Gregório Duvivier: "Bolsonaro apoia, é conivente e condecora grupos de extermínio"
Três spoilers da terceira temporada de "Greg News", o late-night show apresentado por Gregório Duvivier na HBO que mistura humor ácido e política.
- O cenário terá mais elementos brasileiros, destacando cartões-postais como o Masp, o Copan e os Arcos da Lapa.
- Serão 30 episódios, nove a mais do que as duas primeiras levas.
- O presidente Jair Bolsonaro estará na linha frente das críticas.
A estreia da nova temporada, que, a julgar pela rapidez do noticiário, terá assunto até os roteiristas se aposentarem, estreia hoje em novo horário, agora às 23h. O primeiro episódio discutirá a violência por meio da ideologia de grupos de extermínio e a flexibilização do porte de armas de fogo no país, uma das bandeiras do presidente.
A metralhadora giratória de Gregório Duvivier está ligada. E não há limite de cartuchos para queimar. "O Bolsonaro está envolvido em uma lógica miliciana que acha que o estado deve servir aos grupos de extermínio. Ele diz que grupos de extermínios são bem-vindos. Ele apoia, é conivente e condecora esse tipo de pessoa", dispara ele em entrevista ao UOL.
Nova temporada
"A gente vai começar falando sobre a relação do Bolsonaro com grupos de extermínio. Existem grupos organizados no Brasil, que são escritórios do crime. Há uma explosão de grupos de matadores que agem através de chantagem e extorsão. São muitos assassinatos. E eles têm apoio e conivência do estado, com participação de agentes públicos, desde policiais a deputados e senadores. Inclusive o grupo está na presidência.
O Jair Bolsonaro é mais que um militar, porque militar tem respeito à hierarquia e é patriota. Ele não me parece nada disso. O que tem de patriota nele? Que relação esse grupo que está no poder tem com o Brasil? Parecem pessoas que estão sempre indo a Orlando e cuja referência cultural é um filme tosco americano. Bolsonaro idolatra Ulstra, um militar considerado culpado pela Justiça brasileira por tortura. Um criminoso. Ou seja, ele não defende militar, ele defende um bandido.
Ele admite militares que usam estado para corromper a lei e fazer o que não é permitido. Bolsonaro não é um estadista. Ele está envolvido em uma lógica miliciana que acha que o estado deve servir aos grupos de extermínio. Ele diz que grupos de extermínios são bem-vindos. Ele apoia, é conivente e condecora esse tipo de pessoa. Isso não pode ser visto como cortina de fumaça. Esse é talvez o tema mais gritante e criminoso que temos hoje".
Governo Jair Bolsonaro
"O governo Bolsonaro é um manancial de piadas, um canavial de chistes. Uma espécie de vulcão de galhofa. Falar sobre ele é realmente inevitável. Muito fácil não rir deles. A dificuldade, na verdade, é esta: conseguir parar de rir e se preocupar com essa enxurrada de lama".
O governo é uma barragem rompida de lama, que envolve uma escória da humanidade que crê em criacionismo, uma gente fanática, uma reunião do que há de mais desprezível na espécie humana.
"É até difícil escolher o que é mais importante para falar. O que é cortina de fumaça? Será que a Damares [Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos] é cortina de fumaça para a aprovação da reforma da previdência? Ou a reforma da previdência é cortina de fumaça para uma política de extermínio da população jovem negra? Ou o extermínio é outra cortina?".
Velocidade do noticiário
"A gente não tem a pretensão de cobrir tudo no "Greg News". Muito pelo contrário. As pessoas dizem: "Ah, mas não vai falar do golden shower? Todo mundo só fala disso". Sim, todo mundo só fala disso. Então o que vamos falar? A internet já cobre os trending topics muito bem em termos de humor. A gente não vem pra competir com o Twitter em seu humor rápido. Estamos ali para falar o que não está sendo dito.
