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Ator que acusou Franco Zeffirelli de assédio fala em "perdão" após morte do diretor

Franco Zeffirelli - Getty Images
Franco Zeffirelli Imagem: Getty Images

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

18/06/2019 17h41

Com a morte do diretor Franco Zeffirelli, dois homens que o acusaram de assédio sexual falaram novamente sobre o caso e como foram impactados pela notícia. Entre eles, o ator Johnathon Schaech, que declarou ao THR que agora consegue "perdoá-lo".

Schaech, hoje com 49 anos, foi uma das poucas vozes masculinas no movimento #MeToo, detalhando um encontro que teve com o italiano em 1993. Ele afirmou que o experiente diretor o assediou e invadiu seu quarto de hotel para tentar fazer sexo oral nele.

Já Justin Vetrano, 45, falou publicamente pela primeira vez sobre a acusação que fez. O seu caso ocorreu em 1991, quando tinha 18 anos. "Ele me atacou em uma noite e não consegui deixar meu quarto. Ele me violentou sexualmente de cinco a oito minutos. Eu estava completamente congelado e chocado, e não podia acreditar no que estava acontecendo".

"Eu sinto pena pela vida que Franco teve", declarou Schaech sobre o estupro que o diretor revelou ter sofrido quando criança. "Ele estava confuso por muito tempo. Havia uma parte venenosa dele que parecia precisar compartilhar sua dor. Isso fazia parte de sua arte."

Desde que revelou seu caso, Schaech tem ajudado vítimas de abuso sexual o e ele afirma que cinco homens relataram a ele experiências semelhantes que tiveram com Zeffirelli.

Tanto Schaech quanto Vetrano tentaram se comunicar com Zeffirelli antes da morte do cineasta, mas os filhos adotivos do diretor disseram que ele estava doente e que não poderia falar com eles.

Ambos disseram que a leitura da cobertura jornalística da morte de Zeffirelli foi difícil de aceitar. "Para ver como o mundo saúda o maestro que morreu e ignora o que ele fez, foi muito frustrante", afirmou Vetrano. "Meu momento com Franco Zeffirelli mudou a trajetória de toda a minha vida."

A carreira do diretor

Em uma carreira que se estendeu por cerca de 70 anos, Zeffirelli foi celebrado pelo público por seus filmes, peças de teatro e óperas.

Nascido como filho ilegítimo de uma designer de moda e de um comerciante de tecidos, ele viveu a morte da mãe aos seis anos e foi criado por uma tia. Na juventude, afirma que foi abusado por um padre. O garoto acabou sendo introduzido a Shakespeare, o que mudaria sua trajetória e inspiraria obras.

Zeffirelli estudou arte e arquitetura em Florença e integrou um grupo de teatro. Depois da guerra foi assistente de grandes diretores como Antonioni, De Sica, Rossellini e Visconti, com quem trabalhou em filmes como A Terra Treme (1948) e "Belíssima" (1951).

Zefirelli se iniciou no mundo do cinema justamente pelas mãos de Luchino Visconti, como assistente de direção em três de seus melhores filmes "A Terra Treme" (1948), "Belíssima" (1951) e "Sedução da Carne" (1954), onde confessa que nasceu sua paixão pela sétima arte.

"Luchino revelou-me o campo da criação, no palco e na tela. E ele me mostrou como conceber um projeto e dar-lhe uma estrutura para o ambiente cultural correspondente", revelou.

A partir dos anos 1950 encenou espetáculos como L'Italiana in Algeri de Rossini, e dirigiu estrelas como Maria Callas. Após La Bohème, de Puccini, Zeffirelli voltou a se dedicar ao cinema e fez A Megera Domada (1967) com Richard Burton e Elizabeth Taylor.

No ano seguinte fez Romeu e Julieta (1968) e foi indicado ao Oscar como melhor diretor e melhor filme e se destacou ao fato de usar dois adolescentes reais (Olívia Hussey e Leonard Whiting) para mostrar os amantes de Shakespeare. O longa venceu as estatuetas de melhor fotografia e melhor figurino.

Seus trabalhos seguintes foram Irmão Sol, Irmã Lua (1972), Jesus de Nazaré (1977) e O Campeão (1979), com John Voight. Na década de 1980, Zeffirelli voltou-se às óperas La Traviata (1982), pela qual foi indicado ao Oscar de melhor direção de arte e melhor figurino, e Otello (1986), ambas de Verdi e protagonizadas por Plácido Domingo.

Nos anos 1990, novamente se interessou por Shakespeare e fez sua versão de Hamlet (1990) com Mel Gibson e Glenn Close. O diretor se manteve na ativa já passados seus 90 anos, mas já vinha sofrendo com a saúde debilitada nos últimos tempos.