"Você": A série viciante que vai te deixar assustado com os clichês românticos
Na virada de 2018 para 2019, as praias e piscinas encontraram uma concorrência forte na forma de "Você", a viciante série que chegou à Netflix brasileira no último dia 26 e dominou as redes sociais. Se você ainda não assistiu à produção, provavelmente conhece alguém que já a devorou - e amou. A repercussão avassaladora não é gratuita: com um punhado de reviravoltas, a série conta com uma trama envolvente que tenta subverter, assustadoramente, vários clichês das comédias românticas.
"You", no original em inglês, é contada pela perspectiva de Joe Goldberg (Penn Badgley, o Dan de "Gossip Girl"), que conduz a história em forma de narração. Na teoria, ele é um príncipe encantado: bonito, educado e exímio conhecedor de literatura. No momento em que ele põe os olhos sobre Guinevere Beck (Elizabeth Lail, de "Once Upon a Time"), descobrimos que ele é um homem perigoso, capaz de imaginar que uma completa estranha fez um pagamento com o cartão de crédito só para que ele descobrisse seu nome.
Obcecado por Beck (ela prefere ser chamada pelo sobrenome), Joe começa a acompanhar todos os seus passos, virtual e literalmente, na tentativa de dar início a um relacionamento. No processo, todos aqueles que cercam a jovem aspirante a escritora, das amigas endinheiradas ao ficante, se tornam uma ameaça para ele.
É óbvio que nada disso vai acabar bem. E a trama ágil de "Você" engata uma reviravolta na outra, quase sem respiros. O texto é afiado, mas peca algumas vezes por subestimar a inteligência do espectador para fazer a história andar. É difícil comprar a ideia de que uma pessoa viciadíssima em redes sociais não colocaria senha no celular, ou que alguém transaria na frente da janela de um apartamento térreo em plena Nova York sem uma mísera cortina na frente.
Mas a série supera essas falhas com o fascínio exercido por seus protagonistas. Penn Badgley cria um Joe que ao mesmo tempo é assustador no privado e charmoso em público, como tantos homens abusivos da vida real; já Elizabeth Lail é cativante como Beck, uma jovem que não é apenas uma simples vítima: ela é multifacetada, com falhas, sonhos e dúvidas.
A história de "Você" se desenrola em um terreno pantanoso, especialmente frente à discussão em torno do tratamento dado às personagens femininas e às violências sofridas por elas. Mas a produção, adaptada do livro homônimo de Caroline Kepnes por Sera Gamble ("The Magicians") e Greg Berlanti ("Riverdale"), tem consciência disso. Por trás de cada ação encantadora de Joe, seus pensamentos são apresentados em uma narração que mostra toda a sua soberba: ele se enxerga como um herói, o homem que vai salvar Beck, livrá-la de todas as influências negativas e finalmente fazê-la ter a vida que deveria.
É uma crítica ácida aos "caras legais" que se julgam desafortunados no amor, mas mostram sua verdadeira face quando contrariados - e também aos clichês do amor romântico que nos acostumamos a ver nas telas. Os grandes gestos de afeição, aqui, mascaram propósitos muito mais sinistros. A série ainda dispara um comentário social, bem menos sutil, sobre a superexposição da vida pessoal nas redes sociais e como elas podem nos deixar vulneráveis.
Assustadora e impossível de parar de ver, "Você" é uma grata surpresa. E a boa notícia é que vem mais por aí: cancelada pelo canal Lifetime, que a exibiu nos Estados Unidos, a série foi resgatada pela Netflix e renovada para uma segunda temporada.
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