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"Hanna", nova série da Amazon, resgata trama de subestimado filme de 2011

Cena de "Hanna", nova série da Amazon - Divulgação/IMDb
Cena de "Hanna", nova série da Amazon Imagem: Divulgação/IMDb

Caio Coletti

Colaboração para o UOL

03/04/2019 04h00

Em uma cena do começo do episódio piloto de "Hanna", série lançada pela Amazon na última quinta-feira, Erik (Joel Kinnaman) corre pela floresta com um bebê nos braços, escapando da perseguição dos agentes secretos que acabaram de matar brutalmente sua namorada, Johanna (Joanna Kulig). A ação é acompanhada por uma canção de ninar suave na trilha sonora.

A mistura de violência, adrenalina e clima de conto de fadas é tirada direto do filme que inspirou "Hanna". Lançado em 2011, o longa é um ótimo -- e excêntrico -- filme de ação que ficou meio esquecido em meio as carreiras brilhantes de suas estrelas, Saoirse Ronan e Cate Blanchett. A série da Amazon tenta resgatar a potência da sua história.

Assim como ocorre no filme, o bebê salvo por Erik na série cresce para se tornar Hanna (Esme Creed-Miles). Criada por ele na floresta e treinada em técnicas de combate, caça e espionagem, ela é uma pequena assassina letal. O piloto mostra como o mundo recluso construído por Erik para a jovem começa a desmoronar quando a inescrupulosa Marissa (Mireille Enos) descobre a localização dos dois.

O roteirista David Farr, que escreveu a versão cinematográfica de "Hanna", é também o criador da série da Amazon. Com mais espaço para desenvolver a história (a primeira temporada contará com oito episódios), ele cria um produto mais sombrio, e povoado por personagens com os quais nos importamos mais. O começo desta nova produção da Amazon é certamente promissor.

Pôster do filme "Hanna", de 2011 - Divulgação/IMDb - Divulgação/IMDb
Pôster do filme "Hanna", de 2011
Imagem: Divulgação/IMDb

Origens cinematográficas

Onde a série perde em relação a sua contraparte cinematográfica, no entanto, é na ousadia visual. "Hanna", o filme, contava com o magistral Joe Wright na direção. O nome do britânico deve ser familiar para quem acompanha de perto o Oscar, já que é ele o responsável por títulos premiados como "Orgulho e Preconceito", "Desejo e Reparação" e "O Destino de Uma Nação".

Nas mãos de Wright, "Hanna" ganhou intenso simbolismo -- em uma cena. a Marissa de Cate Blanchett emerge de uma enorme boca de lobo na montanha russa abandonada onde trava seu confronto com a personagem título, interpretada por Saoirse Ronan. Um toque especial para uma vilã que, na analogia do filme com os contos de fadas, pode ser vista como o Lobo Mau para a Chapeuzinho Vermelho de Hanna.

O filme chegou a ser comparado com obras de Stanley Kubrick na época do seu lançamento, especialmente graças ao personagem Isaacs (Tom Hollander). Alegremente sádico e com um gosto para roupas nada convencional, o vilão foi lido como uma referência ao Alex de "Laranja Mecânica", clássico de 1971 dirigido por Kubrick.

Wright também injetou seu estilo excêntrico nas cenas de ação, fazendo com que "Hanna" escapasse do marasmo hollywoodiano. Durante o momento em que a protagonista foge de uma prisão lotada de agentes secretos, por exemplo, Wright escolheu brincar com luzes e sombras, além de uma trilha sonora eletrônica composta pelo duo The Chemical Brothers, para prender a nossa atenção.

Nada disso está em "Hanna", a série. Embora competentemente dirigida, ela troca ousadia estética por contundência narrativa em seus oito episódios. O efeito depende de cada um -- para quem se encantou com a história do filme mais do que com seu visual, é uma grata surpresa. De qualquer forma, vale a pena conferir as duas versões e decidir por si mesmo.