Topo

"Tinta Bruta" e mais 10 títulos do cinema LGBTQ+ brasileiro que valem a pena

Cena do filme "Tinta Bruta", premiado no Teddy Award, em Berlim - Divulgação
Cena do filme "Tinta Bruta", premiado no Teddy Award, em Berlim Imagem: Divulgação

Caio Coletti

Colaboração para o UOL

05/12/2018 14h00

Pedro (Shico Menegat) ganha dinheiro fazendo apresentações eróticas transmitidas online pela sua webcam, nas quais se pinta com tinta neon para atiçar os espectadores. Mas o seu ganha-pão começa a ser ameaçado quando outro garoto usa o mesmo método em suas próprias performances.

Ao mesmo tempo, a irmã de Pedro, com quem ele mora, avisa que está se mudando da cidade, e ele enfrenta as complicações judiciais de uma denúncia por agressão. A crise que se instala ao redor de Pedro é retratada em "Tinta Bruta", filme de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon que estreia nesta quinta-feira (5) nos cinemas.

"Tinta Bruta" é mais uma abordagem instigante da temática LGBTQ+ no cinema brasileiro, que tem trazido estes personagens e contado estas histórias com mais frequência nos últimos anos.

Não que as produções nacionais não tocassem na questão LGBTQ+ antes, como já fizeram "Madame Satã" (2002) e "Carandiru" (2003), entre outras. Mas, agora, as lentes dos cineastas brasileiros estão mais voltadas para o dia a dia trivial destes personagens, e especialmente para aqueles de classe baixa e média das grandes cidades.

Estas obras são retratos de uma geração que trata o sexo com naturalidade e fluidez, das suas angústias, seus dramas e seu humor. Abaixo, selecionamos dez filmes dos últimos cinco anos para entender este movimento:

"Tatuagem" (2013)

Embora se passe durante a ditadura militar, "Tatuagem" também é parte da recente onda de filmes LGBTQ+ do cinema brasileiro. Na trama, um jovem do exército (Jesuíta Barbosa, em performance ousada que o impulsionou à fama) se apaixona pelo líder de uma trupe de teatro com tons anarquistas que vive desafiando a ditadura (Irandhir Santos). O filme, primeira ficção dirigida por Hilton Lacerda, retrata a realidade trivial, burocrática, da censura artística nesta época da história do Brasil, enquanto mostra sem pudores o intenso e sensual relacionamento entre os dois protagonistas. Disponível no iTunes.

"Doce Amianto" (2013)

Trabalho do coletivo artístico cearense Alumbramento, este filme passeia entre realidade e fantasia para contar a história da personagem-título, a travesti Amianto (Deynne Augusto). Com cores fortes e diálogo declamado, como se os personagens estivessem em uma peça de época ou suas falas fossem escritas por William Shakespeare, o filme ainda mostra as conversas entre Amianto e o espírito de Blanche (Uirá dos Reis), que a aconselha a superar os desastres amorosos que compõem sua vida na noite cearense. Disponível no iTunes e no Google Play.

"Hoje eu Quero Voltar Sozinho" (2014)

A partir do sucesso do curta-metragem "Eu Não Quero Voltar Sozinho", de 2010, Daniel Ribeiro expandiu a narrativa sobre a paixão entre dois adolescentes, um deles cego, em uma escola de classe média. O formato mais longo serve para elaborar melhor a atração entre eles, os conflitos que o romance causa, e as descobertas de cada um sobre sua própria identidade sexual. O filme foi escolhido para representar o Brasil na corrida pelo Oscar de melhor filme estrangeiro em 2015, mas não chegou à fase final. Disponível na Netflix, no TeleCine Play, no iTunes e no Google Play.

