"3%" volta a falar de meritocracia em novo ano: "Nenhum processo seletivo é justo"
Primeira série brasileira da Netflix, "3%" retorna hoje para sua terceira temporada com uma espécie de volta às origens: Michele (Bianca Comparato), Joana (Vaneza Oliveira), Rafael (Rodolfo Valente) e companhia se veem às voltas com um novo processo seletivo no Brasil pós-apocalíptico, resgatando a discussão sobre meritocracia que foi o ponto central dos primeiros episódios da produção.
Não vamos dar spoiler, mas basta dizer que a Concha, a comunidade idealizada por Michele ao fim do segundo ano da série, não é a grande utopia com que ela e tantos outros sonhavam. Uma espécie de terceira via frente à miséria do Continente e ao controle do Maralto, o local para onde vão os 3% do título, a Concha é posta à prova logo nos minutos iniciais dos novos episódios, o que desencadeia uma série de acontecimentos impactantes.
Agora numa posição de liderança, Michele será desafiada - e obrigada a confrontar antigas opiniões sobre seus mentores, como o falecido Ezequiel, personagem de João Miguel. "Tudo o que ela criticou no Ezequiel, no Velho da Causa... ela tem que tomar atitudes muito parecidas com a deles, e tem um aprendizado muito profundo", adianta ao UOL Bianca Comparato.
Para a atriz, a temporada reflete uma série de questões contemporâneas. "É um espelho bem interessante para o que a gente está vivendo hoje, com a questão da migração, das fronteiras, de você ter que, entre aspas, proteger seu país, aceitar ou expulsar pessoas", diz. "Tudo isso entra como tema essa temporada. A conclusão, para mim, é que nenhum processo de seleção é justo. Não tem como, porque ele é feito por humanos, que têm suas opiniões, suas próprias éticas. A partir do momento em que você tem que fazer uma escolha, você está sendo injusta. A meritocracia é injusta; não tem como ela ser justa."
Para Rodolfo Valente, o Rafael, o grande tema da terceira temporada será o confronto entre o novo e o velho. "Acho que entra a discussão do embate entre as novas ideias, as novas tentativas e as velhas formas de ver o mundo. No fundo, é esse o embate que a Michele e os moradores da Concha têm".
"É um mundo pós-apocalíptico em que já não tem mais água e já não tem mais comida", nota Vaneza Oliveira, a Joana. "Então como ficam esses discursos de mudança e de um ideal? Quanto essa utopia se valida em uma situação estranha? Eu acho que a vida é cíclica, a gente sempre vai passar por problemas muito parecidos. A maneira como a gente lida com eles mostra como a gente evoluiu."
Bruno Fagundes, introduzido na segunda temporada como André, o irmão de Michele, acredita que a discussão do novo ano sobre quem delimita as regras de uma nova sociedade é relevante para o Brasil de hoje. "É uma questão ética muito complexa. Não é apenas certo e errado. Não é sobre juízo de valor, é sobre você refletir sobre uma situação. Acho que isso é necessário e importante para a gente fazer nesse momento que a gente vive no Brasil. Entender como uma ação rebate em outras pessoas, qual o limite de cada um dentro da nossa sociedade e enfim, como a gente pode ser atuante."
Reunidos de novo
Depois de uma segunda temporada que espalhou seus protagonistas, agora eles se veem obrigados a dividir, mais uma vez, o mesmo espaço - o que renderá muita história.
"Tem esse resgate e é até meio nostálgico", diz Bianca. "Um vai amadurecendo o outro. Isso acontece muito com a Michele e a Joana. Os personagens vão aprender em conjunto. Eles se veem em posições muito diferentes, mas juntos."
Cada um, claro, terá seus dilemas próprios. Enquanto Michele se vê às voltas com as agruras de liderar, Joana surge como uma força opositora. "Ela se sente traída, magoada, mas ao mesmo tempo ela está na Concha e vai ter de lidar com pessoas que ela não confia e tentar se manter como líder da Causa", conta Vaneza.
Rafael, por sua vez, enfrentará seu próprio passado. "Ele começa a temporada de uma maneira bem diferente. Ele passa por uma transformação me todos os sentidos, emocionalmente. Ele é cobrado pelos erros do passado", explica Rodolfo.
Já André, um personagem cercado por mistérios, ganhará mais espaço, segundo Bruno. "Vamos saber os porquês da forma de ele agir como ele age, a história pregressa dele, as motivações", diz, adiantando que o relacionamento dele com a irmã Michele seguirá decisivo: "Eles são muito ligados. A força motriz da Michele é o André, e vice-versa. Obviamente, isso vai se manter."
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