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Brie Larson estreia bem na direção com o excêntrico "Loja de Unicórnios"

Samuel L. Jackson e Brie Larson em cena de "Loja de Unicórnios" - Dvulgação/IMDb
Samuel L. Jackson e Brie Larson em cena de "Loja de Unicórnios" Imagem: Dvulgação/IMDb

Caio Coletti

Colaboração para o UOL

06/04/2019 04h00

"A coisa mais madura que você pode fazer é falhar nas coisas com as quais realmente se importa". A frase é de um dos personagens centrais de "Loja de Unicórnios", excêntrica comédia lançada ontem pela Netflix, que marca uma boa estreia na direção para a também estrela Brie Larson, que dominou as manchetes no último mês graças ao seu papel em "Capitã Marvel".

Atrás das câmeras, ela mostra que tem personalidade. "Loja de Unicórnios" tem visuais marcantes, envolvidos em um clima de sonho e fantasia, para combinar com a história da criativa Kit (vivida pela própria Larson), que tenta se contentar com um trabalho burocrático após ser expulsa da faculdade de artes.

É quando ela recebe um convite para visitar A Loja, um misterioso estabelecimento comandado pelo homem conhecido apenas como O Vendedor (Samuel L. Jackson). Lá, ele promete a Kit que vai realizar o seu sonho de infância e dar a ela um unicórnio -- mas só se ela se mostrar digna deste místico bichinho de estimação.

Uma comédia afiada

Além do faro visual, outra coisa que Larson traz ao filme é um timing cômico preciso. Isso talvez surpreenda quem a conhece apenas como a Capitã Marvel, ou ainda por sua performance vencedora do Oscar no drama "O Quarto de Jack", mas a verdade é que Larson tem um passado em comédia, mais marcantemente em séries como "United States of Tara" e filmes como "Descompensada".

A experiência ajuda, porque "Loja de Unicórnios" prefere tirar sua comédia de interações simples entre personagens, ao invés de caricaturas ou grandes piadas conceituais. Larson sabe quando fazer o corte, ou por quanto tempo estender o silêncio, para que este tipo de humor funcione.

"Loja de Unicórnios" tem ótimos momentos cômicos no escritório onde Kit trabalha, especialmente aqueles envolvendo seu chefe, Gary (o ótimo Hamish Linklater). O filme captura muito bem o absurdo do dia a dia de uma empresa, extrapolando a situação em diálogos espertos -- "Quais são seus objetivos para o futuro?", pergunta Gary em cena marcante; "Eu gostaria de não ser um desapontamento total", responde Kit.

A descontraída química entre Kit e Virgil (Mamoudou Athie), um rapaz que a ajuda a construir o estábulo para o seu unicórnio, também rende bons momentos. Eles vivem um romance crível, sem nada da "forçação de barra" das comédias românticas convencionais, criando uma conexão e um respeito mútuo que contrasta com os elementos mais fantasiosos do filme.

Brie Larson em cena de "Loja de Unicórnios" - Divulgação/IMDb - Divulgação/IMDb
Brie Larson em cena de "Loja de Unicórnios"
Imagem: Divulgação/IMDb

Um drama desajeitado

Onde "Loja de Unicórnios" peca é na construção do seu drama. A roteirista Samantha McIntyre ("Married") escreveu um filme sobre uma mulher buscando o verdadeiro significado do amadurecimento, mas nem sempre parece acreditar na maturidade intelectual do seu espectador.

Ambicioso como é, o filme ainda sente a necessidade de "mastigar" os seus temas para o público. É fácil identificar estes momentos, porque eles soam falsos, desajeitados -- um deles acontece na cena em que Kit reafirma para O Vendedor que amava unicórnios quando criança, sendo que já vimos flashbacks revelando este elemento do passado da personagem.

"Loja de Unicórnios" é muito melhor quando planta sementes narrativas e as colhe depois, sem a necessidade de nos lembrar que elas estavam lá. Um momento que ressoa, por exemplo, é quando Kit confessa, em meio a um exercício na organização beneficente dos pais, que queria um unicórnio na infância para sentir o "amor eterno, incondicional" que achou nunca ter recebido deles.

No fim das contas, o filme não derrapa nos momentos que realmente importam, que constroem o arco emocional de Kit e sua relação com outros personagens. "Loja de Unicórnios" não é o melhor que Brie Larson pode fazer como diretora, o que só torna mais empolgante a sua decisão de se aventurar por trás das câmeras.