Mano Brown cita arrependimento ao lembrar de crítica ao PT: "Doeu em mim"
Mano Brown disse ter se arrependido do discurso contra o PT durante um ato da campanha de Fernando Haddad às vésperas do segundo turno da eleição presidencial, vencida por Jair Bolsonaro. Em entrevista, o rapper disse que Lula está preso injustamente, mas se sentiu "sozinho" pela esquerda quando foi atacado pela direita por uma foto com o ex-presidente.
"Eu tive vários sentimentos em relação àquilo. Até de arrependimento, não vou mentir. Lógico que ali foi uma navalha na carne, doeu em mim também. Eu não sou do PT. Eu sou da ideia. Não sou filiado ao PT, não recebo nada do PT, entende? Nunca quis e não é para isso que eu fiz nada. O rap não está aí para viver do dinheiro do governo, seja lá quem for, nem do PT, nem que fosse do Che Guevara, nem que fosse Malcolm X presidente. Nosso movimento não pertence à direita nem à esquerda", disse Brown.
No ato, realizado em 23 de outubro no Rio de Janeiro, Brown falou: "Falar bem do PT para a torcida do PT é fácil, tem que falar para uma multidão que precisa ser conquistada, senão vamos cair no abismo". Ele foi vaiado pela plateia, formada por militantes do Partido dos Trabalhadores.
Na entrevista, concedida ao jornalista Ademir Quintino, o rapper do Racionais MC's relembrou o "terror" das campanhas de Bolsonaro e Haddad por votos: "Vi amigos e amigas que tiveram crise de pânico às vésperas daquela eleição. Como um candidato a presidente pode gerar tanto pânico em pessoas assim? O que é isso, o que está acontecendo? Tinha uma campanha de terror dos dois lados. Quem assustava mais venceria a eleição".
O rapper falou sobre a foto com Lula, que gerou ódio da direita e indiferença da esquerda: "Aquela foto que tirei com o Lula e o Chico Buarque de Hollanda naquele jogo de futebol em São Bernardo repercutiu muito. Quando a direita me atacou em peso na minha rede social por causa daquela foto e a esquerda se calou, falei: 'Opa, estou sozinho'. Falei: 'Nossa, não sabia que eu era tão minoria assim'", ironizou.
Sobre Lula, Brown criticou a prisão, mas admitiu falar sem provas, apenas como simpatizante: "Acho [que ele foi preso de forma injustiçada]. Não tenho provas, não sou investigador, não sou advogado, nem tenho procuração e autoridade para falar sobre isso. Falo como simpatizante da ideia. Pode soar leviano, inclusive, como muitas vezes sou leviano fazendo comentário de coração aberto. Eu não sabia que era visto como um monstro. Eu falo como cidadão, mas o que eu falo soa como uma monstruosidade".
O músico ainda falou sobre o resultado eleitoral e mostrou preocupação com a Reforma da Previdência proposta pelo governo Bolsonaro.
"Tem que respeitar, é uma eleição. Assim se elege um presidente, com votos. Elegeram o outro presidente. Eleição acabou, bola para frente. Continuo sendo brasileiro, não sou alemão, não vou sabotar meu país, não vou cavar para cair, não vou pôr o pé na frente para ver cair, mesmo porque a navalha vai cortar para o lado mais fraco. Estamos passando por um processo político delicadíssimo, porque esse lance da reforma pode sobrar para os velhinhos e aí vai ser injustiça em cima de injustiça", opinou.
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