"Esse 'cabrón' vai ganhar tudo no Oscar", diz polonês indicado sobre Cuarón
O diretor polonês Pawel Pawlikowski, indicado ao Oscar de direção e filme estrangeiro por "Guerra Fria", sabe que suas chances são baixas perto do amigo mexicano Alfonso Cuarón, seu concorrente nas mesmas categorias por conta de "Roma".
"Esse 'cabrón' vai ganhar tudo", disse Pawlikowski, apontando para o colega ao seu lado, num evento da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em Los Angeles. "A expectativa na Polônia é meio de Olimpíadas, mas já avisei para não esperarem nada."
O polonês ganhou um Oscar de filme estrangeiro por "Ida" (2014) e lembrou de como foi voltar ao país com a estatueta dourada. "O país ficou dividido, era como partida de futebol, ainda que ninguém tenha visto de fato o filme", disse. "Depois que voltei com o Oscar, teve peregrinação para tocá-lo."
Já Cuarón, que também tem uma estatueta por "Gravidade" (2013), criticou seu país e foi só elogios à atriz principal de "Roma", Yalitza Aparicio, indicada ao Oscar. Ela tem sido alvo de comentários racistas por celebridades e desconhecidos em seu país por ter ganhado atenção internacional sem ser atriz profissional.
Aparicio vive a empregada doméstica Cleo, que mora com uma família de classe média e cuida dos quatros filhos do casal. A história é baseada na vida de Cuarón e se passa no bairro La Roma, na Cidade do México, nos anos 1970.
"É a primeira vez que uma mulher indígena é representada num filme 'mainstream' [de grande alcance, no país]. Yalitza tem sido uma influência para as pessoas, é incrivelmente esperta e sabe da importância do personagem", disse Cuarón, acrescentando que o país é racista e tem sérios problemas de classes.
"O filme virou uma plataforma para organizações de empregadas domésticas pedirem legislação."
PERDIDO COM AMADORES
O diretor, cujo "Roma" concorre em de categorias, contou que "ficou um pouco perdido" nos ensaios com os atores, já que a maioria era amadores. Mas a equipe criou um jogo com o elenco e todos passavam boa parte do tempo reunidos na casa da família usada de locação.
"A gente dava instruções, eles se chamavam pelos nomes dos personagens e assim foram surgindo dinâmicas. Eu dava instruções específicas aos atores, de forma confidencial, mas muitas vezes eram informações contraditórias", disse. "Então eu plantava o caos e colhia os resultados. Às vezes não funcionava, era demais."
A atriz profissional Marina de Tavira, que faz a matriarca da família Sofía, teve problemas em seguir esse processo no início, enquanto Yalitza Aparicio tirou de letra. "Foi mágico. Vimos Yalitza construir seu próprio personagem, dar as nuances necessárias e costurar tudo de maneira muito sutil", disse Cuarón.
A cena em que Aparicio dá à luz no hospital foi filmada sem ela saber que o bebê nasceria morto. "Ela estava animada com a cena, achava que teria um bebê de verdade ali, vivo", contou. "Filmamos duas vezes só. Na segunda vez, quando ela já sabia o desfecho, sua performance foi inacreditável. Foi o testamento de como ela é uma grande atriz."
Cuarón é indicado também ao Oscar de roteiro original. Ele comentou que levou apenas duas semanas para escrevê-lo, embora o processo de pensar na história tenha sido muito mais longo.
"Queria passar para o papel minhas memórias sem contaminação nenhuma", disse. "Decidi fazer descrições bem longas. Quebrei outras regras do roteiro também. Por exemplo, descrevi cheiros e sons. Eram essências que eu queria poder depois imprimir no filme."
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