"Praia do Futuro" (2014)

Um dos maiores astros do cinema nacional, Wagner Moura encarou em "Praia do Futuro" o papel de um salva-vidas que, após não conseguir salvar um turista do afogamento, parte com o namorado da vítima até a Alemanha, deixando para trás a família no Brasil. O filme de Karim Ainouz não tem medo de expor o corpo de seus protagonistas, sua sensualidade, como parte da história. Mesmo dividido em vários capítulos e segmentos bem distintos, "Praia do Futuro" encontra coesão na coragem de contar uma história LGBTQ+ sem pudores.

"Beira-Mar" (2015)

O longa anterior de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon (de "Tinta Bruta") também lidava com personagens LGBTQ+, nascendo de uma experiência pessoal dos dois. Quando se conheceram, já adultos, Matzembacher e Reolon descobriram que a história de sua infância e adolescência no sul do Brasil eram bem similares. Embora os cineastas nunca tenham se conhecido (como Martin e Tomaz, protagonistas do filme) na juventude, os personagens são inspirados em suas vivências. Disponível na Netflix e no TeleCine Play.

"Mãe Só Há Uma" (2016)

A cineasta Anna Muylaert engatou "Que Horas Ela Volta?" neste filme parcialmente inspirado no famoso caso de Pedrinho, garoto que foi roubado na maternidade e cresceu com uma família que não era dele. Pierre (Naomi Nero) descobre que o mesmo aconteceu com ele, justamente no turbilhão da adolescência, ao mesmo tempo em que experimenta com sua sexualidade e sua identidade de gênero. A mistura das duas jornadas, uma tão incomum e outra tão típica, cria um filme que toca o espectador de forma única. Disponível no iTunes e no Google Play.

"Corpo Elétrico" (2017)

O filme de Marcelo Caetano talvez seja o que melhor define o atual momento do cinema LGBTQ+ brasileiro. Sua trama é composta por momentos do dia a dia dos personagens, que expõem seus anseios mais profundos, sexuais e emocionais, de forma ousada. O protagonista é Elias (Kelner Macêdo), que se aproxima do colega de trabalho Wellington (Lucas Andrade) e, através dele, conhece várias figuras LGBTQ+ da periferia de São Paulo, expandindo os seus horizontes de forma irreversível. Disponível no iTunes e no Google Play.

"As Boas Maneiras" (2017)

Este surpreendente amálgama de drama social, filme de terror e musical é fundado no romance entre Clara (Isabel Zuaa) e Ana (Marjorie Estiano), que começa como uma relação patroa-empregada e, aos poucos, se torna muito mais do que isso. As reviravoltas da trama são muitas, mas os diretores Marco Dutra e Juliana Rojas, além das duas atrizes, mantêm a paixão das personagens como um dos elementos que equilibram o filme em meio às suas referências cinematográficas únicas.

"Paraíso Perdido" (2018)

O longa de Monique Gardenberg traz o cantor Erasmo Carlos na pele de José, líder de um clã de artistas que se apresenta na casa noturna do título. É neste mundo que entra o policial civil Odair (Lee Taylor), contratado para proteger o astro do show, Ímã (Jaloo), por quem ele se vê cada vez mais fascinado (e, talvez, apaixonado). Com muita habilidade, a história aborda homofobia, tanto a internalizada quanto a expressada, agressiva; mas também temas sociais e familiares que serão reconhecidos como universais pelos espectadores. Disponível na Netflix, no iTunes e no Google Play.

"Alguma Coisa Assim" (2018)

Esmir Filho dirigiu o curta-metragem "Alguma Coisa Assim", sobre dois amigos comparecendo a uma balada gay na noite paulistana, a fim de que um deles explorasse sua sexualidade, em 2006. Em 2013 e 2016, o diretor revisitou os personagens, usando os mesmos atores, para mostrar como eles desenvolveram sua amizade e suas próprias vidas. Acompanhamos Caio (André Antunes) e Mari (Caroline Abras) por uma história de amadurecimento curiosa e marcantemente atual. Disponível no Google Play.