O designer brasileiro que ajudou a criar a identidade do mundo de Harry Potter
Entre feitiços, varinhas e magia, um brasileiro ajudou a criar boa parte do que conhecemos hoje como o universo fantástico de Harry Potter. Eduardo Lima entrou para a equipe da produção em 2002 e não saiu desde então. "Quando o último 'Animais Fantásticos' for lançado, vou completar 25 anos trabalhando com o Harry Potter", comemora o designer em entrevista por telefone ao UOL.
O trabalho do mineiro de Caxambu pode ser visto desde "A Câmara Secreta" (2002), quando estagiou com a também designer Miraphora Mina, agora sua sócia. Eduardo define como "mágica" o que realmente aconteceu. Aquelas histórias de uma amiga que indica outra e que, por sorte, estava trabalhando em um filme "de um tal bruxinho órfão".
"Sabe quando você conhece aquela pessoa que é sua alma gêmea no trabalho? Ela me ofereceu uma semana de estágio e nunca saí. Fui estagiário no segundo filme, logo depois virei assistente e no quarto começamos a dividir o departamento. Até o 'Enigma do Príncipe' éramos só nós dois. Agora, como a gente está mais velho e lento, precisamos de uns assistentes novinhos", brinca Eduardo.
Caso você tenha adorado algum objeto especial visto tanto nos filmes do "Harry Potter" quanto nos de "Animais Fantásticos", pode ter certeza que Eduardo e sua equipe estiveram envolvidos. E olha que este é um processo detalhista, longo e muito perfeccionista. "Quando a gente chega no filme, a primeira coisa é ler o roteiro e dividi-lo em duas listas: uma com os objetos principais [os quais serão usados pelos atores] e outra com todas as coisas feitas para decorar um ambiente", conta.
Para se ter uma ideia, em uma simples cena de uma aula de Poções do professor Severus Snape (interpretado por Alan Rickman na franquia), é obrigação do departamento de arte etiquetar todas as garrafas, cada uma seguindo a caracterização necessária. Caso semelhante é com a adaptação do banco de Gringotts, no qual Eduardo planejou desde o piso até todos os objetos nas mesas dos goblins.
"A gente começa a trabalhar seis meses antes de filmar. No primeiro mês, você lê o roteiro, que muda três, quatro vezes. Tem roteiro que muda mais de 20 vezes. E depois você começa a trabalhar com o calendário das filmagens. Mas ao mesmo tempo você está trabalhando em uma cena que será filmada dois meses depois... Então dependendo do tamanho do cenário, é uma loucura."
O objeto preferido foi o que deu mais trabalho
Eduardo brinca que o que ele mais gosta de ter feito foi o que mais deu trabalho. O Profeta Diário, os jornais usados pelos bruxos cujas fotos ficavam se mexendo, é a menina dos olhos do brasileiro, mas cada exemplar do periódico foi um processo longo e demorado -- com muitas "fake news".
"A gente recebe o roteiro apenas com a notícia principal, o resto é tudo feito por mim, então as notícias e as propagandas são todas inventadas. E o processo é super trabalhoso. Você faz todo o jornal no computador, aí você mostra para o diretor, ele aprova, você manda imprimir, corta a página do tamanho certo, lava cada página com uma mistura de café para dar uma cor bacana, depois acrescenta uma letra 'P' dourada... um processo demoradíssimo", explica o designer.
Já sobre os filmes, o que guarda um lugar especial no coração de Eduardo é "O Prisioneiro de Azkaban" (2004), dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón e o terceiro da série. "Este foi o que cimentou a minha participação na saga. E eu acho que é um dos melhores filmes da série, acho que o Cuarón mudou completamente o estilo do filme. Eu gosto de falar que os latinos transformaram o filme", brinca o designer.
Liberdade criativa e "Animais Fantásticos" no Brasil
O brasileiro analisa que os livros de J.K. Rowling acabaram ajudando seu trabalho por não ter muitos detalhes sobre os objetos usados pelos protagonistas. Um exemplo é o Mapa do Maroto, no qual a autora apenas descreve sua função e não como ele aparenta ser. Isso acabou facilitando na liberdade criativa da equipe de arte.
"Todos os departamentos de 'Harry Potter' e dos 'Animais Fantásticos' têm a liberdade para começar a fazer as ideias, o conceito. Em 'Crimes de Grindelwald', tinha o livro que [Nicolas] Flamel abre. Aquilo foi a gente que iniciou, fez o conceito, mostrou para o [o diretor] David Yates e ele aprovou. Durante 'Harry Potter', Rowling nunca esteve muito presente, porque estava ocupada terminando os livros, mas toda vez ela ao estúdio ficava maravilhada."
"Então, sem saber, meio que estabelecemos a linguagem gráfica do mundo bruxo. Temos muita liberdade de criar, claro que o diretor tem a palavra final, mas trabalhar em filme é bacana porque é uma colaboração", completa Eduardo.
Sobre o próximo filme da franquia, cujos rumores indicam que vai se passar no Rio de Janeiro, o designer garante que não sabe se realmente será uma aventura "tropical", mas está ansioso com a ideia de adaptar o mundo bruxo no Brasil. "Ela falou recentemente que quer muito mostrar o mundo bruxo em outros lugares que não só nos EUA e na Europa, então estou torcendo, imagina só a minha felicidade de criar, estou enlouquecido já", ri Eduardo.
"A diferença agora é que o mundo dos trouxas em 'Animais Fantásticos' é muito mais interessante do que no Harry Potter. Porque no Harry Potter era um mundo atual, e agora vamos para os anos 20 em Paris e Nova York, que para as pessoas que são criativas é uma era muito linda de recriar. Então estamos super contentes que o mundo trouxa é tão interessante quando o mundo mágico."
Eduardo Lima estará na Comic-Con Experience para falar sobre sua experiência no universo fantástico de "Harry Potter" e divulgar o novo livro de "Animais Fantáticos". O designer receberá os fãs no painel da Editora Rocco no dia 7 de dezembro, às 20h.
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