Também não queremos fazer um resumo dos temas da semana. Não é isso. O programa é semanal e sempre vamos falar de um grande tema que a gente acredita que não está sendo tratado com o tamanho que merece. Vamos fugir das notícias de primeira página e tentar aprofundar outras notícias".
Fim da polarização
"Não sei se teremos campo para isso em breve. Eu esperava que isso acontecesse no segundo turno das eleições, mas infelizmente não aconteceu. Pelo contrário. Eu acho que acabar com a polarização é uma tarefa para a gente. Para o humor, para o jornalismo, para a cultura de modo geral. A cultura que é tão menosprezada por esse governo. Acho que tem que criar uma consciência democrática nesse país que antes talvez nunca tenha havido.
A gente não é um país com essa consciência. Temos instituições democráticas, mas não temos uma cultura democrática. E isso, para mim, é um problema de autoestima. Pela situação que a gente vive, o brasileiro está acostumado a se calar, a ser intolerante, a passar pano para bandido. A gente não se acha digno da democracia e direitos humanos. A gente vê os políticos, os bandidos, e não vê na nossa população semelhantes. A pessoa vê a condição do país que a gente vive e logo acha que não merece direitos humanos. Acha que não merece nada. Nem saneamento nem nada".
Quando se fala em patriotismo, se fala que é uma pauta de direita. Mas eu não acho que seja. Ser patriota é defender o Brasil. E como ter um presidente que parece odiar o Brasil? Ele vai aos EUA encontrar com o Trump e fala mal dos imigrantes brasileiros. Precisamos resgatar nossa autoestima.
Futuro do jornalismo
"Acredito muito nisso. E o "Greg News" é uma aposta nisso. É um programa de humor, mas também de jornalismo. Nos Estados Unidos, os jovens têm como principal fonte de informação o humor. O humor filtra e torna a informação acessível. Acho que é uma tarefa do jornalismo tornar a informação mais palpável, de mais fácil assimilação, mais entretenimento.
Acho que o que vai salvar o jornalismo é ele aprender a ter uma relação mais direta com o público. E o leitor e espectador precisam entender que precisam pagar pela notícia. A gente meio que se acostumou com música e filme baixados de graça, mas Spotify e Netflix mudaram esse pensamento. Pagar R$ 20 por mês para ouvir quantas músicas e ver quantos filmes quiser? Não é tão caro. Vale o custo. Acho que seria por aí com o jornalismo".
Programa de esquerda
"Gosto, sim, de usar [esse termo]. Acho que existe hoje uma criminalização da esquerda no Brasil. E eu tenho o maior orgulho de ser de esquerda. Sobretudo quando a esquerda se alinha aos direitos humanos, à ideia de igualdade, de diversidade sexual. Isso é o que mais me interessa. Não me importo nem um pouco em ser visto como uma pessoa de esquerda.
Acho que existe uma esquerda mais institucional, mais ligada aos governos, mais acadêmica, que talvez tenha perdido um pouco essa relação. E tem situações muito bizarras da esquerda. Existe uma parte da esquerda que admira ditaduras, Venezuela. Isso é um absurdo. Para mim, é criminoso. Essas pessoas têm mais é que apanhar mesmo. Isso não é governo democrático. É uma ilusão. Pra mim, esquerda é outra coisa. Só acredito na esquerda democrática.
O que me incomoda é quando as pessoas vêm e dizem que nenhum governo socialista deu certo. Mas você já foi à Suécia, à Noruega? Tudo que criticam na esquerda do Brasil implantaram lá. Direitos humanos, diversidade sexual, cotas, incentivo social, educação e saúde de graça. Você paga imposto pra caramba, mas as coisas funcionam. Muitos preferem ignorar isso e atacar governos ditatoriais, que na minha opinião não são de esquerda. São distorções. Você não pode falar de liberalismo e citar o Haiti. Não é bom exemplo.
Acho que há muitas esquerdas possíveis. E a criminalização dela é muito ruim para todo mundo".
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