os atores. "Filmamos em locações às quais ninguém nunca teve acesso", conta Palmeira. Isso, também, foi um componente trazido pelo Afroreagge. "A gente se recusa a gravar na Tavares Bastos. Nada contra, mas é onde todas as novelas e todos os filmes são gravados. Para mim, é uma derrota", diz José Júnior.

Violência

A Divisão incomoda com as cenas cruas de violência - o que era a intenção desde o início, segundo o diretor Vicente Amorim.

"Quando a gente começou a filmar, eu tinha acabado de fazer um filme de terror [Motorrad] e ne dei conta que essa serie é muito mais próxima de um terror verdadeiro do que o filme que eu tinha feito. Você olha para o terror e sabe que aquilo é de fantasia, que aquilo não existe. A violência na série é para incomodar, porque a violência não pode ser normalizada. Isso foi muito consciente, isso nunca foi 'olha que legal, vamos dar uns tiros'".

Para o cineasta, a série traz uma questão muito clara: os fins, afinal, justificam os meios? "Não tem uma resposta fácil. Não é um filme de propaganda da polícia nem de demonização dos bandidos. A diferença entre bandidos e polícia é uma linha tênue. E isso é claro para a gente como é claro no mundo real. Essa pergunta da série é uma pergunta que se coloca com grande urgência no Brasil de hoje. Vale a pena? O que acontece quando você atravessa determinado limite?".

A primeira temporada de A Divisão será composta por cinco episódios de cerca de 40 minutos cada. O segundo ano da série ainda não tem data de estreia confirmada.